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Maus, obra referência no universo dos quadrinhos, completa 40 anos
Vida & Arte

Maus, obra referência no universo dos quadrinhos, completa 40 anos

Importante registro autobiográfico do quadrinista sueco Art Spiegelman, Maus completa 40 anos em 2020. Obra resgata de forma simbólica a vida de um judeu na Segunda Guerra
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Quadrinho Maus completa 40 anos (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Quadrinho Maus completa 40 anos

O ano era 1980, 35 anos após o fim de Segunda Guerra, quando o relato autobiográfico Maus, do sueco Art Spiegelman, foi publicado pela primeira vez. A obra, por sua sensibilidade em retratar as consequências aos judeus após o holocausto, segue sendo referenciada como um marco das histórias em quadrinhos.

Maus acompanha de forma sensível os questionamentos de Art Spiegelman ao seu pai sobre sua experiência na segunda guerra (daí o subtítulo, traduzido do inglês, "meu pai sangra história"). Judeu, Vladek Spiegelman foi uma das vítimas do holocausto e, de forma única, vai relatando sua trajetória. Forte por sua temática, Maus se torna ainda mais relevante e poderoso por sua narrativa.

Para contar sua história, Spiegelman escolheu trocar as formas humanas por figuras de animais: os judeus são os ratos, os nazistas alemães são gatos, que se sentem superiores na "cadeia alimentar", e os poloneses são transfigurados em porcos, como eram chamados pelos nazistas durante a guerra. Após a publicação de Maus, Spiegelman trabalhou como cartunista na revista The New Yorker, e até hoje continua misturando quadrinhos com história. Um de seus trabalhos acompanhou o atentado das Torres Gêmeas, no 11 de setembro de 2001.

Segundo o quadrinista cearense Zé Wellington, a história se destacou também pelo experimentalismo de Spiegelman. "Ele cruza gêneros de história, como drama e humor, e também de desenho, do caricato ao realista", contextualiza. Wellington é autor de Cangaço Overdrive, livro que concorreu ao prêmio Jabuti na categoria de "Histórias em Quadrinhos".

De acordo com o quadrinista, após a publicação de Maus, houve uma mudança na visão das HQs como linguagem. Antes, comparados à literatura, os quadrinhos eram vistos como obras infantis ou "de segunda categoria". "Os quadrinhos abrem um mundo completamente novo, com novas possibilidades narrativas. Maus fez isso de uma forma genial. Se você fosse imaginar como um romance com letras, e descrevesse os personagens como animais como ele faz, provavelmente iria perder muito a graça. O Spiegelman faz isso de uma forma brilhante, usando por exemplo os silêncios - algo muito complicado na literatura", ressalta Zé Wellington.

Maus é um marco para a trajetória das histórias em quadrinhos, segundo o quadrinista Daniel Brandão, que assina a série Os Mundos de Liz, publicada diariamente no Vida&Arte. Segundo ele, tanto a obra de Spiegelman quanto Persépolis, que completa 20 anos em 2020 (veja coordenada), trataram de questões de grande relevância para a humanidade: o holocausto e a situação das mulheres no Irã, respectivamente.

Daniel também ressalta que as obras apresentam "pontos chaves" importantes. "Maus é a primeira obra a ganhar um Pulitzer de literatura. É uma obra que faz os quadrinhos chegarem na maioridade, a terem um cânone de respeito. No caso de Persépolis, é uma autora mulher fazendo uma obra de tamanha envergadura, a ponto de ter inclusive uma adaptação animada, que concorreu ao Oscar de Melhor Animação em 2008, não só pela qualidade artística mas pela relevância do conteúdo".

 

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