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Humor nas estrelas: a história de Victor Alen na ciência e na arte
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Humor nas estrelas: a história de Victor Alen na ciência e na arte

Um dos pioneiros da stand-up comedy no Ceará, Victor Alen une paixão por Astronomia, humor e audiovisual em décadas de carreira
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 24-04-2021: Victor Alen, que interpreta Toninho em "Cabras da Peste" (Netflix), é comediante cearense, produtor, divulgador científico e professor de Astronomia. (Foto: Fernanda Barros/ Especial Para  O POVO) (Foto: Fernanda Barros/Especial para O POVO
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Foto: Fernanda Barros/Especial para O POVO FORTALEZA, CE, BRASIL, 24-04-2021: Victor Alen, que interpreta Toninho em "Cabras da Peste" (Netflix), é comediante cearense, produtor, divulgador científico e professor de Astronomia. (Foto: Fernanda Barros/ Especial Para O POVO)

Era quase como um chamado de outro planeta, daqueles mistérios intergalácticos que mais parecem segredos desta vida e além: Victor Alves Alencar abriu um evento da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) com uma sátira — o então professor da OBA, com apenas 16 anos, brincou com os alunos que dormiam nas palestras, com os palestrantes convidados, com os próprios chefes… Victor ainda não sabia, mas aquele era seu primeiro show de stand-up comedy. "Eu fiz um stand-up de mais de uma hora baseado em Astronomia", relembra aos risos. Três anos depois, aos 19, o estudante de Astronomia Victor Alen tornou-se um dos pioneiros do humor de cara limpa no Ceará.

Graduado em Física, divulgador científico com publicações internacionais na área, ex-colunista do O POVO, comediante e ator de cinema, Victor Alen encontrou céu entre constelações e plateias cheias. "O cearense já nasce gaiato. Eu, que nasci e me criei na Bezerra de Menezes, desde pivetinho sempre fui muito bem humorado, sempre gostei muito de teatro, sempre adorei cinema e livros. Adorava ver os bastidores de filmes, lembro como se fosse hoje de assistir ao VHS de 'O Senhor dos Anéis' e ficar apaixonado pelos efeitos, pelo que há por trás da câmera", rememora Victor. "Mas Astronomia me fisgou muito novo. Comecei a estudar ainda com 9 anos".

Sobrinho de uma professora de Biologia, o pequeno Victor encantou-se pelos astros influenciado pela tia Gorette. "Na minha escola, tinha aulas extras para crianças que gostavam de Física e eu ia todos os sábados. A minha tia me indicou conversar com o meu professor de Física, que era também professor de Astronomia. Quando ele começou a me explicar sobre Astronomia, meus olhos começaram a brilhar, eu literalmente comecei a viajar pensando sobre o efeito estufa de Vênus, se tinha ou não tinha Vida em Marte, como foi descoberto… Eu estava descobrindo o universo pela primeira vez escutando o professor".

Heliomárzio Moreira, professor de Victor, inscreveu o aluno na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica. "Dos 10 anos até não poder mais, eu participei de todas as olimpíadas ganhando medalhas. Viajei durante vários anos para São Paulo para fazer prova das seletivas internacionais", explica Victor. "Quando eu tinha 16 anos, a Olimpíada Brasileira me chamou para compor o time de docentes que preparavam os alunos para as provas e eu me tornei professor de Astronomia. Conheci boa parte do Brasil como professor: Rio, São Paulo, Londrina, Búzios, Manaus… Até meus 21 anos, dei aula em cerca de 90% escolas particulares de Fortaleza", acredita.

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"A área que eu mais pesquisei é Arqueoastronomia, que é a Astronomia dos povos antigos, como os gregos e astecas viam o céu, como o ser humano começou a criar consciência que as estrelas eram outros mundos… Durante muito tempo, Astronomia Cultural foi o que mais me interessou", compartilha. Na época, Victor escrevia a coluna Cosmos para O POVO — que ainda assinava como Victor Alves Alencar. O exercício de escrita foi fundamental para a reviravolta profissional do jovem astrônomo: certa feita, Victor aventurou-se a escrever um roteiro de stand-up e procurar casas de show para apresentá-lo.

"Astronomia começou como um trabalho e hoje eu trato muito mais como um hobby. A comédia, que começou como um hobby, hoje eu trato como trabalho. Eu nunca vou conseguir me desvencilhar da Astronomia — a gente que gosta da área brinca que, uma vez que você é infectado pela Astronomia, você não larga mais porque não tem como, é como se a sua consciência fosse expandida, você sabe como o universo mexe as engrenagens", admite. "Como eu nunca vou conseguir me desvencilhar da Astronomia, eu optei por dar um foco maior para a minha carreira de comediante".

O que fisgou Victor na comédia, garante o humorista, foi o frio na barriga antes de entrar no palco da Open Mic Comedy. "Não é nada fácil, a comédia é uma arte muito sutil. Montei um texto e sai perturbando pra ver se eu conseguia me apresentar nas casas de humor, mas na época tinha muita resistência porque o humor de personagem sempre foi muito forte no Ceará. Os produtores me questionavam muito se eu ia apresentar de camisa e calça jeans, esse humor de cara limpa com piadas autorais. Mas saí do meu primeiro show conversando com outros comediantes e eles me disseram que, para um primeiro show, foi perfeito", relembra.

Nos últimos 10 anos, Victor Alen se consolidou na comédia: ao lado de nomes como LC Galetto e Moisés Loureiro, o comediante mostrou que Ceará também é terra de stand-up. O fortalezense já se apresentou com grandes nomes do humor nacional, como Edmilson Filho ("Cine Holliúdy"), Gustavo Mendes (Multishow), Maurício Meireles (CQC), Murilo Gun, Diogo Portugal e Fábio Rabin e muitos outros. Durante dois anos, integrou também o elenco da Jovem Pan Fortaleza com dois programas líderes de audiência no horário. Em 2015, com cinco anos de carreira, foi gravado o DVD do seu show solo "De Orelha em Pé" com o Teatro Via Sul lotado. Além do stand-up, Victor é ator improvisador e mestre de cerimônias da Cia de Humor 4&Meio.

"Vale a pena frisar o quanto a minha amizade com o Edmilson Filho (que interpreta, entre outros personagens, o protagonista de 'Cine Holliúdy') é importante na minha carreira. A trajetória do artista na comédia é muito volátil, né? Você sabe que os rumos são consequências das suas escolhas, mas é uma coisa que não tem faculdade, não tem um curso… Mas o Edmilson foi literalmente um divisor de águas na minha vida. Foi conversando com ele que surgiu a ideia de fazer o meu primeiro show solo", ressalta Victor. O primeiro show nasceu muito tímido, ainda com poucos minutos, mas deu início a uma crescente trajetória de sucesso. Primo do humorista João Netto, intérprete do personagem Zé Modesto na "Escolinha Professor Raimundo", Victor aprendeu a arte do riso com os melhores.

Com ouvidos atentos e coração aberto, Victor aceitou e seguiu os conselhos de Edmilson Filho e foi construindo uma carreira repleta de amigos, parceiros e referências. "Comecei a trabalhar com o Edmilson e produzi praticamente todos os shows dele. Em paralelo ao meu DVD, comecei a produzir comédia e já fiz shows de Diogo Portugal e Falcão, por exemplo". Nos palcos e plateias, os risos se multiplicavam como estrelas. O astro, então, encontrou no humor a paixão por outras várias artes.

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No próximo dia 30, Victor Alen completa 30 anos. Nestas três décadas de vida muito bem vivida, o comediante tem muito a celebrar — o extenso currículo é prova. Agora, Victor dedica-se a fazer o que mais ama: aprender. Entre aventuras no cinema, o ator participou de "Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral" (2018), "Cabras da Peste" (2021) e "Bem-vinda a Quixeramobim", novo filme de Halder Gomes. "Já comecei a estudar roteiro, os mecanismo para televisão, tudo. O que eu sou hoje é fruto de muito estudo e muita dedicação. Não é nem uma questão de corrida com os outros, mas é questão de você apresentar o seu melhor. Eu quero dar o melhor para o público que vai me assistir, eu quero dar o melhor para pessoa que vai parar aquele momento da vida dela para me ver", finaliza.

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