Pelas calçadas do bairro mais antigo da Capital, a um quarteirão da avenida Leste Oeste, um muro verde-musgo discreto esconde um terreno comprido que chama atenção pelos sons que saem das diversas salas que lá existem. Ali localiza-se a Casa de Vovó Dedé, na rua Jerônimo de Albuquerque, número 445, na Barra do Ceará, que desde 1993 já foi escola convencional, escola de música e atualmente oferece diversos cursos de arte e educação que vão desde informática, audiovisual, ilustração até canto, balé, preparação para o Enem e inglês.
Fundado pelo advogado e publicitário Mansueto Barbosa, a Casa de Vovó Dedé funcionou até o ano de 2002 como centro educacional, auxiliando no processo de aceleração da alfabetização de crianças que não conseguiam vagas nas escolas da região. Em 2002, após o falecimento de Mansueto, sua esposa, Regina Barbosa, continuou na direção da Casa, que passou a contar com aulas de música no contraturno da escola. Naquela época, a lista de instrumentos musicais contava com oficinas de piano, flauta, violoncelo, violão e bateria.
Em meados de 2012, Wagner Barbosa, um dos quatro filhos de Regina e Mansueto, presenciou um dos muitos recitais promovidos pela Casa e, assim como qualquer visitante, se surpreendeu com o que ouvia. "Eu me assustei com a dimensão que tinha se tornado o negócio, com as crianças e a qualidade do trabalho delas. Eu olhava para aquelas crianças que tinha conhecido ainda pequenas, com uns cinco anos, e agora com 15 anos, e pensava no que seria deles. Algumas vão seguir com a música, mas a maioria não. Então a questão era: o que a Casa podia fazer a mais para ser uma porta de saída deles para o mercado de trabalho? Foi aí que a gente começou a criar novas coisas ligadas a arte", relembra Wagner.
Das aulas de música clássica, a Casa de Vovó Dedé atualmente disponibiliza espaço de leitura, reforço escolar, aulas de ilustração, mixagem de vídeo e som, teoria musical, fotografia e dança, além de promover diversos eventos abertos à comunidade. Entre um corredor e outro, é no pátio que se ouve de tudo que é feito pelos alunos da Casa. A árvore de Natal improvisada nas tantas plantas que lá sombreiam traz a sensação de lar para as mais de trinta mil crianças e jovens que já passaram pela Casa de Vovó Dedé nas quase três décadas de instituição. Dedé, a avó que dá o nome ao local, foi uma mãe de coração de Regina, e a inspirou no cuidado e no acolhimento de todos na Casa.
Chamada por todos de "tia", Regina Barbosa recebeu, na última sexta-feira, 29, a Medalha da Abolição em reconhecimento por seu trabalho com as crianças e jovens na Casa de Vovó Dedé. "Nós entendemos que o que a gente faz aqui é apenas a nossa obrigação, esse reconhecimento, para mamãe, é uma conquista da Casa. A gente não acha que o que fazemos aqui seja algo extraordinário, se cada um pudesse dar oportunidades para as crianças o mundo seria outro. Só é admissível fazer alguma coisa que efetivamente vá transformar a vida", conta Wagner. Diretor-executivo da Casa de Vovó Dedé, Wagner Barbosa mantém a instituição por meio do edital Mecenas do Ceará, com o apoio da Enel, além do auxílio da Lei Rouanet e de doações de outras empresas.