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Dia da Visibilidade Trans: demandas além da visibilidade
Vida & Arte

Dia da Visibilidade Trans: demandas além da visibilidade

Afirmação da existência da não-binariedade e luta por políticas afirmativas na arte para a população trans são demandas de artistas convidadas pelo V&A
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Levi Banida é artista, performer e professora não-binária (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Levi Banida é artista, performer e professora não-binária

Proclamação de existência

Pessoas não-binárias existem. Esta leitura, tanto quanto a escrita, já é uma proclamação. Escrevo com corpo, em estado de criação, as palavras que agora afirmo. Pessoas não-binárias existem, e não dependem da aprovação de ninguém para continuar andando nas calçadas, dormindo nas camas e redes, trabalhando, tomando banho e fazendo o que tiverem que fazer em seu dia, afirmar sua existência. Existimos ao passo que nos criamos - criando, assim, outros referenciais para nossa vida. A não-binariedade não é fuga do binário, não é a fuga das noções instituídas do que é homem ou mulher. Estamos criando outras linhas de movimento, de transmutação, de transgressão e de transição que apontam para diversos caminhos, e não lidamos com a binariedade e a cisgeneridade como referência, nem de fuga. E quando falo isso, proponho que entendamos a binariedade e a cisgeneridade também como criação - o fato é que o gênero inteiro é uma invenção, historicamente reforçada, e que algumas facetas desse gênero são mais aceitas e menos violentadas que as outras. Pessoas não-binárias existem - e eu escrevo isso porque estou aqui, existindo e falando com vocês. Eu existo.

Levi Banida é uma pessoa não-binária, professora, interartista fortalezense e Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Artes pela Universidade do Ceará

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FORTALEZA, CE, BRASIL, 24.01.2021: Especial Vida&Arte sobre Visibilidade Trans. Artista Visual,  Noá. (Foto: Thais Mesquita)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 24.01.2021: Especial Vida&Arte sobre Visibilidade Trans. Artista Visual, Noá. (Foto: Thais Mesquita)

Novos acessos

O dispositivo hegemônico da cisgeneridade tem como ponto de partida, na maioria das vezes, a impossibilidade de acessos para pessoas trans e travestis. Dentro do circuito das artes, a captação de recursos para projetos, vide editais públicos e diálogo com patrocinadores de iniciativas privadas, ainda é bastante inacessível. O domínio da cadeia produtiva do circuito artístico ainda é gerenciado por pessoas cisgêneros com pouco interesse em fomentar o trabalho de pessoas trans. Falta disponibilidade para conhecer e incentivar financeiramente os trabalhos de pessoas trans e travestis, criando possibilidades de novos acessos descentralizadores. Em Fortaleza, ainda existem poucas iniciativas que façam circular essa formação, o que ocasiona uma centralização desse conhecimento nas mãos de poucas pessoas. Precisamos lutar por políticas afirmativas para a nossa população trans e as áreas de formação precisam se abrir para essa perspectiva.

Noá Bonoba é artista multilinguagem, curadora e Mestra em Artes no Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Ceará

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