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O Ceará em destaque na Mostra de Cinema de Tiradentes
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

O Ceará em destaque na Mostra de Cinema de Tiradentes

Sob a temática "A imaginação como potência", festival mineiro selecionou cinco longas cearenses, reforçando o bom momento do cinema do Estado
Tipo Notícia
Sertânia tem produção cearense, mas é assinado pelo diretor baiano Geraldo Sarno. Na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes, disputou a mostra paralela Olhos Livres (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Sertânia tem produção cearense, mas é assinado pelo diretor baiano Geraldo Sarno. Na 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes, disputou a mostra paralela Olhos Livres

Há 10 anos, o longa Estrada Para Ythaca, realizado por Guto Parente, Pedro Diógenes, e Luiz e Ricardo Pretti, vencia o Troféu Barroco na 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes. "Foi um momento paradigmático para Tiradentes porque foi a consolidação da mostra Aurora, de uma ideia de geração, da Alumbramento (coletivo realizador do longa) e de, digamos assim, ganho de espaço e musculatura do novo cinema cearense", destrincha Francis Vogner dos Reis, um dos membros da equipe curatorial que, em 2020, escolheu dois filmes do Estado para a mesma mostra outrora vencida pelo quarteto cearense: Cabeça de Nêgo, de Déo Cardoso, e Canto dos Ossos, de Jorge Polo e Petrus de Bairros. Além deles, participam ainda da 23ª edição da Mostra de Tiradentes os longas Sertânia, produção cearense dirigida pelo baiano Geraldo Sarno, na paralela Mostra Olhos Livres; Pacarrete, de Allan Deberton, na não-competitiva Mostra Praça; e, na mostra Homenagem, dedicada a Antônio e Camila Pitanga, Os Escravos de Jó, nova produção assinada por Rosemberg Cariry que abre o festival na sexta, 24.

A presença forte em 2020 reforça e alarga o momento positivo da produção audiovisual cearense que começou em janeiro 2019 - também em Tiradentes, diga-se, quando a 22ª edição do evento recebeu, em mostras competitivas e exibições especiais, três curtas e três longas do Estado. "A gente não tem cearense nos curtas nesse ano, e isso talvez reflita alguma mudança dentro da própria produção, talvez tenha diminuído o número, mas ao mesmo tempo o Ceará aparece na Mostra Aurora com esses dois títulos que são muito fortes e muito diferentes entre si", estabelece Francis Vogner. "Cabeça de Nêgo é uma narrativa ficcional sobre uma escola ocupada, os impasses e os conflitos que têm dentro e no entorno dela. É um filme muito forte, catártico e está pensando nosso momento histórico de maneira muito frontal a partir dessa questão e da violência institucional e também policial", adianta o curador. O filme de Déo Cardoso é protagonizado por Saulo Chuvisco (Lucas Limeira), estudante introvertido que, inspirado pelo contato com um livro dos Panteras Negras, começa um movimento após reagir a um insulto racista em sala e, em consequência, ser expulso. Negando-se a deixar a escola, passa a tentar inspirar professores e estudantes para uma luta por mudanças na estrutura do local.

Já Canto do Ossos propõe uma "estilização mais radical", conforme Francis, focando menos em uma narrativa tradicional e mais em atmosfera e performance. "Ele flerta com o cinema de horror, mas ao mesmo tempo tem a radicalidade performática das melhores coisas que a gente vê nas artes visuais. Ou seja, é um filme que está com um pé dentro do cinema mesmo e da fabulação cinematográfica, mas também de uma performatividade do corpo e da imagem", aprofunda o curador. Na trama, monstros e mistérios se misturam em meio às relações entre diversos personagens. "É também, curiosamente, num universo escolar, mas é menos uma crônica e mais uma coisa que lida com forças mais eróticas, mais obscuras", compara.

Os Escravos de Jó, na leitura de Francis, "não traz uma marca distintiva de cinema cearense", mas se relaciona com as características comuns à obra de Rosemberg Cariry. "É uma espécie de investigação, a partir do mundo contemporâneo, do barroco. Tem muito a ver com muita coisa que ele fez - um filme de muitos personagens, 'paineis' de grandes questões, mas realizado em Minas", afirma. O longa é produzido por Bárbara Cariry, que também assina a produção de Sertânia. Já a presença de Pacarrete, que será exibido em praça pública em Tiradentes, marca o seguimento de uma carreira exitosa de conexão do longa de Allan Deberton com o público, depois de passar por festivais como os de Xangai, Gramado e o Cine Ceará. 

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