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Da ditadura à pandemia, 55 anos de história do Teatro Novo são contados em Livro
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Da ditadura à pandemia, 55 anos de história do Teatro Novo são contados em Livro

No Dia Mundial do Teatro, o Vida&Arte celebra a trajetória do grupo Teatro Novo, que comemora 55 anos de história com lançamento de publicação
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Capa do Livro 'A Trajetória do Teatro Novo' (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Capa do Livro 'A Trajetória do Teatro Novo'

Da década de 1960 até aqui, a relação entre artista e palco se transformou, ganhou novos sentidos e se reinventou no contato com o público. Ao longo de 55 anos desde a sua criação, o grupo cearense Teatro Novo viu e viveu todas essas metamorfoses e, entre censuras da ditadura militar e desafios da pandemia de Covid-19, sobrevive. Para celebrar tanta história, a companhia reúne suas memórias no livro "A Trajetória do Teatro Novo", obra contemplada pela Lei Aldir Blanc no ano passado. A publicação possui versão digital e está disponível gratuitamente.

"Não poderíamos deixar de celebrar esse marco para o veterano Teatro Novo, que tem mais de meio século e vem colaborando ativamente para o cenário teatral de Fortaleza", ressalta Sidney Malveira, diretor da companhia. O artista, que comemora 25 anos de carreira em 2021, destaca que o livro promove a divulgação do patrimônio histórico imaterial, preserva a memória cultural e consolida o grupo no cenário teatral cearense. Mais de 150 integrantes, dentre artistas, técnicos e produtores, contribuíram para a construção do Teatro Novo durante as cinco décadas de existência, segundo o diretor, sendo uma das mais antigas e resistentes companhias do Ceará.

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O Teatro Novo foi criado pelos diretores de teatro Marcus Miranda e Aderbal Freire Filho em parceria com a atriz Maria Luíza Moreira. Para marcar a estreia do grupo foi realizada a montagem de "Deu Freud Contra", de Silveira Sampaio. O espetáculo foi um grande sucesso e projetou, Ceará afora, os artistas-fundadores do grupo, em especial Marcus Miranda. Ele iniciou a carreira no teatro em 1951, na capital cearense, como ator e diretor da peça "O Noivo de Luiza", de Saint-Clair Senna. Os críticos da época o chamavam de "O Grande Ator", devido sua capacidade de arrancar risadas do público, mas de também fazer com que a plateia chorasse com sua atuação.

Capa do Livro 'A Trajetória do Teatro Novo'
Foto: Divulgação
Capa do Livro 'A Trajetória do Teatro Novo'

Na primeira fase, o grupo era formado por atores e atrizes que faziam sucesso nas telenovelas e programas ao vivo na TV Ceará Canal 2. Assim como a televisão havia recrutado artistas de teatro, as artes cênicas aproveitaram os artistas da TV. Antonieta Noronha foi um dos destaques da televisão que fez parte do Teatro Novo. Participaram do grupo nomes como Walden Luís, Marcelo Costa, Clóvis Matias, Jório Nerthal, Erotilde Honório, Ricardo Guilherme, Ilclemar Nunes, Hugo Bianchi, Leuda Bandeira, Mazé Figueiredo, Ary Sherlock, Jane Azeredo, João Antônio, Deugiolino Lucas, Ana Marlene, entre outros.

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Entre 1972 e 1974, as produções do Teatro Novo ficaram paradas. Maria Luíza, uma das fundadoras, decidiu encerrar sua carreira em 1972 e Aderbal foi para o Rio de Janeiro. A volta da companhia veio em 1975, com direção de Miranda, que se juntou à atriz Erotilde Honório na montagem de "Presépio na Vitrine", texto de Roberto Freire. Em 1976, o grupo desenvolveu um amplo trabalho artístico-educativo em colégios da Capital e do Interior, levando apresentações e debates sobre teatro.

Em 1978, foi a vez de Marcus Miranda se afastar dos palcos, devido a problemas de saúde. Por conta disso, Miranda e o Teatro Novo ficaram parados por oito anos consecutivos. Mas em 1987, ele volta às atividades e dá início à chamada quarta fase do Teatro Novo, com a montagem de "Os Inimigos", adaptação da peça de Pedro Bloch "Os Inimigos Não Mandam Flores". No ano seguinte, é convidado para participar de obras no cinema e, também, de peças teatrais de outros grupos, o que resultou em uma pausa de nove anos para o grupo. Após décadas de muitos desafios e reconhecimentos, em 2001, a companhia deu início à sua quinta fase, quando Miranda conheceu o então estreante Sidney Malveira, que havia concluído recentemente o curso de Direção Teatral no Instituto Dragão do Mar em Fortaleza (CE). Sidney recebe o convite para assumir a direção e produção do espetáculo "Dorotéia vai à Guerra", de Carlos Alberto Ratton. A dupla faz a montagem deste espetáculo em comemoração aos 50 anos de carreira de Marcus Miranda.

Marcus Miranda. Aderbal Freire Filho, José Humberto, Iris Breno e Maria Luiza
Foto: Divulgação
Marcus Miranda. Aderbal Freire Filho, José Humberto, Iris Breno e Maria Luiza

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Em 15 de outubro de 2001, as cortinas se fecham para Miranda. Com 72 anos de idade, o diretor tinha muitos planos, mas sua saúde já estava debilitada, resultando numa parada cardíaca. O grupo se despede do principal personagem dessa história, mas o show não podia parar. Sidney deu continuidade às atividades da companhia e o legado do mestre. Desde então já realizou 16 espetáculos com sua assinatura.

O trabalho de pesquisa para a realização do livro foi feito pela atriz Drycca Freitas, que está no grupo há 18 anos. Nos bastidores, Drycca viveu de perto a história do grupo, convivendo com personagens muito importantes, como Marcus Miranda. "Foi um trabalho muito minucioso, muito detalhado. Ela, por ser jovem, traz uma linguagem coloquial e uma narrativa interessante, para fazer com que o leitor se delicie e se envolva nas fases que o Teatro Novo passou", comenta Sidney. Luciano Morais e Ricardo Guilherme também integraram a equipe de pesquisa.

A obra está disponível gratuitamente, através do site do Teatro Novo (grupoteatronovo.com.br). Sidney conta que a ideia de lançar a obra virtualmente é para facilitar o acesso a história do grupo e ao mesmo tempo se adaptar aos novos formatos. Os exemplares físicos serão doados para algumas bibliotecas, principalmente para os cursos de Artes Cênicas das universidades. Além do livro, o site também disponibiliza vídeos de espetáculos e galeria de imagens.

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Nos últimos anos, o grupo tem se reinventado para manter o repertório, principalmente durante a pandemia. Sidney informa que há planos para que alguns eventos aconteçam ao longo de 2021 em comemoração aos 55 anos, como lives, bate-papo e a estreia do espetáculo "Jerônimo Mendonça, Uma Estrela" no segundo semestre deste ano, iniciando uma nova fase do grupo.

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