Se uma pessoa do Brasil quiser ter acesso aos catálogos de cinco entre os principais serviços de streaming audiovisual - Amazon Prime Video, GloboPlay, HBO Go, Looke e Netflix -, ela vai precisar desembolsar por mês R$ 105, 50. Isso levando em conta os planos mais baratos dos serviços que possuem mais de uma opção e também considerando passados todos os períodos de testes gratuitos que as plataformas oferecem para atrair clientela. É uma hipótese impensável para o bolso brasileiro, ainda mais em um cenário no qual o mercado aponta para o surgimento de mais concorrência e para a aposta na segmentação do serviço, fazendo com que a escolha do consumidor por um ou mais streamings precise passar por avaliações e comparações ainda mais criteriosas.
Os streamings de filmes e séries foram popularizados no Brasil pela Netflix, empresa que, apesar de não ter o costume de revelar dados, confirmou em setembro ao colunista Ricardo Feltrin, do UOL, que já conta com mais de 10 milhões de assinantes no País - estima-se que mundialmente sejam mais de 150 milhões. Apesar da grandeza, o "reinado" da gigante vem sendo ameaçado nos últimos meses. Em setembro, a Amazon trouxe ao Brasil o pacote que une o serviço de streaming a outros serviços - como frete grátis para entregas e Amazon Music - por um valor que é menos da metade do cobrado pela Netflix. Já neste mês, dois novos serviços começaram os trabalhos: no Brasil, chegou a Apple TV também por um preço menor que da Netflix, enquanto a Disney finalmente estreou em territórios limitados, como os EUA, e com previsão de chegar ao País em novembro de 2020.
Antes mesmo de todo esse desenrolar, se destacou perante os olhos do público a questão de contratos relacionados aos direitos de distribuição de certas obras. A popular Friends, por exemplo, esteve sob domínio Netflix, mas a partir do ano que vem passará nos EUA para a HBO Max, plataforma de streaming ainda inédita do grupo Warner Media que reunirá produções da Warner Bros., HBO, CNN, TNT, Cartoon Network e outros. Já em 2017, a Disney anunciou que o acordo de distribuição de suas produções com a Netflix iria acabar - e isso incluiria não só filmes dela, mas da Marvel, da LucasFilm, da Pixar. Agora, os direitos estão na própria plataforma da gigante. Enquanto isso, na América Latina, os direitos dos conteúdos Disney passaram, desde o início de outubro, para a Amazon - isso enquanto a Disney não chegar na região.
Todos esses movimentos de "bastidores" revelam a preocupação das plataformas em se destacar da concorrência. A chegada do pacote Amazon foi, em si, uma jogada chamativa, assim como Apple TV e da Disney já estrearem com produções originais de peso - como The Morning Show, com Jennifer Aniston, e The Mandalorian, ligado ao universo de Star Wars, respectivamente. Em resposta, a Netflix vem investindo cada vez mais em filmes e séries originais e em firmar parcerias com figuras como Barack e Michelle Obama, Shonda Rhimes e estúdios como Nickelodeon, tendo anunciado até que investirá R$ 350 milhões em produções brasileiras para seu catálogo.
