“A comida aproxima e gera afeto”. As palavras da jornalista e colunista do O POVO Lêda Maria anunciam a importância da gastronomia para a união de pessoas e também para a tradição de encontros familiares em torno da mesa. Nesse sentido, surge o segundo volume do livro “Memória Gastronômica de Famílias Cearenses”, que apresenta histórias e receitas de cozinheiros que trazem a gastronomia para reforçar a confraternização familiar.

Leia também | Programa com Gilmar de Carvalho ganha exibição no Canal FDR

O trabalho foi desenvolvido pela Editora Dummar antes do início da pandemia no Ceará e teve concepção geral de Lêda Maria. A publicação deste novo volume teve projeto gráfico e edição de arte de Andrea Araujo e design de Miqueias Mesquita. A iniciativa dá prosseguimento ao primeiro livro, que surgiu com o propósito de resgatar o encontro familiar cearense semanal em torno da mesa e, ao mesmo tempo, trazer aspectos da culinária regional.

Na primeira edição, foram retratadas 12 famílias do Estado que praticavam o “almoço dominical”. Nesta, a diferença está no objetivo de enfatizar personagens masculinos e assim, segundo Lêda Maria, mostrar que homens também vão à cozinha para preparar refeições.

Entre os 12 cozinheiros retratados estão profissionais de diferentes áreas. Em comum, eles carregam consigo a paixão pela cozinha e se reúnem semanalmente com suas famílias em torno da mesa para alimentação. Esses foram, aliás, os critérios de seleção, segundo Lêda Maria: “Não bastava apenas gostar de cozinhar, era preciso ser apaixonado”. A obra também homenageia o chef Fernando Barroso.

Leia também | Da Itália para o Ceará: cannoli ganham versões regionais e conquistam paladares

Em “Memória Gastronômica de Famílias Cearenses”, cada cozinheiro apresenta uma receita especial que se destaca em sua prática na culinária. O leitor que se aprofundar na obra encontrará fotos de Roberto Kennedy de pratos como magret de pato com risoto, ragu de carneiro, camarão sertanejo e até bulim cearense. “Cada receita é mais saborosa e original que a outra”, comenta Lêda Maria.

Outro aspecto ressaltado pela jornalista sobre as receitas apresentadas no livro é o uso da criatividade na montagem dos pratos. Abelardo Targino, Alexandre Reis, Cristiano Lins, Edil Costa, Fernando Novais, Marcos André Borges, Maurício Filizola, Rafael Sudatti, Rodrigo Macêdo, Ronaldo Carvalho, Sidney Cutrim e Yuri Torquato trazem pesquisas e temperos locais para incrementar o sabor de seus pratos e torná-los “únicos”.

Segundo Lêda, para ressaltar a memória da afetividade familiar o livro centraliza seus destaques na comida e na “prática do cearense de estar junto”. Assim, alega que nenhum dos cozinheiros trabalha sozinho, pois sempre há companhia. “É bonito dizer que a comida aproxima, gera afeto, cativa as pessoas e faz um brinde ao amor, tanto por meio da bebida quanto por meio da conversa. Há um brinde permanente. É um resgate da alegria cearense. Todos celebram a alegria de fazer algo juntos”.

Complementando a ação conjunta na gastronomia, houve também o convite do presidente da Fecomércio Ceará, Maurício Filizola, para os outros cozinheiros presentes no livro fazerem seus pratos na estrutura do Senac Reference. Alguns desses momentos foram registrados em vídeo e disponibilizados no canal do O POVO no YouTube.

Leia também | Confira dicas e receitas na coluna Gastronomia em Foco, exclusiva para leitores do Vida&Arte

Para a colunista, a publicação deste novo volume representa “um projeto cheio de sabores e de saberes”, e contribui para o resgate de uma prática familiar: “É um momento sublime da continuidade de uma tradição que eu prezo muito, que é a família. A família contando a sua história através da marca culinária. Para mim, foi um ritual de beleza, de criatividade e até de ousadia”.

