Logo O POVO+
Em 15ª edição, Mostra de Cinema de Ouro Preto se reinventa para se adaptar aos novos tempos
Foto de João Gabriel Tréz
clique para exibir bio do colunista

João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Em 15ª edição, Mostra de Cinema de Ouro Preto se reinventa para se adaptar aos novos tempos

Com seleção de filmes inspirada e ricos debates disponibilizados, realização virtual da Mostra de Cinema de Ouro Preto se mostrou um desafio cumprido à altura
Tipo Notícia
O curta
Foto: divulgação O curta "Acabaram-se Os Otários" propõe remontagem do perdido longa homônimo, considerado o primeiro filme sonoro brasileiro

O tema da 15ª Mostra de Cinema de Ouro Preto, que se adaptou às demandas dos tempos e foi realizada de forma virtual, foi “Cinema de Todas as Telas”, discussão que se estendeu para os eixos temáticos costumeiros do evento: Educação, Histórico e Preservação. A ideia do tema central comporta diferentes leituras, que podem ir do pensar o cinema para além da tela na sala escura - como o evento fez não somente na própria forma de realização deste ano, pautada no on-line, como também ao trazer a televisão para o debate - à ampliação de agentes, corpos e vozes que produzem e inventam nas telas. Ao longo de cinco dias, a CineOP promoveu debates, disponibilizou mais de 100 filmes e ofertou oficinas, entre outras atividades, tudo de forma gratuita.

O imperativo da realização virtual, com desafios e contradições, encontrou saldo positivo. Ainda que o acesso à tecnologia seja uma questão no Brasil, o festival on-line possibilitou acesso à programação para quem não conseguiria, num ano típico, viajar para Minas Gerais. Números da organização do evento dão conta que o site da CineOP, que concentrava as atrações da mostra, alcançou mais de 100 mil acessos vindos de 54 países. “Fica a sensação de dever cumprido. Ficou mais do que comprovado que a CineOP é um evento aguardado anualmente, o que é muito importante porque é uma trajetória de 15 anos. Eventos com edições anuais e consecutivas criam um calendário”, celebra Raquel Hallak, coordenadora-geral da mostra, em entrevista por telefone ao O POVO.

Leia também | Mostra de Cinema de Ouro Preto discute o novo momento da TV e da comunicação

Além da disponibilização dos 103 filmes da seleção - entre obras raras, clássicos, filmes inéditos e também em pré-estreia -, a 15ª edição da mostra promoveu 28 debates com 80 profissionais convidados ao longo da programação. Todas essas conversas e reflexões, ressalte-se, permanecem públicas no canal do YouTube da realizadora da mostra, a Universo Produção. O fato reforça um movimento que a produtora já vinha empreendendo em outros eventos que realiza: em janeiro, na (ainda presencial) Mostra de Tiradentes, debates foram disponibilizados na íntegra no formato podcast. São aberturas e ampliações bem-vindas.

Leia também | Filmes africanos ficam disponíveis on-line na segunda temporada da mostra Cine África

Houve, ainda, quatro oficinas - que certificaram 140 alunos - e quatro masterclasses internacionais - essas últimas também disponíveis em vídeo. Na face mais propositiva da mostra, ela sediou também as novas edições do Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e do Encontro da Educação: XII Fórum da Rede Kino, que ocorrem anualmente no contexto do evento. As discussões de ambos resultaram em cartas abertas com proposições importantes. Destaque-se a do encontro de arquivos e acervos, importante ainda mais no atual contexto de desmonte de instituições e políticas de preservação.

A carta deste encontro destacou “pontos urgentes” e desafios do campo de atuação. Entre as demandas, está a construção de uma política pública tendo como base o Plano Nacional de Preservação Audiovisual, que foi lançado na Mostra de Cinema de Ouro Preto de 2012; a reavaliação das políticas de terceirização da gestão de instituições de patrimônio audiovisual, seja aquelas em curso ou em planejamento; o aumento da participação da sociedade civil e da comunidade audiovisual nos colegiados da esfera federal, como o Conselho Superior de Cinema e o Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual; a republicação de um edital federal com linha destinada à “Restauro e Digitalização de conteúdos audiovisuais” que foi suspenso em 2019 pela Secretaria Especial de Cultura; e a inclusão do setor da preservação audiovisual na Lei Aldir Blanc, entre outros.

Leia também | Versão definitiva de "Apocalypse Now" estreia em cinemas de Fortaleza na próxima quinta-feira, 10

Na avaliação da coordenadora, o modelo digital “vem para ficar”. “Vamos continuar trabalhando para estar presencialmente, porque a troca é muito rica, mas por outro lado a gente vai utilizar a internet a nosso favor. Estamos conhecendo esse novo caminho e incorporando isso no nosso fazer”, avalia. Mais eventos digitais já estão no calendário da Universo: a Mostra Tiradentes São Paulo, que estava marcada para março e ocorrerá agora entre os dias 1º e 7 de outubro, em parceria com o Sesc São Paulo; e a 14ª Mostra de Cinema de Belo Horizonte, entre 29 de outubro e 2 de novembro, na qual ocorre também o 11º Brasil CineMundi, encontro internacional de co-produção.

Ao mesmo tempo, a 24ª Mostra de Tiradentes já estará recebendo inscrições. O evento, uma das principais plataformas do cinema contemporâneo no País, segue previsto para janeiro de 2021 e já está sendo pensado, mas com planos diferentes. “Estamos estudando um novo formato presencial. Pretendemos estar lá e também botar a Mostra no formato digital. Não sei se simultaneamente, mas ter um híbrido”, adianta Raquel.

Foto do João Gabriel Tréz

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?