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Em fase de finalização, documentário retrata prática de rezadores no Ceará
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Em fase de finalização, documentário retrata prática de rezadores no Ceará

Documentário "Memórias de Fé na Terra da Luz" destaca o ofício e as vivências de rezadores no Estado
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O documentário "Memórias de Fé na Terra da Luz" retrata o ofício e as vivências de rezadores no Ceará.
 (Foto: Ronaldo Roger/Divulgação)
Foto: Ronaldo Roger/Divulgação O documentário "Memórias de Fé na Terra da Luz" retrata o ofício e as vivências de rezadores no Ceará.

Prática que resiste com o passar do tempo e marcada pela oralidade, a ação desempenhada por rezadeiras e rezadores assume caráter quase intrínseco à cultura nordestina e cearense. Passado de geração para geração, esse ofício tem como uma de suas características o uso de ervas e o estabelecimento de uma forte relação com o sagrado para amenizar sofrimentos por doenças ou outras situações. Para retratar essa atividade no Estado, está sendo finalizado o documentário “Memórias de Fé na Terra da Luz”, dirigido por Augusto Cesar dos Santos.

As motivações que impulsionaram a produção do documentário estão relacionadas à importância dessa atividade para a cultura cearense e nordestina. Tradição que se mantém até hoje, o ofício de rezadeiras e de rezadores despertou a curiosidade de Augusto Cesar e de sua equipe. Eles, então, decidiram expandir os trabalhos documentais que existem sobre essa prática e transmitir, por meio do audiovisual, as vivências e os depoimentos de alguns rezadores do Ceará.

O ponto de partida veio com a descoberta de que na cidade de Alto Santo vive Francisca Galdino de Oliveira, conhecida como Francisquinha Félix, Mestra da Cultura e que desenvolve o ofício de rezadeira. A partir disso, foi acionada, pela equipe de produção do documentário, uma rede de contatos que intermediou o acesso a rezadores de outras localidades do Estado. Além do município em que reside Francisquinha Félix, outras sete cidades são retratadas no longa-metragem: Massapê, Meruoca, Quixadá, Canindé, Maranguape e Juazeiro do Norte e Sobral.

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As filmagens tiveram início em 2019 e foram finalizadas em fevereiro deste ano. As conversas trouxeram detalhes variados sobre as vivências dos rezadores, marcados por diferentes aspectos que os iniciaram no ofício. Além disso, elas destacaram ainda mais as crenças e as complexidades desses personagens. Augusto Cesar relata o caso da rezadeira Dona Maria Alves de Lima, mais conhecida como Dona Zilma, de Meruoca, que faleceu em setembro. Segundo o diretor, ela comentou, durante a entrevista, que “não podia transmitir a reza”, porque, quando isso acontecesse, faleceria.

Quem também teve a oportunidade de contar a sua história foi a rezadeira Mãe Marta, de Sobral. Introduzida no ofício quando tinha cerca de 12 anos de idade, ela afirma que se sente “bem e feliz” em poder “ajudar as pessoas de alguma forma”. A rezadeira também relata que foi “surpreendente” a experiência de compartilhar sua trajetória no documentário e sente que a obra pode ajudar a valorizar a sua atividade. “Eu acho muito importante, porque é algo que muitas pessoas não acreditam nem valorizam. Além de ter me sentido privilegiada, achei importante para que nós sejamos mais vistas e valorizadas nesse aspecto da reza”, complementa. Mãe Marta também pretende repassar seus conhecimentos.

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“Memórias de Fé na Terra da Luz” também apresenta entrevistas com agentes de saúde, coordenadores de projetos que “buscam integrar o serviço público de saúde ao atendimento das rezadeiras” e médicos. Augusto Cesar relata que a escolha por essa mesclagem com pessoas de diferentes áreas se dá pelo “diálogo” que existe entre rezadeiras e esses campos. “No documentário, houve um médico que falou que é interessante procurar rezadeiras também pelo lado espiritual, desde que o paciente não se abstenha das questões práticas da medicina”, comenta.

Com apoio da Secretaria de Cultura (Secult) e atualmente em fase de edição, o documentário tem estimativa de duração de 75 minutos e lançamento previsto para o primeiro semestre de 2021. A ideia inicial era de apresentar a obra primeiramente em cada cidade em que foram feitas as gravações, antes da entrada nos circuitos de festivais e outras janelas de distribuição. Entretanto, devido ao contexto de restrições acarretadas pela pandemia, essa decisão está sendo repensada.

O diretor acredita que a obra poderá ter forte contribuição para a cultura do Ceará. “A gente sente que está contribuindo com a memória e com o patrimônio cultural do Estado. Enxergar nisso a possibilidade de o processo fílmico se transformar, posteriormente, em material de referência para escolas, pontos de cultura e em canais de distribuição. Foi um processo bastante rico”, pontua.

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