Na semana em que se comemora o primeiro centenário da autora, celebrado no dia 10 de dezembro, o O POVO realiza a "Semana Clarice" para homenagear uma das mais importantes personalidades da literatura brasileira. Entre segunda, 7, e sexta-feira, 11, uma série de atividades, em diversas plataformas, analisa a vida e a obra da autora de "A Hora da Estrela".
Um dos destaques da semana é o projeto "Leituras de Clarice". Com vídeos curtos para as redes sociais, convidados lerão trechos de livros da autora. Alguns dos nomes confirmados são Fabiano Piúba, secretário da cultura do Estado do Ceará; Talles Azigon, idealizador da biblioteca comunitária Livro Livre Curió; Maíra Ortins, artista plástica; João Paulo Lima, artista educador e performer; Paula Yemanjá, atriz e contadora de histórias; a artista visual Raisa Christina, entre outros. O convite se estende, no entanto, a todos os apreciadores da obra da escritora, que também enviaram as próprias gravações para O POVO divulgar em suas plataformas. O conteúdo será publicado nas redes sociais do O POVO, na quarta, 9.
Outras ações acontecerão durante a semana. Na terça-feira, 8, a atriz Maria Vitória apresenta uma performance teatral inspirada em textos de Clarice. A adaptação, feita com exclusividade para a Semana Clarice do O POVO, será divulgada na plataforma multistreaming O POVO . No dia 10, aniversário da escritora, acontecerá uma transmissão ao vivo com a professora Fernanda Coutinho, da Universidade Federal do Ceará, uma das organizadoras do livro "Visões de Clarice", e convidados. A live terá mediação da jornalista e repórter do Vida&Arte Bruna Forte. O evento será exibido nas redes sociais do O POVO e no Canal FDR, às 18 horas.
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Para finalizar, haverá o lançamento do e-book "Cartas para Clarice" na sexta-feira, 11. A publicação digital traz 12 textos assinados por nomes como a jornalista Izabel Gurgel; o artista visual Bitu Cassundé; a escritora juazeirense Alana Morais - idealizadora do evento Chá com Clarice; o médico Álvaro Madeiro Leite; a mediadora de leituras Nara Barreto, entre outros. A coletânea de cartas, organizada por Cinthia Medeiros, editora-executiva do Vida&Arte, homenageia a escritora que tanto recorreu à escrita de correspondências para se comunicar com amigos e parentes.
Semana Clarice Lispector
Segunda-feira, 7
Reportagem especial
Onde: O POVO+
Terça-feira, 8
Performance poética com atriz Maria Vitória
Onde: O POVO+
Quarta-feira, 9
Leituras de Clarice
Onde: nas redes sociais do O POVO
Quinta-feira, 10
Live às 18 horas com professora Fernanda Coutinho, organizadora do livro "Visões de Clarice Lispector", e convidados
Onde: nas redes sociais do O POVO e no canal FDR
Sexta-feira, 11
Lançamento do e-book "Cartas para Clarice"
Onde: O POVO+
"Clarice nos confronta"
Yudith Rosenbaum é professora da Universidade de São Paulo (USP). Produziu a tese de Doutorado "Metamorfoses do Mal: uma leitura de Clarice Lispector" e também publicou o livro "Clarice Lispector", que integra a coleção "Folha Explica". Em entrevista para O POVO, reflete sobre as sensações que a escritora provoca e a popularidade que a autora ganhou nas redes sociais.
O POVO: Que sensações Clarice provoca durante a experiência de ler seus textos?
Yudith Rosenbaum: Clarice dizia que a literatura é entrar em contato, que implica um envolvimento, uma sensação de leitura. Nas obras de Clarice, a gente se vê em território um pouco desconhecido. Ela abre um território não familiar, quebra os padrões. Mostra uma certa anestesia para determinadas coisas do nosso cotidiano. Qualquer situação, em princípio prosaica, até insignificante, pode disparar sensações. Primeiro causa um estranhamento, uma sensação de ser transportado para um mundo novo a partir de situações que são repetitivas. Mas, em um momento, alguma coisa acontece. Não é um fato. Ela dizia que não escrevia sobre fatos. São pequenos acontecimentos que levam as personagens e, portanto, os leitores a se enfrentarem, a se olharem. O leitor se espelha naquilo que está lendo, e os personagens devolvem espelhos. Isso dá uma sensação de mal estar, provoca perplexidade. Em dado momento, o leitor questiona em que momento ele perdeu o pé. O que acontece nesses momentos? Ela quer flagrar que, nesses instantes, há uma virada, e o sistema é quebrado, e o mundo desmorona. Ela entra em uma viagem, em um mergulho religioso, antropológico e metafísico. Tem leitores que ficam arrebatados por aquela proposição como se não tivesse mediação nenhuma, porque existe uma espécie de fusão com a escrita. Tem outros leitores que se sentem ameaçados por uma escrita um pouco violenta. É interessante que a gente possa se entrever através da literatura. A Clarice é uma escritora poderosa, tem uma potência de nos desconcertar com frases brilhantes. Ela traz elementos antiestéticos, o mal estar e a felicidade. Ela tem uma pontuação esquisita. Ela nos confronta, causa um estranhamento, até repulsa. Deixa a carne viva, nas entranhas das situações. Às vezes, a gente não está preparado para essa entrega que ela quer nos dar. A gente fica bem arrebatado com essas estranhezas. Em termos de sensação, não dá para ficar no morno com a Clarice. Você tem que enfrentar, aceitar aquele convite que ela faz para entrar na linguagem.