Ficção dirigida por Alex Garland, Devs estreia no Fox Premium
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Ficção dirigida por Alex Garland, Devs estreia no Fox Premium
Cineasta britânico Alex Garland ("Ex Machina") aposta novamente na ligação entre elementos de suspense, tecnologia e ficção científica na série "Devs", que estreia hoje na FOX
De uma carreira de sucesso na literatura, o britânico Alex Garland migrou para o cinema em 2000, ano em que começou a assinar roteiros. Entre as obras, estão "Extermínio" (2002), "Sunshine - Alerta Solar" (2007) e "Não Me Abandone Jamais" (2010), que ajudaram a pavimentar as principais características do artista: tramas de ficção científica com caráter distópico e toques de autoralidade. A estreia na direção veio em 2014, com "Ex Machina", que trouxe a mesma atmosfera e acabou levando uma indicação ao Oscar de roteiro original. A obra seguinte foi outra ficção científica, "Aniquilação"(2018), produzida pelo estúdio Paramount. A falta de confiança dos executivos no potencial comercial do projeto acabou marcando sua trajetória, o que fez com que o filme tivesse passagem rápida pelas salas de cinema dos EUA no fim de fevereiro para logo depois estrear na Netflix. Com esse resumido panorama, não é surpresa o passo seguinte de Garland: a criação da série "Devs", totalmente escrita e dirigida por ele. A atração estreia hoje, às 22h15min, no Fox Premium 1, com episódio duplo. A série também já está disponível por completo no aplicativo da Fox para assinantes.
Uma informação a mais sobre a produção de "Aniquilação" revela um dado central sobre a essência de Garland enquanto criador: a justificativa da desconfiança da Paramount veio do fato de que o estúdio julgou que o filme poderia ser lido como "complicado e intelectual demais". Para quem tem alguma familiaridade com a obra pregressa de Garland, é fácil encontrar paralelos entre elementos anteriormente utilizados por ele nos trabalhos que dirigiu e aqueles trazidos nos dois primeiros episódios de "Devs", disponibilizados antecipadamente ao V&A - a aproximação entre natureza e ciência, lançando mão da tecnologia como artifício dramatúrgico disparador de questões. Mais do que isso, há na série a mesma carga autoral e "intelectual" das incursões do cinema.
O primeiro episódio reúne muitos desses traços característicos da filmografia do britânico, dando espaço para silêncios e sequências menos focadas no verbal e mais no sensorial. Em apresentação básica sobre "Devs", é possível adiantar, sem revelar demais, que ela apresenta os mistérios que envolvem a Amaya, empresa da tecnologia na qual trabalha o casal Lily (Sonoya Mizuno), engenheira de computação, e Sergei (Karl Glusman), programador. Enquanto em "Ex Machina" o foco é em um jovem programador que participa de um experimento sobre inteligência artificial e "Aniquilação" foca na expedição secreta que uma bióloga empreende para uma zona misteriosa, em "Devs" o mote que dá partida aos acontecimentos é o convite que Sergei recebe para trabalhar na divisão secreta da empresa, chamada justamente de Devs, cuja atuação é desconhecida para todos.
A partir desses elementos, a série propõe uma situação inicial que é misteriosa não exatamente por não sabermos o que está acontecendo, mas justamente por acompanharmos com bastante precisão os passos do que dá partida à trama. É como se o panorama geral fosse já ofertado ao público, mas sem maiores contextos ou explicações. Compõem os dois primeiros episódios, assim, indícios que podem ou não preencher esse "quadro" maior.
Em determinada cena do episódio de estreia, há um diálogo importante na qual um personagem fala sobre determinismo e livre arbítrio. É nele em que a fala que dá título a este texto é proferida: "tudo é causa e efeito". Para além do peso simbólico da fala na trama, que pode ser um dos indícios relevantes, é possível fazer uma alusão da ideia à própria carreira de Garland, construída de maneira encadeada e bem encaixada, com cada passo fazendo referência ao anterior e, ao mesmo tempo, indo um tanto além. Essa caminhada calculada pode tanto ajudar a criar identificação com o público quanto, por outro lado, causar afastamento pela frieza do percurso.
A pecha de "intelectualidade", tão temida pelos executivos na época de "Aniquilação", se justifica por certa pretensão que Garland imprime aos mundos que propõe. Há utilização de códigos e conceitos que não dizem muito aos leigos, bem como situações e estranhezas que são postas de um modo que aparenta querer se mostrar mais intrincadas do que talvez de fato sejam. Numa série, porém, essa lógica narrativa pode funcionar melhor pela própria estrutura episódica do formato, bem como pela natureza de fãs que se dedicam a teorizar sobre as peças que faltam nos quebra-cabeças ofertados.
Devs
Quando: estreia hoje, 27, às 22h15min, com episódio duplo Onde: Fox Premium 1 (consulte disponibilidade junto à operadora) Todos os episódios já disponíveis no aplicativo Fox (somente para assinantes)
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