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Crise e relevância no Globo de Ouro
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Crise e relevância no Globo de Ouro

Na busca de reverter a reputação após série de controvérsias e denúncias, evento promoveu cerimônia com surpresas e promessa de mais diversidade
Tipo Análise
Chloé Zhao é a 2ª mulher a vencer a categoria de Melhor Direção
 (Foto: Searchlight Pictures / divulgação)
Foto: Searchlight Pictures / divulgação Chloé Zhao é a 2ª mulher a vencer a categoria de Melhor Direção

A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA) sempre foi encarada como uma organização de gostos específicos, questionáveis, mas "boa-praça". Promotora do Globo de Ouro, o "descolado" prêmio que é um dos passos até o "careta" Oscar, se viu envolta nesta edição em controvérsias que devem afetar o futuro da premiação e passam por problemáticas de diversidade. O fato foi abordado diversas vezes na cerimônia de entrega de troféus, ocorrida no último domingo, 28 de fevereiro, de forma remota. Tentando manter a relevância, o Globo de Ouro apostou no mea culpa, em promessas de mudança e entregou algumas escolhas surpreendentes.

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A HFPA é formada por cerca de 90 jornalistas de diferentes países, um grupo pequeno que sempre foi visto como de escolhas pouco representativas do que pode ocorrer no Oscar, mas que ganhou relevância na lógica da visibilidade. Com controvérsias pontuais em anos anteriores, esbarrou em 2021 numa matéria que revelou a total ausência de votantes negros na Associação.

O fato estimulou uma articulação crítica ao prêmio, capitaneada pelo movimento "Time's Up" - o mesmo que promoveu mudanças importantes na indústria por denunciar abusos e comportamentos inapropriados de homens poderosos. Artistas se uniram à campanha e, na cerimônia, as falhas da HFPA foram abordadas de diferentes formas - das piadas das apresentadoras Tina Fey e Amy Poehler à fala oficial de membros da HFPA, passando por alfinetadas de vencedores e apresentadores convidados.

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Vitórias historicamente importantes funcionaram, também, como "respostas" da Associação às questões. Não substituem ações futuras, mas ressaltam a importância da discussão. O exemplo maior foram as vitórias do drama "Nomaland", da cineasta Chloé Zhao, em Melhor Filme e Melhor Direção.

A diretora é somente a segunda mulher - e a primeira não-branca - a vencer na categoria em 78 edições. A vitória do filme em si faz dele o primeiro ganhador na categoria a ser dirigido por uma cineasta.

 
 
 
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As categorias de atuação em filme de drama foram para intérpretes negros: Chadwick Boseman, por "A Voz Suprema do Blues", em prêmio póstumo; e a surpresa Andra Day, por "The United States vs. Billie Holliday". Na seara de coadjuvantes, Daniel Kaluuya venceu por "Judas e o Messias Negro", reforçando a diversidade na lista.

Os êxitos de "Nomadland" reforçam o favoritismo do longa na caminhada até o Oscar, enquanto as vitórias dos três trazem diferentes impactos na temporada de prêmios: enquanto Boseman se consolida, Kaluuya cresce e Day ganha um bem-vindo espaço na disputa, já que a atriz protagoniza um filme que chegou depois na corrida e não foi indicada a outros prêmios prévios importantes, como o do Sindicato dos Atores.

Em uma temporada de prêmios na qual os quesitos de repercussão e popularidade dos filmes estão mais difusos pela situação das salas de cinema pelo mundo, coube às categorias de TV as vitórias com maior apelo popular. Os sucessos da Netflix "The Crown" e "O Gambito da Rainha" ganharam como Melhor Série de Drama e Melhor Minissérie, respectivamente.

 
 
 
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Além das vitórias nas categorias principais, também levaram outros troféus: Anya Taylor-Joy foi considerada a Melhor Atriz em Minissérie por "O Gambito da Rainha" e "The Crown" levou Melhor Atriz e Ator na seara de série dramática e, ainda, Melhor Atriz Coadjuvante de TV. A plataforma não costuma divulgar os índices de audiência, mas tanto o top 10 do site quanto a repercussão nas redes sociais apontam que as duas produções foram das mais comentadas nos últimos meses.

As vitórias na TV foram importantes para a Netflix, mas o mesmo não pode ser dito sobre as de cinema. Se há anos a presença de filmes do serviço era alvo de fortes debates entre crítica, indústria e público, a necessidade de adaptação atual aumenta o papel das plataformas - afinal, nesta temporada todos os filmes concorrentes, em maior ou menor grau, se utilizam do streaming para chegar ao público.

Apesar da nova relevância aos streamings, o maior deles não tem necessariamente conseguido encontrar êxito nas premiações de cinema nos últimos anos, cenário que pode se repetir em 2021. No Globo de Ouro, por exemplo, a Netflix garantiu 22 indicações, mas converteu somente quatro em vitórias.

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O Prime Video, principal plataforma concorrente, teve sete indicados, convertendo duas vitórias - ambas para "Borat: Fita de Cinema Seguinte". Em porcentagem, o êxito do Prime Video é maior, além do peso simbólico de contar com uma vitória em uma categoria principal, Melhor Filme de Comédia/Musical.

O quanto as tendências apontadas pelo Globo de Ouro impactarão o restante da corrida é sempre um ponto difícil de prever, ainda mais em um contexto de crise interna e externa na HFPA. O prognóstico possível mais certeiro se refere à própria premiação: ou a Associação presta contas e toma para si certas responsabilidades, ou o evento perderá a relevância que ainda tem.

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