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71º Salão de Abril reúne obras no Centro Cultural Casa do Barão de Camocim
Vida & Arte

71º Salão de Abril reúne obras no Centro Cultural Casa do Barão de Camocim

Trabalhos de artistas cearenses ficam em exposição até 12 de fevereiro de 2021. 71º Salão de Abril homenageia os 110 anos de nascimento de Chico da Silva
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Fotos do Salão de Abril 2020 (Foto: Thiago Matine/Secultfor)
Foto: Thiago Matine/Secultfor Fotos do Salão de Abril 2020

Após longo período de incertezas, o Salão de Abril, principal salão de artes do Ceará, ocupa o Centro Cultural Casa do Barão de Camocim. Em sua 71ª edição, expõe obras de 30 artistas e coletivos cearenses, entre fotografias, pinturas, performances, videoartes, bordados, esculturas e instalações. Evento de abertura acontece hoje, 8, às 18 horas, para artistas e convidados - devido às restrições de enfrentamento à pandemia. A exposição segue aberta ao público já a partir de amanhã, 9, até 12 de fevereiro de 2021.

A curadoria, formada por Diego Matos, Júlia Rebouças e Paulo Portella, avaliou cerca de 502 obras. Dos 336 artistas inscritos, 30 foram selecionados para compor o 71º Salão de Abril. Sy Gomes, artista visual, cantora, compositora, performer e produtora cultural, apresenta a videoarte performativa “Centro de Gravidade”. Em meados de abril, numa noite de quarentena, Sy buscava em sua memória palavras que lhe tirasse da normalidade. “Gravidade” chamou sua atenção. Com a inquietude, desbravou a ideia de movimento gravitacional - sobre quantas vezes as criaturas terrenas são puxadas para baixo.

Tal qual a força fundamental da natureza, “um movimento para baixo é o de lembrar”, diz Sy. “Se a terra tudo guarda em seu substrato, é cavando que encontramos o passado. Escavei momentos de minha vida em que tudo havia virado de cabeça para baixo ou momentos de mudanças bruscas. Contei 27. Em seguida, pensei: meu centro de gravidade mudou 27 vezes”. A partir daí, a artista passou a questionar a algumas pessoas via redes sociais, “quantas vezes o seu centro de gravidade mudou? Em números”. A ação criou, em coletivo e à distância, um ritual de elementos: “as perguntas em língua portuguesa e as respostas em números”, conta Sy.

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Quem também expõe sua obra no 71º Salão de Abril é a artista Anie Barreto, com “Firmamento” - série de fotografias únicas e constituídas por dípticos, trípticos e polípticos (respectivamente, objetos com duas, três ou várias placas). Para Anie, a obra “abre ferida sobre territórios, agricultura familiar e memória afetiva, sob a vivência particular de duas gerações de mulheres e de muitas outras”. Ela fala da relação com a figura de sua avó, dona Ilda, 86, e de um retorno às terras de Ibicuitinga - município a cerca de 195 quilômetros de Fortaleza.

Anie descreve: “É sobre impressões, lacunas e o sentimento de falta. Dos objetos fotografados, das cenas do cotidiano e dos pedaços que criam imagens. Falo sobre a vontade de firmar. De refazer passos que foram dados por outras antes de mim, na busca de uma outra criação, outra contação de história. Uma pesquisa de rastros tímidos deixados por Ilda, minha avó, que eu ando seguindo”.

Em 77 anos de existência, esta edição do Salão de Abril presta homenagem ao artista Chico da Silva. Em 2020, o pintor e desenhista autodidata completaria 110 anos de idade. Nascido no Acre, fez carreira na Capital cearense. Na década de 1930, desenhava carvão e giz nos muros do Pirambu. Descoberto pelo pintor suíço Jean-Pierre Chabloz, apreendeu outras técnicas e ganhou notoriedade internacional. Sua obra vive no imaginário coletivo - colorido - dos dragões, das correntezas, serpentes e baleias.

