Quantas experiências são vividas ao longo de 20 anos? Quantas histórias podem ser contadas ao longo desse tempo? Se por acaso for difícil contabilizar todos os eventos, ao menos é possível costurar o percurso trilhado com momentos importantes de uma jornada. Nesse sentido, para celebrar os 20 anos de existência do Grupo Imagens de Teatro, será lançado no sábado, 20, uma exposição fotográfica relembrando os trabalhos do coletivo ao longo do seu período de atuação. Além disso, será veiculado, no dia 30, um documentário sobre o grupo.
A trajetória do Imagens se inicia a partir da "perspectiva de levar um teatro mais desagradável", como afirma o diretor Edson Cândido. Os primeiros passos foram dados quando Cândido, natural do município de Orós, foi para São Paulo e conseguiu participou de formações teatrais. Lá, montou o espetáculo "Meia-Sola", de Benedito Rodrigues Pinto, e assim rumou pela linha de montagem realista de autores tidos como "Malditos".
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Quando retornou ao Ceará, Edson participou de uma oficina no Sesc e, ao conhecer outros participantes, começou o estudo para a montagem do espetáculo "Imagens", também de Benedito. Seguindo esse processo de investigações e montagens aprofundando o realismo da sociedade marginal, firmava-se, então, o início do percurso do Grupo Imagens de Teatro.
O coletivo passou a fazer trabalhos experimentais para "dar vida" a essas obras. Por meio do "Teatro Itinerante de Plínio Marcos", foram apresentados os espetáculos "Navalha na Carne", "Abajur Lilás" e "Dois Perdidos Numa Noite Suja" na porta da boate LGBTQIA Divine, em Fortaleza. Em seu repertório, o grupo recebe influências de autores como o próprio Plínio Marcos e também Nelson Rodrigues.
As montagens feitas pelo grupo partem de uma "pesquisa etnográfica" realizada pelo próprio coletivo, com atores mantendo uma "rotina de vivência" nos espaços dos quais serão extraídos os temas dos espetáculos. Em "Abajur Lilás", por exemplo, houve o convívio em um bordel. Em "Barrela", imersão em um presídio. No "Navalha Na Carne", os integrantes foram a cinemas pornôs localizados no centro da Cidade. Assim, o grupo propõe, aos espectadores, a visitação a ambientes que não frequentam diariamente e fala sobre públicos que não são tão visibilizados socialmente.
"Quando nós temos a oportunidade, através da nossa arte, de dar vez e voz para essas pessoas falarem, nós estamos montando uma arena para que o público possa entendê-las. É ele quem vai julgar e dizer, nesse momento, quem é gente e quem não é. E o público refletirá: 'Será que eu sou gente também? Será que eu sou diferente de quem está ali se prostituindo, ganhando seu pão de cada dia?", enfatiza Edson. Dessa maneira, segundo o diretor, os espectadores perceberão que também podem ser culpados pela existência das situações retratadas, pois, em sua visão, se as pessoas vivem em uma sociedade com tais dificuldades e não fazem nada para melhorá-la, então possuem parcela de culpa sobre isso.
As adversidades decorrentes da pandemia afetaram as atividades do Imagens. Sem poder realizar apresentações presenciais, o coletivo não aderiu ao movimento da virtualidade durante este período, pois, segundo Edson, o grupo "precisa da respiração e do olhar do público". Assim, não está promovendo seus espetáculos atualmente, apenas fazendo reuniões on-line com os integrantes. "O nosso teatro precisa do público, pois ele é um elemento chave para a nossa narrativa dentro da cena", complementa. Em meio a isso, o diretor reforça a importância de políticas públicas que auxiliem profissionais da cultura.
Sobre os aprendizados de duas décadas de trajetória, Edson reflete: "É muita perseverança, acreditar nas pessoas com quem você trabalha e que hoje você pode receber um 'não', mas amanhã terá um 'sim'. Se você não tem empatia e não se coloca no lugar do outro, você não consegue resistir nem criar força para se manter vivo na cena".
Para marcar o momento expressivo de comemoração dos 20 anos do Grupo Imagens, uma exposição virtual e um documentário serão lançados nos dias 20 e 30 deste mês, respectivamente. A exposição reunirá fotografias dos trabalhos do grupo capturadas ao longo do seu período de atuação, com fotos de profissionais como Sol Coelho, William Ferreira e Tim Oliveira.
O documentário apresentará uma narrativa dos 20 anos do grupo a partir de depoimentos e da memória afetiva de atores e técnicos que trabalharam nos espetáculos do Imagens. Assim, eles falarão a respeito das percepções que têm sobre si mesmos na cena artística e quais as suas experiências nessa trajetória.
Grupo Imagens 20 anos
Exposição Fotográfica
Quando: Abertura no dia 20 de março
Onde: Site do Theatro José de Alencar
Doc 20 anos
Quando: Estreia dia 30 de março, às 19 horas
Onde: Youtube do Theatro José de Alencar