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Trio elétrico de Dodô e Osmar celebra 70 anos
Vida & Arte

Trio elétrico de Dodô e Osmar celebra 70 anos

No ano em que se comemoram os 70 anos do trio elétrico de Dodô e Osmar, o Vida&Arte abre suas páginas para relembrar histórias e momentos marcantes de quem viveu e segue à frente dessa magia que é o Carnaval
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Dodô (atrás), Armandinho, Osmar e Vinicius de Moraes (sentado)
 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Dodô (atrás), Armandinho, Osmar e Vinicius de Moraes (sentado)

Se o Carnaval é o que é hoje, boa parte dessa ebulição provocada e disseminada País afora se deve à família Macêdo e duas de suas invencionices: o trio elétrico e a guitarra baiana. "Eu fico vendo tudo e é um fenômeno maravilhoso! O trio já serviu até pra fazer missa, já foi palco de políticos, de tudo... Mas quando você sobe e toca para os quatro cantos, e anda e se locomove, é uma coisa fenomenal", garante Armandinho, 66. Filho de Osmar Macêdo (1923-1997), um dos criadores do trio elétrico ao lado do amigo Dodô - apelido de Adolfo Antônio do Nascimento (1920-1978) - o guitarrista acompanha as mudanças ocorridas após a criação de seu pai com o mesmo ânimo da época de quando cresceu no meio da folia baiana, literalmente.

"Eu me orgulho tanto disso, de saber que meu pai começou essa história", ratifica ele em relação à trajetória do trio elétrico, que tem seu início no ano de 1950, mais precisamente na famosa praça Castro Alves, enaltecida em versos por Caetano Veloso em Um Frevo Novo. Muito antes de todo o aparato tecnológico, logístico e, claro, financeiro que atualmente alinhava a maioria dos eventos e seus circuitos pelo Brasil, foi a bordo de um simples e pequeno, porém colorido e potente Ford 1929 - chamado carinhosamente de "Fobica" - que, enfim, uma atmosfera diferente de Carnaval começou a ser traçada em terras soteropolitanas.

"O trio elétrico, ele deu a identidade ao Carnaval da Bahia. Recife tem a identidade dele, o Rio de Janeiro também tem e ele (o trio) deu identidade à Bahia. Mas o que é o trio elétrico? E, antes de tudo, o que você acha que veio primeiro: a música, o carrinho ou o instrumento?", indaga Aroldo Macêdo, 61. Também músico, filho de Osmar, irmão de Armandinho e um dos representantes desse legado em forma de folia, Aroldo mantém acesas diversas lembranças referentes ao trio elétrico que, agora no ano de 2020, completa nada menos do que sete décadas.

"Pergunto isso porque, muitas vezes, as pessoas associam o trio somente àquele carrinho. Mas o mais importante e, talvez, uma das coisas mais importantes na criação é a música, depois vem o instrumento e, por fim, o carrinho", justifica. Para Aroldo, a música "possibilita que o instrumento eletrifique pra mais gente ouvir. E isso estamos falando dos anos 1940, 1950, né... Então, a música, ela já era impactante, vibrante, e foi Osmar que desenvolveu essa musicalidade que, mesmo acusticamente, fazia as pessoas dançarem. Já era bem diferente do que era naquela época", descreve sobre o som que percutia da guitarra amplificada ("pau elétrico") pelos alto-falantes do trio.

Amigo da família Macêdo, o baiano Ary Dias, 67, era baterista de MPB quando conheceu Armandinho e companhia. "A gente nasceu praticamente no mesmo bairro e eu sempre soube do Seu Osmar, do trio, conhecia o Armando... Eu nunca tinha pensado em tocar em trio. Tinha uma banda instrumental em Salvador, aí conheci o Armando na TV e, numa determinada situação, uns amigos em comum resolveram fazer um show, ele estava lá e me chamaram pra tocar bateria. Foi em 1975, 1976 o primeiro contato direto", relembra o músico, que também integra a formação do grupo A Cor do Som (junto com Armandinho) e, no circuito da Cidade Alta, colocou sua bateria em cima do famoso trio dos amigos Dodô e Osmar.

"Até esse momento, o trio não tinha bateria em cima. Existiam na lateral as percussões (caixa, surdo, etc.), o trio era vazado. Em cima, ficava o Armando, o Betinho, o Aroldo, Seu Osmar e Dodô. Ensaiávamos na casa de Seu Osmar, no Bonfim, e aí começamos a ensaiar: a coisa foi rendendo, foi dando certo e saímos. Foi a primeira incursão de bateria no trio". E qual a sensação, Ary? "Ah, é uma sensação que não dá pra descrever! Eu sei que, quando a gente entrou na Castro Alves com aquele som de bateria, o povo ficou olhando impressionado, foi uma coisa maravilhosa! O povo não entendia nada, todo assustado, não sabia de onde vinha aquele som... (risos)", disse.

Na companhia do trio de Armandinho, Dodô e Osmar, Ary Dias permaneceu por dez anos, chegando a gravar cerca de cinco discos. Quanto ao repertório, "a gente tocava frevo, de início era instrumental, e o Moraes Moreira foi o primeiro cantor de trio elétrico. Tocávamos Vassourinhas, tocávamos um frevo baiano misturado que, pra quem não conhece, até acha que é igual ao pernambucano. Mas não é", explica. "Meu pai tinha uma vivência com o clássico e trouxe o frevo para o repertório dele, ou seja, era uma coisa genuína, que não estava se copiando. O frevo, ele é o nosso rock e, quando eletrifica aquilo, é a mesma energia", complementa Aroldo.

Moraes, segundo ele, permaneceu no trio até 1979. "Mas a gente ficou mantendo essa tradição musical. A gente trouxe, através do Armandinho, o som do mundo pra dentro do Carnaval: a gente trouxe Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, etc., e isso universalizou. A gente toca de uma maneira trioeletrizada, então criamos a MTB - Música Trioletrizada Brasileira", destacou ele, que encontra-se já há quatro anos com o espetáculo Os Irmãos Macêdo - Carnaval, Música, Revolução, sempre às sextas-feiras, no Teatro Sesc Casa do Comércio (Salvador/BA).

A direção é de Andrezão Simões, sendo a realização a cargo da Terra do Som Produções. "Não tem só essa coisa de fazer no trio elétrico. Estamos com um musical que conta a nossa história no teatro. A gente fala, principalmente, coisas que não estão em livro algum. As pessoas se emocionam, choram, saem de lá super felizes. Teve gente que já viu umas seis vezes porque, como tem muito improviso... Só paramos ali no Carnaval", reforça.

 

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