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Chico da Silva também participou do Salão de Abril. Quem lembra é Gilvan Paiva, Secretário da Cultura de Fortaleza. “É um artista descoberto na vida da cidade. Ele advém de uma população extremamente inserida na cidade, com seus dilemas e resistências sociais. Chico cria uma nova escola a partir do fazer artístico, a Escola do Pirambu. Quando começa a ocupar os espaços de mercado da arte, mobiliza pessoas da sua própria comunidade, transferindo o conhecimento adquirido. É um perfil de uma arte coletiva”.

Ainda em 2019, a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Cultura (Secultfor), instituiu 2020 como o “Ano Chico da Silva”. Apesar da pandemia, “chegamos no fim do ano ainda com a possibilidade de realizar a abertura da exposição do Salão de Abril e reafirmar a relevância deste artista”, diz Gilvan. De acordo com a organização da mostra, o espaço do Centro Cultural Casa do Barão de Camocim está completamente adaptado em prol dos protocolos sanitários. Entre as medidas, prevalece o uso obrigatório de máscaras e o distanciamento social.

O 71º Salão de Abril ainda terá programação virtual, com o Seminário “Chico da Silva: Vida, Obra e Arte Contemporânea”. Haverá palestras, debates e workshops abertos ao público, de 12 a 18 de dezembro, com transmissão pelo canal do YouTube da Secultfor.

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Obras

  • “Firmamento”, de Anie Barreto;
  • “BRA”, de Benia Almeida;
  • “Cachorra parindo” e “Os índios Quixelô”, de Arivanio Alves;
  • “-stórias de exposição em isolamento”, de Artur Bombonato;
  • “Mastro de Cruzeiro”, de Cadeh Juaçaba;
  • “O tempo que o mundo parou”, de Cecília Bichucher;
  • “Fugasimpossíveis”, de Clébson Francisco;
  • “Bestiário-Casa”, de Raísa Inocêncio e Daniel Rocha;
  • “TERRA PROMETIDA”, de Duda Jaguar, Ella Monstra, Ellícia Marie, Lui Fontenele, Muriel Cruz, Rao Ni, Silvia Miranda e Yara Canta;
  • “Banho no Rio”, de Félix;
  • “ROMARIA-SE”, de Filipe Alves;
  • “Deslocamentos”, de Gustavo Diogenes;
  • “Crítica Radical”, de Ícaro Lira;
  • “máscara de proteção”, de Jamille Queiroz;
  • “124 corpos/365 dias”, de João Paulo Duarte de Sousa;
  • “Dragão sobre a Cidade”, de Lana Benigno;
  • “Experimento Metamorfa #2”, de Levi Mota Muniz (A Banida) e Leonardo Zingano Netto;
  • “Gestos: Lavar”, de Lucas Madi;
  • “Favor não deixar a janela aberta”, de Luciana Rodrigues;
  • “OVNI: objetos voadores negros ignorados ou naves para a elaboração de um futuro negro”, de Conceição Soares – Teatro na Porta de Casa;
  • “Para Vestir Ìgbín”, de Mel Andrade;
  • "Sombra do Tempo", de Naiana Magalhães;
  • “Como falar o indizível”, de Renata Froan;
  • “Autorretrato: Desde quando você nasceu”, de Simone Barreto;
  • “Desejos Reprimidos”, de soupixo;
  • “Centro de Gravidade”, de Sy Gomes;
  • “terraaterra – Como Construir Nosso Próprio País”, de Terroristas del Amor;
  • “Aplicabilidades de um Barco”, de Tiago Pedro de Araujo Pereira;
  • “Vende-se”, de Virgínia Pinho;
  • “Serrinha Luz e Cores”, de Yuri Juatama.

71º Salão de Abril

Quando: de amanhã, 9, até 12 de fevereiro de 2021. Visitação de terça a sexta, das 9h às 18 horas; e sábados, das 9h às 16 horas

Onde: Centro Cultural Casa do Barão de Camocim (rua General Sampaio, 1632 - Centro)

Mais info: www.salaodeabril.com.br/

Aberto ao público

 

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