A tradição do bumba meu boi segue forte no bairro Pirambu e o Mestre Ciro é um dos guardiões dessa memória. Junto com outros brincantes, ele faz parte de uma história com mais de 300 anos de existência e, apesar dos desafios, segue compartilhando e produzindo arte nas periferias. A trajetória de Mestre Ciro ganha agora documentário produzido por pesquisadores cearenses, que promovem também campanha para ajudar artistas em tempos de pandemia.
Brincante do bumba meu boi desde 1967, Ciro já atuou e coordenou diversos grupos da capital e atualmente está à frente do Boi Juventude, do qual também foi fundador, e o grupo Boi Pingo de Ouro, no bairro Álvaro Weyne. A tradição vem do seu avô, que passou para o seu pai, e, com o falecimento dos dois, ele passou a dar conta.
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Fotógrafo, produtor cultural, designer e filmmaker, Wesley Farpa se juntou a Ciro para desenvolver o documentário onde o mestre conta detalhes sobre a produção do bumba meu boi nos dias de hoje. As imagens foram gravadas em 2019 e mostram o espetáculo que há muitos anos reúne amigos, familiares e vizinhos que apresentam o sagrado e o profano pelo olhar dos brincantes de rua do litoral cearense.
Foi por meio da socióloga Thalyta Vale que Wesley chegou até Ciro. De 2017 a 2019, a pesquisadora realizou um trabalho de campo com grupos de bumba meu boi na região do Pirambu, chegando até o Boi Juventude, liderado por Mestre Ciro. Para escrever sua dissertação de Mestrado em Sociologia, ela queria aprender mais sobre a tradição e fez diversas entrevistas para conhecer e acompanhar os grupos de bumba meu boi.
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A pesquisa resultou no trabalho "O Bumba Meu Boi na Fortaleza Contemporânea". "Eu busquei compreender essa prática cultural e mostrar como essas situações rituais não só dizem muito sobre a realidade dos brincantes e da Cidade, mas também atuam sobre essa realidade, sobretudo por meio do tensionamento de fronteiras e da constante reconstrução de identidades pessoais e coletivas", explica a socióloga.
Para sua tese, além das entrevistas ela também precisava de fotos e foi assim que Wesley passou a integrar a pesquisa. Eles entraram num acordo para que o fotógrafo pudesse registrar as apresentações dos grupos e quando conheceu o Mestre Ciro, Wesley conta que se encantou pela história e viu que precisava registrar ainda mais a presença da tradição.
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Os grupos incluem crianças e também pessoas mais velhas. Antes da pandemia, os ensaios eram intensos durante a semana. Hoje, o Mestre Ciro enfrenta o desafio de manter a tradição viva. Com as atividades paradas e sem ajuda do governo, os grupos não têm mais fonte de renda, que vinha dos festivais que participam. "Muitos anos atrás, a cultura do bumba meu boi era uma das maiores de Fortaleza, mas hoje me sinto muito triste, porque é uma cultura de muitas gerações mas não tem sido muito olhada", desabafa Ciro.
"Ele tem uma potência de conhecimento de vida muito grande, relacionada à própria cultura dele", diz Wesley sobre o bricante. O filmmaker lamenta que Ciro ainda não seja considerado Mestre da Cultura, porque o título poderia ajudá-lo a superar os desafios da pandemia. "Ele já é um Mestre da Cultura, mas não foi reconhecido e por isso não recebe os benefícios do título, e isso mexe muito com ele, porque ele não se sente valorizado", afirma.
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Para Wesley, os grupos comandados por Ciro além de manterem a cultura local viva, também são responsáveis por aumentar a autoestima da comunidade. Ele revela que, com o salário limitado de aposentado que Ciro recebe, ele mantém a si mesmo, ajuda quem puder e ainda mantém os grupos. Nas palavras de Wesley, o mestre dedica "tempo, dinheiro e sua vida" para garantir a continuidade da tradição do bumba meu boi.
Para contribuir com a tradição, o documentário também oferece espaço nos créditos em troca de doações para ajudar Mestre Ciro a manter os grupos em meio à pandemia. Olhando com esperança para o futuro, o mestre aguarda o reconhecimento e a valorização de uma manifestação que há tantas décadas têm mantido viva a cultura do Estado.
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