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As vozes independentes no mercado editorial cearense
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As vozes independentes no mercado editorial cearense

Estratégias como linguagens, versões digitais e diversidade de representação movimentam os autores independentes em meio à crise editorial provocada pela pandemia
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Foto: Reprodução A zine "Na Boca do Dragão da América Latina", da poeta e educadora Ma Njanu, foi lançada em formato digital e, também, em áudio

A impossibilidade do formato físico é uma realidade que se impõe a autores independentes há tempos. Dean Oliver lançou em modo digital, na quarentena, dois volumes da zine "Poesia Corporal", em parceria com a amiga Mirna Teixeira. O gênero literário surgiu na vida do artista há três anos e ele acumula, ainda, um livro publicado virtualmente. "Ele deveria ter acontecido de forma física, mas não teve como. Então, está disponibilizado online", explica.

"É preciso pontuar o lugar que poetas negras, principalmente periféricas e LGBT, ocupam no cenário editorial do Ceará e no País. É basicamente um não-lugar, porque - mesmo que muitas de nós tenhamos conseguido publicar nas pequenas editoras e em curtas tiragens - o processo ainda é muito lento, pouco rentável e muito oneroso. O que nós fazemos diante disto? E como fazer algo num cenário catastrófico como o que vivemos atualmente?", questiona Ma Njanu, poeta e educadora popular.

As reflexões e provocações são acolhidas por Goreth Albuquerque, coordenadora de Políticas do Livro, Leitura e Bibliotecas da Secult. "Temos uma riqueza editorial que vem contemplando leitores com diversidade de narrativas jamais vista antes. Vozes de pretos, indígenas, mulheres e de quem milita e pesquisa questões de identidade de gênero e produz escritas também querem suas reflexões publicadas em livro", aponta a gestora.

"O caminho de desenvolvimento econômico e cultural interrompido e agravado com o desenho político econômico que temos hoje foi e tem sido danoso porque produziu um aniquilamento do poder econômico-financeiro de muitas camadas da sociedade que estavam conseguindo acercar-se de bens e experiências culturais que lhes foram negadas há séculos, tanto como consumidores quanto como produtores de cultura", avança Goreth.

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A partir de tendências apontadas em dados obtidos em pesquisas e também por falas de atores envolvidos no setor editorial, é possível ter alguma ideia de por onde os modos de consumo podem seguir no durante e no pós-pandemia: pelo digital. No entanto, as dificuldades e desigualdades de acesso são fatores relevantes para o debate. 

Pelo levantamento "Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro", realizado pela Nielsen Book com coordenação do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e da Câmara Brasileira do Livro, nota-se uma tendência de aumento nos números de frentes digitais. Em 2019, a participação percentual das vendas em livrarias exclusivamente virtuais aumentou de 3,4% para 12,7%. Já em vendas por internet/Market Place, o percentual foi de 0,74% para 5,20%.

Anna K., da editora cearense Aliás, avalia que as próprias editoras independentes vem apostando no formato e-book. "Muitos até falam que finalmente o e-book ganhou seu lugar, com uma explosão de compras em sites. Quase todas as nossas leitoras e leitores pediram para a gente disponibilizar os livros online", exemplifica. Em um grupo que reúne quase 100 pequenas editoras de todo o Brasil para troca de experiências, Anna K. destaca a busca por novos formatos como uma constante. "Houve um investimento maior em criar acessos ao livro digital, ao podcast, as pessoas têm pensado em audiolivro, em outras releituras", considera.

Ma Njanu mostra que essa é uma preocupação, também, por parte de quem produz. A primeira zine autoral da cearense, "Na boca do dragão da América Latina", lançado em maio, está disponível em versão de áudio. A decisão, a artista explica, se liga à busca da obra por trazer à tona pautas como o neocolonialismo e a descolonização. "Não é à toa que lancei uma versão em audiozine. Unir a recitação com o desejo de alcançar leitores que não podiam, não conseguiam ou simplesmente não queriam ler o texto me pareceu fundamental", aponta.

Ao mesmo tempo, a aposta no digital também ressalta a desigualdade e as barreiras do acesso. Conforme aponta Goreth Albuquerque, o acompanhamento da promoção da leitura em meio digital por parte do Sistema Estadual de Bibliotecas possibilitou ir ao encontro de demandas importantes. "O acompanhamento nos deu condição de perceber a necessidade concreta de desenvolver ferramentas para uma política de biblioteca com espaço virtual, que ofereça serviços virtuais e não apenas acervos digitalizados. As barreiras digitais que temos atualmente ficaram muito evidentes na pandemia", afirma.

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Publicações independentes para conhecer

Confira publicações cearenses que foram produzidas e ganharam o mundo durante o isolamento social.

Revista Coletiva
Produzida a partir do bairro Curió, pelo poeta e mediador de leituras Talles Azigon, a revista reúne obras textuais e visuais de escritoras e escritores, designers e outros artistas. A Coletiva é comercializada a R$ 10 e toda a renda arrecadada se reverte para os artistas produtores da edição e para a manutenção da biblioteca comunitária Livro Livre Curió.
Adquira clicando aqui ou aliaseditora.com
Mais informações em @livrolivrecurio

Escritas em pandemia
Livro coletivo escrito por mulheres cearenses. São 24 textos que trazem olhares da intimidade das autoras em meio à pandemia do novo coronavírus. A publicação foi disponibilizada gratuitamente no inicio de junho no Instagram @escritasempandemia
Acesse clicando aqui

Eu desvalorizei as paredes
12 escritores cearenses são os autores do ebook organizado por Renato Pessoa e Dércio Braúna. A obra, que reúne poemas e prosa poética, não identifica a autoria dos textos para propor ao leitor uma forja própria de sentidos para os escritos. Mais informações @renato.pessoa

Fissura
A editora nadifúndio se uniu à artista visual Raisa Christina em uma publicação digital que reúne textos sobre memórias de desilusões amorosas. A disponibilização da obra, que leva o título de Fissura, se deu no último 12/6, dia dos namorados.
Mais informações em @nadifundio

 

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