Logo O POVO+
Herbert Vianna lança disco solo dedicado a ídolos do rock
Vida & Arte

Herbert Vianna lança disco solo dedicado a ídolos do rock

Em novo disco solo, Herbert Vianna visita a obra de artistas internacionais que moldaram sua trajetória musical. Tem The Who, Jimi Hendrix e Carpenters
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Aos 59 anos, Herbert Vianna lança disco solo interpretando clássicos do rock (Foto: Mauricio Valadares/ Divulgação)
Foto: Mauricio Valadares/ Divulgação Aos 59 anos, Herbert Vianna lança disco solo interpretando clássicos do rock

A linha artística traçada por Herbert Vianna ao longo dos seus quase 40 anos de carreira fonográfica - 37, pra ser preciso - foi marcada por uma busca constante por coerência, maturidade e autoafirmação. Indo ponto a ponto, desde o rock mais juvenil de "Vital e Sua Moto" e "Patrulha Noturna" até os futuros encontros com as grandes vozes da MPB, ele nunca perdeu o fio condutor que o guia por uma estrada de poucos erros. Não por acaso, revisita canções do início da carreira sem constrangimento. Esse caminho deu ao paraibano, nascido em 4 de maio de 1961, a maturidade impressa em composições que ganham profundidade à medida que a idade e as experiências chegam. Por fim, a autoafirmação está numa obra em primeira pessoa, com personalidade e força próprias, seja em trabalhos solo ou quando dividida com os Paralamas do Sucesso. A propósito, sendo um caso raro de banda que se mantém unida desde o início, dividir só faz crescer essa força.

Mas isso tudo segue sendo uma busca, uma vez que o sucesso não é o fim em si. E Herbert segue buscando dentro de si as respostas que a arte pode dar. Do último mergulho, veio o disco "HV Sessions Vol.1", uma coleção de hits do rock internacional dos anos 1960 e 1970 vertidos pra um formato enxuto, cru, independente, íntimo e particular. Produzido por Chico Neves, o quinto disco solo do cantor, compositor e guitarrista segue a linha do anterior, "Victoria" (2012), que agrupava composições dele gravadas por outras pessoas.

Leia também | Paula Toller lança single pop gravado com seu filho Gabriel Farias

Assim como "Victoria", "HV Sessions Vol.1" é feito de violões, guitarras, teclados, alguns efeitos e muito pouco retoque. A riqueza está na simplicidade. Não é um disco acústico, nem um disco solitário (dando a devida amarração e acabamento, Chico Neves atua como um músico até quando não está tocando). Ah! Também tem a voz que, mesmo que o próprio Herbert reconheça as limitações, sempre teve carisma e beleza.

Aliás, é na verdade impressa nas interpretações que se encontra a maior beleza de "HV Sessions Vol.1". A abertura é com o minimoog tocado por Daniel Jobim em "Pinball Wizard", clássico da ópera rock "Tommy", do The Who. Daniel entrou de forma acidental no disco quando foi ao estúdio gravar outra coisa, deixou essa linha de teclado, e Chico achou que se encaixaria da faixa. Só depois de pronta, o neto de Tom Jobim soube que estaria no disco.

Leia também | Curso em plataforma cearense online une Filosofia, amor e Beatles

Se Herbert deixa de lado o terremoto sonoro do The Who pra cantar "Pinball Wizard" em tons graves, em "While My Guitar Gently Weeps", ele dispensa a gradiloquencia de uma das mais perfeitas obras de George Harrison e foca no essencial. Indo no osso da composição, ele coloca um clima sacro ao combinar sua guitarra com os teclados de Chico. E, no lugar de repetir o clássico solo de Eric Clapton ou (pior!) querer provar que também é capaz de dispensar horas dedilhando seu instrumento, ele retorna à essência, baixa a cabeça em sinal de reverência ao "deus da guitarra" e faz sua parte.

Algumas escolhas de "HV Sessions Vol.1" ficaram mais simples, com aquela cara de rodinha de violão, fogueira e vinho quente. É o caso de "And I Love Her", balada dos Beatles que Herbert faz com o violão à frente. "There's a Kind Of Rush", uma das muitas baladas fofinhas dos Carpenters, segue a mesma linha e cativa até o coração mais duro. Também na mesma toada, "Tempted", da banda britânica Squeeze, é uma belíssima balada rock, sobre seguir em frente apesar de tudo, que já ganhou ótimas versões de Joe Cocker e Kid Abelha. Aqui, Herbert mantém o clima doce, a melancolia e a intensidade num jogo de guitarras, vocais e, talvez, no arranjo mais trabalhado do álbum.

Leia também | Artur Menezes lança novo disco com participação de Joe Bonamassa

E "HV Sessions Vol.1" poderia seguir nesse ritmo doce até o fim que já seria ótimo, ganharia algumas curtidas e Herbert Vianna poderia dizer que acrescentou mais um item à sua discografia. Mas não é essa a ideia e é possível buscar mais. E é aí que ele não se esquiva de críticas e comparações trazendo Jimi Hendrix e Carlos Santana para seu disco. Do primeiro, vem nada mais nada menos que "Purple Haze", clássico absoluto do gigante da guitarra. Brincando com efeitos e timbres, ele preserva ritmo, dinâmica e empolgação sem sair da proposta. Do segundo, ele traz "Europa", faixa instrumental lançada no álbum "Amigos" (1976), que remete aos tempos de faculdade de Herbert e abre espaço pra solos sem muito exibicionismo.

"HV Sessions Vol.1" é resultado de muitas idas de Herbert ao estúdio de Chico Neves entre 2010 e 2011, nas sessões que resultaram em "Victoria". Tudo que acontecia ali era gravado e, depois, trabalhado. E é por conta do descompromisso de um dos melhores compositores brasileiros dos últimos 40 anos que esses dois discos são tão sedutores. Tocar pelo prazer de tocar e só. Sem se cobrar muito, Herbert apenas reafirma sua coerência e maturidade.

Repertório

1. Pinball Wizard (Pete Townshend)

2 While My Guitar Gentle Weeps (George Harrison)

3 Tempted (Christopher Difford/Glenn Tilbrook)

4 Purple Haze (Jimi Hendrix)

5 And I Love Her (John Lennon/Paul Mccartney)

6 Opportunity (Elvis Costello)

7 Kind Of Hush (Geoff Stephens/Les Reed)

8 Wichita Lineman (Jimmy L. Webb)

9 Sunshine Of Your Love (Eric Clapton/Jack Bruce/Pete Brown)

10 Europa (Carlos Santana/Tom Coster)

Podcast Vida&Arte

O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker.

O que você achou desse conteúdo?