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Série brasileira Irmandade estreia na Netflix
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Série brasileira Irmandade estreia na Netflix

Produção da O2 Filmes, Irmandade estreia amanhã na Netflix e joga luz na ascensão de facção criminosa num Brasil marcado por violências
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NARUNA Costa vive a advogada Cristina
 (Foto: Aline Arruda/Netflix)
Foto: Aline Arruda/Netflix NARUNA Costa vive a advogada Cristina

O ano é 1994. Entre a comoção pela morte de Ayrton Senna e as celebrações da conquista do tetra na Copa do Mundo, uma facção criminosa se vê às voltas com questões éticas e econômicas entre as ruas e o presídio. Assim se desenrola Irmandade, nova série brasileira do serviço de streaming Netflix. A produção, dividida em oito episódios, estreia amanhã, 25, e traz elenco encabeçado por Seu Jorge - que vive o personagem Edson, líder da facção - e pela atriz Naruna Costa - Cristina, irmã de Edson e que acaba se tornando advogada do crime.

"Dentro daquele universo onde tudo está por um fio, Edson tenta manter um mínimo de decoro no convívio do dia-a-dia, porque se ele perder o controle das coisas, aí realmente vira uma bagunça", avalia Seu Jorge, destacando a busca do seu personagem por estabelecer um código ético entre os detentos.

Produção da O2 com direção de Pedro Morelli, a série mobilizou equipe grandiosa, com mais de 500 figurantes e 280 na equipe de execução, tendo mais de 40 locações, entre elas uma ala desativada de uma penitenciária em funcionamento em Curitiba. "Foi um trabalho intenso todo de acabamento que foi dado dentro do presídio. Edson é um personagem muito intenso, tinha que preservar a energia e a tensão o tempo inteiro", remonta Seu Jorge.

O fio condutor da trama, porém, não é o chefe da facção. A narrativa é centrada na transformação de Cristina, uma advogada honesta que tenta preservar a vida desse irmão que está preso e acaba sendo forçada pela polícia a virar informante. Ao se infiltrar na Irmandade, numa missão arriscada e perigosa, ela começa a questionar suas próprias noções de Justiça.

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"Quando a gente foi falar sobre facções criminosas, tinha algumas abordagens dramatúrgicas sobre esse tema, a mais esperada e menos bacana seria através do ponto de vista de policial investigando uma facção. Foi a primeira que eu quis evitar", afirma o diretor. Nesse sentido, a opção foi por ter uma mulher como protagonista, justamente pelo papel que essas visitantes tinham nos presídios, de levar informações, numa era pré-celular.

Para Naruna, a complexidade dessa personagem reside na corda-bamba entre a noção do que é correto. "A Cristina traz essa humanidade sobre o que somos. Esses seres tentando acertar e errando para caramba", analisa a atriz. No desenrolar da trama, a protagonista acaba sendo o grande elo entre todos os personagens, a exemplo do romance que desenvolve com o detento Ivan (Lee Taylor) e da amizade que nutre com a primeira-dama do crime, a Darlene, vivida por Hermila Guedes. "As leis não servem exatamente para todo mundo, o que serve para mim, às vezes, não serve para você. Nessa história, qualquer decisão em momento de crise pode salvar ou não a vida de alguém", completa.

No desenvolvimento da estrutura da facção nos anos 1990, a história traz à tona questões que são centrais no Brasil de hoje. "Por conta do maus-tratos e das torturas, começaram a surgir grupos de presos que estavam se unindo para se defender. Reunidos, eles eram mais fortes, aí surgiram as facções e hoje estamos como estamos", pondera Pedro. "O que tem de mais interessante nesse contexto todo é que essa opressão do estado via sistema carcerário se mostra uma estratégia fracassada, ela criou essa reação".

*Jornalista viajou a convite da Netflix

Bate Pronto com Naruna Costa

O POVO - Como a Cristina se desconstrói de advogada íntegra para uma integrante de facção criminosa?

Naruna Costa - A concretude da ideia do que é o correto no mundo vai se quebrando na personagem e eu acho isso a coisa mais bonita na trajetória da Cristina, porque a ideia de justiça, de lei, vai se desfazendo. Ela descobre que nada pode ser igual porque a sociedade brasileira é desigual, essas realidades vão apresentando pra ela outras formas de ver o mundo. Essa é a coisa mais bonita e mais dolorida da história dela, essa ambiguidade, esse dilema constante de tomar decisões que prejudiquem menos, pensando numa ideia do que pode ser o certo ou não.

O POVO - De que modo a questão de raça se torna uma tônica em Irmandade?

Naruna - O Brasil é um país racista e é difícil para a população assumir isso. É uma realidade, não é um problema da população negra, que a população negra tenha que resolver, é um problema que todos têm que resolver. Dos governantes até a base. Existe um medo de falar sobre alguns assuntos, mexer nas feridas, mas elas estão aí. Por isso tentamos não reproduzir os estereótipos do que é essa violência no País. Não cair em furadas que ao invés de debater, reforça pensamento. Foi algo muito importante que me motivou estar dentro da série.

O POVO - Que semelhanças você encontra entre a trajetória dela e a sua?

Naruna - Tem semelhanças entre a história da Cristina e a minha, no sentido de ser essa pessoa sobrevivente, e foi muito interessante ouvir também a história do Seu Jorge, que é uma referência para a população negra. Foi bom saber da infância dele, porque eu achei tão parecida com a minha, mesmo sendo de outro lugar, de outra geração. Histórias que se cruzam tanto em dilemas e questões que são próprias da estrutura do País. Isso foi mágico. Parecia o mesmo quintal em geração diferentes.

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