Comparação entre streamings
SERVIÇO
PREÇO
DISPONÍVEL
NO BRASIL
NO CATÁLOGO
Amazon Prime Video
R$ 9,90/mês, com 30 dias de teste gratuito; o valor inclui pacote com frete grátis em entregas Amazon, Prime Music, Prime Reading (e-books) e Twitch Prime (jogos eletrônicos)
Streaming desde 2016, pacote completo desde setembro de 2019
Séries originais como Fleabag e Marvelous Mrs Maisel; filmes originais como Manchester À Beira-Mar e Paterson
Apple TV
R$ 9,90/mês, com sete dias de teste gratuito; na compra de iPhone, iPad, Mac, Apple TV ou iPod o cliente tem direito a um ano grátis do streaming Desde novembro de 2019 Séries originais como The Morning Show, See, Dickinson e Servant, com promessa de novos títulos a cada mês
Disney
Preço no brasil não
divulgado, mas custa US$ 6,99/mês nos EUA
Previsto para
novembro de 2020
Acervo da Disney, filmes Marvel, saga Star Wars e séries novas desses universos, como The Mandalorian e She-Hulk
Globoplay
R$ 21,90/mês, com sete dias de teste gratuito
Desde novembro de 2015
Novelas, séries e produções originais da Globo e canais por assinatura; séries originais como Sessão de Terapia, Assédio e Shippados; e séries exclusivas como The Good Doctor, The Handmaid's Tale e Killing Eve
HBO Go
R$ 34,90/mês, com sete dias de teste gratuito; o serviço é gratuito para assinantes de canais HBO em pacotes de TV paga específicos
Desde dezembro de 2017
Séries originais HBO como Game Of Thrones, Big Little Lies, Euphoria e Six Feet Under; filmes como Aquaman, Matrix, Nasce Uma Estrela e Me Chame Pelo Seu Nome
Looke
R$16,90/mês no plano mais barato, com 7 dias de teste gratuito; há também a modalidade TVOD, com aluguel e compra de filmes específicos Desde abril de 2015
Séries como Luther e Misfits; Filmes como Quem Quer Ser Um Milionário?, O Segredo dos Seus Olhos e Tempos Modernos
Netflix
R$ 21,90/mês no plano
mais barato, com 30 dias
de teste gratuito
Desde 2011
Séries como Stranger Things, La Casa de Papel e Dark; filmes como Roma, Com Amor, Simon e O Irlandês
PlayPlus
R$ 12,90/mês no plano mais barato, com 14 dias de teste gratuito
Desde agosto de 2018 Novelas, séries e produções originais da RecordTV, como o reality A Fazenda e os clássicos Festivais da Canção; conteúdos da ESPN, FishTV, SuperToons e PlayKids
O que dizem os consumidores
Alysson Matos, estudante
de administração, 29 anos
Assinante da Netflix e do Globoplay, o estudante também aproveita o Prime Video pela conta de uma irmã, mas não se vê adepto do serviço da Amazon. "O principal critério é determinar o quanto o serviço é necessário e importante pra você. Depois outro critério seria avaliar a questão do valor em relação aos benefícios e o quanto você pode usufruir deles, pois de nada adiantaria pagar por um serviço que não coubesse na sua rotina", avalia. "O primeiro streaming que assinei foi o Spotify (serviço de música). Depois, veio Netflix, mais por influência das minhas irmãs, mas que também cabia nos meus momentos de descanso e lazer", especifica. No caso da Globoplay, o estudante destaca a liberdade de "fazer" a própria grade. "Meu critério foi o fato de eu gostar muito de novelas e não poder acompanhar nos horários que são transmitidas, então vi que valeria a pena pagar a assinatura e poder vê-las nos meus horários livres", explica. As atenções do estudante, agora, se voltam para um serviço ainda inédito. "Ainda não tenho interesse em assinar outro, mas confesso que irei avaliar o Disney
em relação a preços e ofertas", adianta.
Melanie Mota,
estudante, 30 anos
Assinante, hoje, da Netflix, Prime Video e GloboPlay, Melanie considera a primeira delas a favorita. "Tanto por qualidade de conteúdo como por ser a melhor plataforma que conheço", destaca. Navegabilidade e usabilidade são pontos que a estudante leva em conta por causa de experiências anteriores marcadas por problemas técnicos. "Assinei HBO Go por conta da série Game of Thrones. Nos domingos de transmissão ao vivo o streaming não funcionava, travava independente se você estivesse no aplicativo ou no computador. Só conseguia assistir o episódio depois de uma hora da transmissão e a plataforma era pesada e cheia de bugs", reclama. Para os serviços de streaming, reside no cancelamento um ônus e um bônus. Para assinar e para cancelar um streaming, a promessa é por rapidez e simplicidade, sem a dor de cabeça comum aos serviços tradicionais. Isso atrai, mas a empresa não oferece a facilidade esperando que o usuário chegue a este ponto. Para tanto, precisa entregar um serviço que agrade. Não foi o caso com Melanie, que cancelou o HBO Go. As atenções da estudante, agora, vão para a chegada do Disney . "Já mostrou que vai ter um catálogo incrível", justifica.
