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Max Petterson aproxima Paris e Cariri com seu bom humor no Instagram
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Max Petterson aproxima Paris e Cariri com seu bom humor no Instagram

Do Cariri para a Europa, Max Petterson é um mix de culturas. Foi a Paris estudar Teatro, fez bico de limpeza e acabou encontrando um público fiel na internet
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Youtuber cearense que vive na Europa, Max Petterson integra elenco do longa "Bem-vinda a Quixeramobim" e da série "Cangaceiro do Futuro", produções de Halder Gomes (Foto: Allan Bastos/O POVO Cariri)
Foto: Allan Bastos/O POVO Cariri Youtuber cearense que vive na Europa, Max Petterson integra elenco do longa "Bem-vinda a Quixeramobim" e da série "Cangaceiro do Futuro", produções de Halder Gomes

Não ache que você conhece Max Petterson por inteiro. O caririense que viralizou em 2017 ao falar do "calor da molesta" de Paris no verão europeu é aquilo que você vê nos vídeos desde então. Mas não só isso. Nascido no Crato, para onde voltou depois de entrar no curso de Teatro da Universidade Regional do Cariri, Max foi criado pela mãe e pela avó em Farias Brito. Quando foi estudar na Université Vincennes Saint Denis Paris 8, em meados de 2014, jamais imaginou que fosse virar youtuber. "Eu estava passando por um momento de crise artística, acho que todo artista sabe o que é isso. É quando você começa a se perguntar quem você é, eu estou caminhando para onde?".

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Depois do primeiro vídeo bombar (há quem não se canse nunca de rir da pérola "caatinga refrigeralizada"), Max, 27, começou a criar conteúdos voltados para o público da Internet. Dicas de francês, receitas (de onde saiu o hit do crème brûlée), história, viagens e mais recentemente os guias virtuais. Na pandemia, a empresa dele de visitas guiadas em Paris - Descobrindo.Paris -, lançada pós-Youtuber, precisou ficar em segundo plano. E o tempo isolado em casa serviu para aumentar o alcance nas redes sociais. Plural, Max foi capa da última edição da Revista "O POVO Cariri". Confira entrevista com o ator e youtuber.

O POVO - Em linhas gerais, como você descreveria sua origem? 

Max Petterson - Ai, mulher, descrever minha origem. Eu acho que sou uma mistura do todo do Cariri, desse mix de cultura que a gente vive naquele local. Eu sou um pouco da Chapada, daquela nascente, parece um negócio meio poético, mas é verdade. Porque quem é caririense e vive fora do Cariri, quando retorna às origens, eu acho que se identifica muito com isso que eu estou falando. A gente é a cajuína, nós somos o pequi, nós somos aquelas ruas de Juazeiro. Então, tipo assim, o Cariri é um estado de espírito, sabe? É algo que vai além, é difícil de explicar. Eu acho que todo caririense fala muito bem do Cariri, porque o Cariri é uma região muito rica culturalmente, essa é a minha origem, sabe. Eu acho que tudo que eu sou é o Cariri, e tudo que o Cariri é o que eu sou. Vai de cada pessoa, é difícil de explicar, mas é um pouco disso.

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O POVO - Quais trabalhos você já fez na França desde que chegou?

Max - Meu primeiro trabalho na França foi de ménage. Max, o que é isso? Eu digo, mulher, ménage na França é faxineiro, é limpeza. Era um bico, eu já trabalhei de faxineiro nos escritórios, limpava os escritórios à noite, trabalhei de entregador, fazia entregas de delivery na mão, porque eu não tinha moto nem carro, eu ia de ônibus, aí fazia as entregas. Trabalhei como bico de produção, o pessoal ia gravar os documentários, eu segurava os canos de microfone, de luz, o que tivesse eu tava fazendo. Depois, começou a melhorar quando eu fui aceito para trabalhar na primeira loja de prêt-a porter, que são marcas fashions de Paris, e comecei a trabalhar como vendedor e comecei a ganhar experiência, passei uns dois anos no ramo da moda. Comecei a trabalhar em grifes maiores depois eu já tava bem em Paris, bem assim, muito melhor do que eu estava antes, Eu só larguei o prêt-a porter quando comecei a me dedicar a minha empresa de guia de turismo, a Descobrindo. Paris, que abri pós-Youtube. Hoje eu vivo só de internet.

O POVO - Você se cobra ser engraçado nos vídeos? Ou tenta ficar natural?

Max - Há o meio termo nisso daí, é sim e não. Tipo assim, os vídeos do Youtube são mais roteirizados do que do Instagram, o Youtube o que que eu roteirizo: hoje eu vou falar sobre o Louvre, aí eu estudo sobre, vamos supor, sobre a Monalisa, aí eu jogo palavras-chaves, a Monalisa foi feita por Leonardo da Vinci, a Monalisa já foi roubada, a Monalisa fica não sei aonde. Como eu vou falar sobre essas coisas, é espontâneo, entendeu? Mas eu preciso roteirizar para saber o que eu devo falar. Fala sobre aquela história lá, eu não tenho a história escrita, a história está na minha cabeça, a forma como eu vou falar, isso sim é espontâneo, mas o vídeo, roteirizado.

O POVO - A que você atribui o sucesso dos seus vídeos? É o sotaque, a desmistificação do glamour de Paris?

Max - Total, muita gente olha para mim e: Ah, obrigado por você ser quem você é, obrigado por você não esquecer suas origens. Eu digo, gente, era o mínimo que eu poderia fazer, porque essa roupa eu comprei em Paris, esse cabelo eu cortei em Paris, mas o sotaque foi a única coisa que me restou do Cariri, é quem eu sou, se eu saio sem trilhar um caminho, no dia que eu me perder, eu não consigo voltar para de onde eu vim. Talvez, eu não volte mais nunca a morar no Cariri, mas isso não quer dizer que eu não esteja no Cariri, porque lá é onde eu refaço minhas energias. Eu acho um absurdo pessoas que precisam excluir um local para dar lugar a outro, o fato de eu gostar de Paris não me faz gostar menos de Juazeiro do Norte, do Crato. São coisas distintas, são histórias distintas, realidades distintas, o que o Crato tem a oferecer, Paris não tem. Aproveite o local onde você está, eu acho que é o fato de eu pensar assim, as pessoas ficam muito felizes, gratas. Mas, na minha cabeça, eu acho surreal, porque eu acho que era o básico lembrar de onde veio. Mesmo que você não goste, é preciso que você saiba para entender até onde você está.

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O POVO  - Onde você quer chegar profissionalmente nos próximos anos?

Max - Eu espero chegar até onde eu conseguir chegar, eu não tenho barreiras, não. A gente não pode se limitar na vida, até 2016, eu jamais pensei que eu fosse ser youtuber, hoje, minha vida gira em torno disso. Às vezes, a gente programa uma coisa, e a vida mostra outra, que não é diretamente aquilo que a gente queria, muitas vezes até melhor, quando você fica "engessado" para uma coisa, muitas vezes você não dá abertura a outra, e fica batendo contra a parede enquanto a porta está ali do lado. Eu sou uma pessoa muito aberta, eu acho que é extremamente interessante a gente se policiar, estudar, ter objetivos, e ir atrás das coisas. Não estacione, se você acha que a vida está boa, não vá atrás de uma coisa difícil, mas tenha sempre um desafio na sua vida, porque aí você vai progredir. Eu sou um pouco assim, eu não sei o que eu quero, não, mas eu sei o que eu tenho que fazer.

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