Logo O POVO+
Querido diário,
Vida & Arte

Querido diário,

Entre desabafos e sonhos, os diários materializam o hábito antigo, mas sempre atual, de guardar memórias e vivências. Prática inspira filmes e livros
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Estudante Bruno Momico, neste período de isolamento, tem o diário como um momento de desabafo. (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Estudante Bruno Momico, neste período de isolamento, tem o diário como um momento de desabafo.

A tradição é bastante antiga, já que alguns registros datam o Japão do século X como um dos percussores dos diários. O motivo do seu surgimento é um enigma ainda não desvendado por historiadores, apesar das diversas especulações. O que se sabe, de fato, é que desde o seu aparecimento, os diários servem como um colecionador de memórias. Algumas secretas, outras nem tanto. Mas todas carregando a essência de quem escolhe estar na frente de uma agenda, um caderno ou, para os mais modernos, um teclado, para contar sobre si mesmo.

Para quem adquire o hábito, os relatos passeiam por um mar de vivências. Bruno Momico resolveu escrever todas elas quando iniciou sua trajetória na universidade. O atual estudante de Cinema viu a necessidade de registrar o momento marcante em algo palpável, que vai além da memória. "Estava acontecendo muita coisa incrível na minha vida e eu não queria esquecer. Eu sou muito fã de um filme, que também é um livro, o "Diário de Uma Princesa", e ela é minha única referência para escrever diário. Então eu comecei como nos livros, narrando meu dia, escrevia diálogos...", comenta.

O caderno simples, que antes era escrito em curtos períodos de tempo, hoje já é pensado em proporções anuais e foi ganhando adaptações. As anotações de vivências do dia a dia registram mais do que pensamentos e auxiliam na organização da vida. A necessidade de fazer, cada vez mais, algo personalizado fez com que Bruno começasse a pensar em desenvolver seu próprio diário. A meta está programada para ano que vem, ele garante.

Este ano será a primeira vez, desde 2015, que possivelmente o estudante vá finalizar com páginas do diário em branco. O isolamento social tem parcela de culpa nisso, já que a vida precisou ser readaptada e, com isso, os hábitos também. "Como eu não estou saindo de casa, todo dia está sendo a mesma coisa, não tem muito o que escrever. A não ser nos dias que eu estou muito aflito", explica.

Rosa Maria Sampaio, por sua vez, tem uma experiência de longas datas. Dos 73 anos, ela escreve sobre suas experiências de vida há 58. "Eu tenho uma amiga que também fazia isso. Nós nunca mostramos o diário uma a outra, mas comentamos. Quando a barra pesava ou acontecia uma coisa maravilhosa, a gente compartilhava, mas com descrição. Depois fomos para a faculdade e continuamos escrevendo. Aí as coisas já eram mais interessantes", conta.

Em meio às histórias, que Rosa Maria relembra com sorriso no rosto, surge uma das mais improváveis: o dia que ela e uma amiga resolveram queimar todos os diários que haviam escrito. "Fizemos tipo um piquenique e queimamos os diários. Havia acontecido uma situação chata e quisemos deixar tudo para trás", pontua. E não foi a primeira vez. Depois que passou uma temporada morando em Manaus e precisou voltar a Fortaleza, ela, novamente, reuniu os diários escritos naquele período e rasgou todos: "Eu não queria ter voltado". Sempre que algo precisa ser deixado para trás, a estratégia, então, é se desfazer dos diários.

"Em 2019 eu disse que não ia escrever nada, porque não adiantava, eu ia rasgar quando algo acontecesse. Mas esse ano eu voltei. Escrevo os detalhes do dia, mas dessa vez eu resolvi fazer em versos. Eu desabafo umas inquietações minhas. Eu estou vendo meu corpo mudando, a velhice chegando. Quando tem algo que eu me importo eu escrevo", explica. Mas, desta vez, ela garante: "Não pretendo rasgar".

Já Fernanda Maia começou o hábito por sugestão da sua terapeuta, em 2019. Ela conta que sempre quis ter o costume, mas somente dessa vez encontrou um ritmo que faz sentido para suas perspectivas e rotina. "Eu não escrevo tanto com o intuito de fazer um registro dos acontecimentos do dia, escrevo mais registrar o que eu acho que tem alguma importância", comenta.

Os meios digitais também surgem como um aliado. Apesar de gostar do diário físico, Fernanda, vez ou outra, se arrisca em escrever usando a tática de criar um grupo no Whatsapp, que só tenha ela, e escrever tudo ali, deixando salvo. "Por vezes parecia que não tinha nada para escrever, já que os dias parecem tão iguais, mas fiz questão de escrever mesmo assim. É um alívio ter o diário como um espaço de reflexão e diálogo interno, nesse momento acredito que foi bem importante", conclui.

 

Diários digitais? Confira aplicativos!

Diario: um dos mais conhecidos, permite pequenos ou longos relatos, inclusive sincronizar as informações com a nuvem, para deixar sempre salvo. Disponivel para IOS/Android

Day One Journal: boa opção para guardar momentos e registros. Dá para criar vários diários com cores distintas. Disponível para IOS/Android

Daybook: prático e intuitivo, esse aplicativo também permite que as anotações sejam privativas com senhas. Disponível para IOS/Android

O que você achou desse conteúdo?