Beatriz Moraes,
psicóloga, 24 anos
"Recentemente cancelei a Netflix por não encontrar mais, no catálogo, produções que me interessassem. Senti que diante da busca por atingir um público cada vez maior e variado a empresa optou pela quantidade em detrimento da qualidade", considera Beatriz. Hoje, a psicóloga assina a Amazon Prime Video e também tem acesso, pelo pacote de TV por assinatura, ao Telecine Play. Para ela, a opção por um streaming passa por analisar o catálogo e o preço. "Acredito que uma plataforma precisa investir em um bom catálogo, prezar pela qualidade de suas produções originais (mantendo uma certa coerência e identidade) e cobrar um preço justo. Essa é a ideia que todas as plataformas de serviço sob demanda vendem, porém é um equilíbrio complicado de se atingir. É essencial não esquecer da facilidade que o público tem para acessar filmes e séries fora desses serviços", reflete. A psicóloga indica que outro critério a ser levado em conta é o que a assinatura traz a mais. "Como é o caso da Amazon Prime, que além de oferecer acesso ao Amazon Music também oferece descontos exclusivos no site e compra com frete grátis e expresso", ressalta. Das novidades, tende a ter interesse na Apple TV , "mas preciso ponderar em relação ao gasto total com tantas plataformas".
Maria Nilza da Silva Lima, dona de casa, 71 anos
No cotidiano de Maria Nilza, o único serviço de streaming consumido é a Netflix. A família, inclusive, assinava TV a cabo anteriormente, mas o cancelamento foi inevitável após a assinatura da principal plataforma de streaming do Brasil. O movimento vai ao encontro do registrado em estudos e dados relativos à realidade de consumo deste mercado no País. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações, em dados de outubro, a maior operadora de TV por assinatura, Claro, possuía 8 milhões de assinantes. O número é menor do que o que a Netflix confirmou ter em setembro, 10 milhões. Para Nilza, o que destaca o serviço da plataforma é a liberdade de não estar presa à grade de um canal clássico. "Assisto filmes de ação, aventura, românticos. Tenho a opção e a comodidade de ver em casa, na hora que eu quero, os filmes que eu mesma escolho", ressalta. Além de assistir aos filmes e séries da Netflix na TV, a dona de casa também aprendeu a poder usufruir da plataforma em outras telas, como o celular e o tablet, via aplicativo.
"Tem na Netflix?"
Dois sites se destacam oferecendo serviços de busca e recomendação para ajudar a otimizar a experiência dos usuários nas plataformas.
Filmmelier
O serviço brasileiro - cujo nome vem da junção entre "filme" e "sommelier", termos francês que indica um especialista em bebidas - foi lançado em 2017. Para além do serviço de busca, se destaca pelas listas de recomendações. Há desde listas que elencam os lançamentos da semana em todas as plataformas a outras temáticas, como Para morrer de medo ou Filmes de porradaria. Na página de cada filme, consta em qual(is) serviço(s) ele está disponível, qual o seu perfil e, ainda, um texto que resume os motivos para assisti-lo.
LINK: www.filmmelier.com/pt/br
JustWatch
O site alemão funciona como um banco de dados internacional que está disponível em quase 40 países, incluindo o Brasil. O principal ramo de atuação do JustWatch é o mecanismo de pesquisa. O usuário pode pesquisar por um filme ou série na caixa de pesquisa. Há possibilidade de fazer buscas no site com filtros, restringindo a procura de determinada obra a determinado serviço de streaming. Estão listados Netflix, Prime Video, Looke, TelecinepLay, Globoplay, Mubi, Apple TV e ainda outros.
LINK: www.justwatch.com/br/
Tipos de vídeo sob demanda
SVOD (Subscription Video on Demand) - por assinatura, ou seja, o consumidor paga uma determinada quantia por mês e tem acesso a um catálogo específico
TVOD (Transactional Video on Demand) - por transação, ou seja, o consumidor paga apenas pela obra que deseja ter acesso por determinado período, seja por aluguel ou compra