Mostra de Cinema de Ouro Preto discute o novo momento da TV e da comunicação
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Mostra de Cinema de Ouro Preto discute o novo momento da TV e da comunicação
Potencialidades do audiovisual em convergência com o digital e da TV enquanto ferramenta são refletidas na programação do eixo Histórico da Mostra de Cinema de Ouro Preto
Os impactos dos novos modos de comunicação nos meios tradicionais são discutidos há anos por quem pesquisa e compõe áreas relacionadas à própria comunicação, tecnologia e audiovisual. Apesar de marcados por novidades constantes, os processos de mudanças não são inéditos, como lembra o professor e jornalista Gabriel Priolli. "Isso começou há 40 anos, com o lançamento do vídeo cassete portátil, o primeiro dispositivo colocado em mãos do cidadão comum para que ele pudesse gravar imagens. Depois, veio a internet, permitindo que essas imagens pudessem ser distribuídas. É esse o processo que vem progressivamente empoderando - para usar um termo da nossa época - o cidadão e permitindo que ele seja um emissor de comunicação. Tínhamos empresas emissoras de televisão e, hoje, temos cidadãos emissores de comunicação", observa o professor, um dos convidados da 15ª Mostra de Cinema de Ouro Preto.
Em 2020, a CineOP vem ocorrendo de forma on-line sob o tema central "Cinema de todas as telas", que se divide em três mostras temáticas: Histórica, Educação e Preservação. No eixo histórico, o tema desdobra-se em reflexões que partem dos 70 anos da TV brasileira, pensando seu percurso, estado e possibilidades. Entre as diversas mesas que debateram o tema, o professor Gabriel Priolli foi convidado do debate "TV, pós TV e outras telas", que ocorreu na semana passada com as presenças também da crítica e pesquisadora Christine Mello e da cineasta Petra Costa.
"Nós transitamos de uma situação em que, nos primeiros cinco anos da televisão, tínhamos apenas quatro canais de TV para hoje, onde temos milhões e milhões, porque, pela tecnologia disponível, qualquer pessoa pode ser um canal", contextualizou o professor. Atualizando o teórico René Berger, que atenta para a existência de três televisões - a macro-TV, a meso-TV e a micro-TV -, Christine pontuou: "A grande macro-TV é o YouTube, essa plataforma social que absolutamente diz o que é, hoje, uma grande TV".
O curador e mediador do debate Francis Vogner dos Reis ressaltou que a noção de "pós TV" foi muito forte durante as manifestações de 2013, que eram transmitidas ao vivo na internet. "Era uma velocidade maior do que a dos canais de TV, que sempre tinham um delay, e não estavam editadas, era uma coisa direta", afirmou. Pensar modelos hegemônicos e não-hegemônicos de se fazer TV, invariavelmente, é pensar em desdobramentos políticos.
Petra, diretora do documentário "Democracia em Vertigem", citou que o filme "surgiu" quando ela registrou as manifestações do dia 13 de março de 2016 em Copacabana, citadas na mídia tradicional como sendo "a favor do impeachment". "Fiquei muito assustada como toda a imprensa e as televisões retratavam-nas de forma positiva, sem quase falar do espírito militarista e antidemocrático que já estava ali", ressaltou.
Neste sentido, é paradigmático perceber que, como fruto daquelas manifestações de 2016, elegeu-se um governo federal que se coloca contrário às grandes corporações e escolhe as redes sociais como "veículo oficial", como ressaltou Francis. Em meio a tal contexto complexo e delicado, é possível se questionar sobre o "fim" da televisão convencional. Para Gabriel, essa morte pode chegar "a longo prazo, mas antes disso ela ainda vai fazer muita coisa". "A televisão hoje é o audiovisual em vertigem", definiu. "Tudo está mudando na forma de distribuição, produção, na linguagem. É um campo de mutação muito grande".
"As coisas se interpenetram e se influenciam. As formas de expressão e ação política através das linguagens da grande mídia eletrônica, da televisão, coexistem com essas novas formas de linguagem que são possibilitadas pela fragmentação, multiplicação e popularização das tecnologias de vídeo", prosseguiu Gabriel. "Hoje, todos nós somos simultaneamente espectadores e emissores. Recebemos, comentamos e distribuímos informação. Esse ambiente de hoje, em que a grande voz da televisão compete o tempo inteiro com milhões de vozes, é uma coisa muito interessante e uma conquista democrática", avaliou.
Programação do dia
10 horas - Debate "Um plano de cinema, um plano de aula"
12 horas - Debate "Case de Restauro: Pixote, a lei do mais fraco"
14 horas - Debate "Projetos audiovisuais educativos que trabalham colaborativamente com a produção audiovisual em (possíveis) ambientes escolares durante a quarentena"
14 horas - Masterclass "A expansão do Museo del Cine 'Pablo Ducros Hicken'"
16 horas - Debate "Instituições de Patrimônio em Risco: Caso Cinemateca Brasileira"
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