É um simples comercial de TV. Mas dá para se pensar mais. Quem viu Os Jetsons estrelando campanha para uma instituição financeira? Revisitar essa família levanta alguns pontos, além do futuro automatizado. Marca um período de referência para o futuro: uma década que foi permeada pela ida do homem à lua, sete anos após a estreia do desenho, em 1969. Até os anos 1970, vivia-se esse reflexo de uma das maiores aventuras do homem envolvendo ciência e tecnologia, que influenciou toda uma geração de designers, inclusive.
Pierre Cardin, André Courrèges, entre outros nomes da moda, emprestaram-se dessa vibração cibernética para materializar desde óculos cobrindo quase todo o rosto (tipo as máscaras produzidas em acrílico com óculos embutidos como solução à prevenção de Covid-19), a roupas com círculos vazados propositalmente e chapéus imitando capacetes espaciais. Tudo válido, para o que se pensava futuro, naquele presente. A mistura do metalizado, do branco e do azul, além do transparente, este, anos mais tarde, icônico, feito pela Miu Miu, na fuga de Zhora em "Blade Runner - Os Caçadores de Androides" (1982).
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Coleção Space Age, em 1964, de André Courrèges
Após-futuro? A chegada do novo milênio também antecipou e influenciou diversas questões quanto ao por vir. Um novo ciclo das tendências saia de órbita, mais laminado do que entrou, até nos deparamos 20 anos após e com uma crise sanitária no meio. Como em tempos anteriores, sempre paralelo à realidade político-sócio-cultural da época, em 2020, começo da nova década, o mundo (da moda) "se fechou" ao brilho, dando prioridade ao conforto ocasionado pelo estilo de vida em meio ainda à uma pandemia. Mas com a chance de vacinação, a opulência antes diminuída reaparece nas coleções. Os significados, porém, são outros. Pertencem a este momento.
Vão de escapismo, como propôs Balmain, com convite à descoberta de Marte a mergulho literal no tema Space Age, como fez Moschino recentemente, para apresentar nova versão de perfume. Escalou uma modelo vestida de astronauta. Coincidência? Das passarelas internacionais ao comercial que se vê na TV, passando pela estética retrofuturista, que mistura elementos do passado, como é da Dua Lipa, na música, talvez não. A sintonia, aparentemente, é essa. Estamos num novo futuro. Nem Marty McFly, ao lado do Doc Brown, conheceu.
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