Entre as receitas presentes no livro, está a de Peixada Cearense Tradicional, destaque do jornalista e empresário Marcos André Borges. Ele se considera um “curioso na cozinha” e ressalta o intuito da publicação de tentar “resgatar o DNA gastronômico” de famílias cearenses.

Leia também | Confira a agenda de atividades culturais para este fim de semana

Foi a partir de sua vivência familiar, aliás, que surgiram seus primeiros passos na culinária, quando observava, ainda na infância, avó, mãe e tias cozinharem. Além disso, ele acompanhava seu pai quando ia comprar peixes no Mucuripe. Assim, eram comuns os momentos de confraternização em família em torno da mesa e com influências marítimas na alimentação.

Os anos se passaram e o desejo de atuar de alguma forma com a culinária permaneceu. Hoje, Marcos André desenvolve essa atividade como um hobby. “Adoro pegar e tratar carnes, peixes, aves, temperos, além de fazer churrascos em fins de semana tomando cerveja ou vinho”, acrescenta.

Ele destaca a importância de se reunir com sua família, instantes que considera “muito especiais”. O jornalista, suas filhas e sua esposa permanecem em sua casa no Cumbuco durante a pandemia, e os encontros em torno da mesa para alimentação ocorrem com orações e conversas sobre a rotina enquanto degustam “uma boa comida”. E nada de celular durante a reunião, segundo Marcos André, pois esses “são momentos sagrados”.

Para o empresário, o ato de cozinhar está diretamente relacionado ao resgate de lembranças de momentos marcantes de sua vida em família. Essas memórias vêm a partir de sentidos como audição, olfato e o tato, por exemplo. "Lembro de momentos da minha infância vendo a minha avó ao som de um pilão, do cheiro da carne de charque no feijão e eu mexendo nas carnes, peixes e aves no balcão", afirma.

Ainda sobre a relação entre a gastronomia e a afetividade familiar, Marcos André acrescenta: "Para mim, cozinhar representa um ritual de preparação, entre um gole e outro de vinho ou cerveja, num bate-papo entre amigos celebrando a vida. E simboliza, principalmente, a união da família e o aconchego do lar".

"Memória Gastronômica de Famílias Cearenses - Volume 2"

De Lêda Maria
Editora Dummar
160 pág.
Quanto: R$ 99
Onde comprar: Livraria Dummar (av. Aguanambi, 282 - José Bonifácio, Fortaleza - CE) ou no site www.livrariadummar.com.br

Receita de peixada cearense tradicional

Ingredientes:
- 1kg de filé de sirigado (posta)
- 3 dentes de alho
- 1 limão
- 2 tomates
- 2 cebolas
- 1 pimentão vermelho
- 1 pimentão amarelo
- 1 cenoura grande
- 2 batatas
- 1 vidro de leite de coco
- Azeite
- Colorau
- Cheiro verde a gosto
- Sal a gosto

Preparo:
Tempere o peixe com sal, limão, alho (reserve). Cozinhe a cenoura e a batata em pedaços grandes (reserve). Corte os pimentões, as cebolas e os tomates em quatro partes, separe um pouco de cada e corte em pedaços pequenos. Em uma panela grande, refogue as verduras picadas com azeite, um pouco de sal e colorau. Acrescente 400ml de água fervente e deixe ferver por cinco minutos. Acrescente o peixe e as verduras cortadas em quatro partes e deixe por mais cinco minutos. Acrescente o leite de coco, as verduras cozidas e o cheiro verde. Deixe ferver por mais dois minutos e retire uma parte do caldo para fazer o pirão. Para o pirão, coloque no caldo duas colheres de farinha de mandioca. Acrescente o pirão no caldo e vá mexendo até engrossar. Acompanhamento: Arroz branco.

Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker.