Um adolescente estudioso e com boas notas na escola. Sua mãe achava que ele seria médico, o destino, porém, foi bem diferente: Eduardo Bruno escolheu ser artista. Hoje, através do projeto "Me ensina a criar", ele mostra a relação de mãe e filho por meio do apoio, respeito e compreensão, ao trabalharem juntos numa criação artística.
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A jornada de Eduardo na arte começou através da universidade. Cursou licenciatura em Teatro pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e tem mestrado em Artes pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, trabalha como professor substituto da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Quando decidiu seguir carreira na arte, sua mãe, Maria Valdênia, conta que inicialmente ficou impactada, mas quando Eduardo decidiu a carreira que queria seguir, ela o apoiou e durante a trajetória do filho, percebeu a importância da arte. "Eu vejo o artista como uma profissão igual a qualquer outra e necessária à toda a sociedade. Se não fosse a arte, a vida não nos bastaria", acredita a mãe.
Eduardo é o único na família que trabalha exclusivamente com arte. Valdênia veio de uma família simples, sem muitas condições financeiras, e por isso, não teve muito contato com a produção artística. Desde 2017, ele tinha o interesse de envolver sua mãe no trabalho, pois ela estava sempre interessada e perguntando sobre o que ele estava produzindo.
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Com a pandemia, Eduardo e Valdênia se viram distantes, numa tentativa de proteger a mãe da Covid-19. Contudo, ele viu o período como uma oportunidade de criar o projeto que tanto queria e de se conectar com a mãe em tempos de isolamento. Assim, surgiu "Me ensina a criar", uma trajetória de mãe e filho e suas descobertas na arte. "O projeto é um processo de ensinar a criar", descreve Eduardo e conta que foi contemplado pela Lei Aldir Blanc, no edital Arte Livre.
Além de mostrar a relação de uma mãe e de um filho, a criação deles remete a outras famílias também. "Muitos pais não entendem, não apoiam", diz o artista sobre a realidade dos seus alunos de teatro. Assim, o projeto busca fazer artistas e familiares refletirem sobre seu relacionamento e trazer o ensino da arte para àqueles que viveram uma vida dedicada ao trabalho, sem acesso à produção artística.
"Se eu acredito tanto que arte é um sistema de emancipação política, emancipação social, e um processo de autopercepção, por que isso não interfere na vida dos meus familiares? Por que essa potência não pode ser emancipadora para minha mãe, que não viveu isso com 20, 30, 40 anos, porque tinha que trabalhar numa empresa, 8 horas por dia? Por que isso agora, que ela conseguiu se aposentar, não pode ser um processo de autodescoberta?", reflete Eduardo.
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Através do filho, Valdênia enxergou a arte com novos olhos. "Ser mãe de um filho artista é ver a arte de uma maneira ampla e irrestrita", acredita. "Neste caos em que vivemos, a arte é o que nos alegra, nos dá esperança, e nos faz acreditar que há algo melhor pela frente", reflete.
Para ela, participar da criação artística juntamente com seu filho foi um processo de crescimento como pessoa e também como mãe. "Foi enriquecedor, tanto para mim quanto para ele, porque o ensinar e o aprender, é uma via de mão dupla. Quando você ensina, você também aprende", comenta.
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O projeto foi dividido em três sequências e a primeira mostra o processo de aprendizado de mãe para filho e de filho para mãe. "O que é performance?" é a pergunta-tema, feita diversas vezes por Valdênia para seu filho, e que deu origem ao livro de investigação teórica sobre a arte de performar, em que Eduardo e convidados respondem a pergunta-título. A obra já está disponível para compra através do instagram Imaginarios (@imaginarios_arte).
A segunda parte, apresenta Valdênia como artista. Durante a infância, Eduardo observava a mãe bordar diversas peças, mas nunca teve contato com a atividade, por ser uma prática considerada "feminina". Quebrando os paradigmas, a mãe passou a ensinar o filho durante o mês de janeiro a fevereiro e ambos retrataram as aulas por meio de lives no instagram, e agora planejam criar sua própria exposição.
Na terceira parte, as divergências de mãe e filho acerca da arte clássica são trazidas para o vídeo arte "Eu odeio ballet. Eu amo ballet", que ainda está em processo de produção. Valdênia, que não teve acesso ao ensino da arte, sempre teve como referência artística as obras clássicas. Em contrapartida, Eduardo não se interessa por esse campo e se considera um artista contemporâneo. Desse modo, mãe e filho experimentam pela primeira vez o balé, como matéria de criação em arte.
Eduardo revela que não o projeto não tem fim, e continuará enquanto quiser falar sobre o tema. Neste sábado, 8 de maio, ele aproveita a proximidade com dias das mães para falar sobre suas criações com Valdênia em uma live com a Rede Cuca às 17h no youtube e convida as famílias a estabelecerem uma maior conexão entre si por meio da arte. Valdênia incentiva que os pais apoiem os sonhos de seus filhos, em vez de depositar seus próprios sonhos neles, porque, para ela, o apoio da família é essencial nesse processo.
Me ensina a criar
Quando: hoje, 8 de maio, às 17 horas
Onde: youtube.com/juvtv
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