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Getúlio Abelha mistura vivências pessoais e profissionais em disco de estreia
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Getúlio Abelha mistura vivências pessoais e profissionais em disco de estreia

Lançando nesta terça, 8, "Marmota" - o primeiro disco da carreira -, Getúlio Abelha fala ao Vida&Arte sobre inspirações, processo criativo e passos futuros
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Com experiência prévia em teatro, Getúlio Abelha investe na música desde 2017
 (Foto: Sillas h./Divulgação)
Foto: Sillas h./Divulgação Com experiência prévia em teatro, Getúlio Abelha investe na música desde 2017

Em entrevista ao Vida&Arte em março de 2021, Getúlio Abelha afirmou que o lançamento do disco "Marmota" - na época ainda sem previsão - seria o marco do "fim de uma era". Foi uma colocação curiosa se pensarmos que o trabalho é, em verdade, o primeiro álbum da carreira de quatro anos do cantor e compositor piauiense radicado em Fortaleza. A estreia "oficial" do artista é fruto de extenso processo de experiências musicais e pessoais vividas por Getúlio: dos shows que oferecia ao público nas vaquejadas às quais era levado pelo pai ainda na infância ao sucesso em 2017 da escrachada música "Laricado" e do clipe gravado no Mercado São Sebastião, passando por série de outras vivências acumuladas nos quatro anos de experimentações musicais. Em entrevista por telefone concedida ao V&A na sexta, 4, Getúlio abordou o processo criativo, as inspirações para o disco e dividiu planos - e receios - futuros.

"Marmota", segundo o artista, une três "etapas": "Meu passado de cantor voltando, minha vida atrevida e audaciosa perambulando por Fortaleza e o encaixe disso num contexto político". "Como é meu primeiro álbum, a primeira vez que me resgato enquanto cantor desde criança, ele tem muito de infância. Histórias que vivia naquela época estão contadas literalmente no álbum", explica o artista, citando "Aquenda" e "Pigarro" - ou "Catarro", como o cantor explica que prefere chamar a faixa - como exemplos.

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"(Tem também) vivências minhas na noite de Fortaleza, que aí já tem a ver com 'Vogue Bike', com as paixões, com estar na rua, com enlouquecer, com o cachorro que corre atrás de mim", elenca. "Em geral, tudo tem a ver com o que eu vivo. É clichê, mas é real. Como eu que componho, sempre fico me provocando a fazer coisas absurdas porque quero falar sobre coisas absurdas", avança o artista.

Antes de investir na música, Getúlio tinha envolvimento com as artes cênicas, tendo participado de peças e filmes. Em entrevista ao V&A em 2017, antes de "Laricado" e na ocasião da montagem do espetáculo "Buraco" em Fortaleza, o artista definiu o teatro como uma "ferramenta". De que forma, então, as ferramentas das experiências anteriores reverberam hoje no trabalho musical?

"Na verdade, eu escolhi a música porque vi dentro dela um espaço onde poderia fazer tudo o que gostaria. A cada clipe, estou fazendo um projeto de audiovisual. A cada composição, estou escrevendo. Foi um universo que encontrei para conseguir me expressar", considera. A utilização de diferentes referências artísticas e de vida são "cacos" que Getúlio colou para construir o disco.

"Isso tem a ver com meu processo criativo. Qualquer coisa que eu criar, independente da linguagem, vai ser construída dessa forma. É o meu 'método de criação' unir cacos e formar alguma coisa", compreende.

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A terceira "etapa" do disco - aquela que contextualiza cada uma das anteriores em termos de contexto político - pode ser encontrada em diferentes níveis no álbum, mas se exprime com mais veemência em "Perigo", canção que encerra "Marmota". Nela, a abordagem política se coloca como um desabafo pessoal que é fruto de conflitos que Getúlio assume ter enfrentado acerca do tema do álbum frente ao contexto da pandemia.

"A história dele era sobre viver o mundo se misturando, se sujando, se jogando, andando na rua. Isso foi o que me frustrou: 'por que vou lançar um álbum que fala sobre estar maravilhosa de bicicleta andando com pessoas para um forró para dançar vogue em um contexto péssimo, em que tá todo mundo preso, sem sair?'", divide.

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"Por mais que eu me divirta quando artistas lançam músicas sobre rebolar a raba durante a pandemia, enquanto artista não consigo me distrair a esse ponto. Encontrei em 'Perigo' um modo de falar sobre algo que estava dentro do álbum, mas que poderia se encaixar no contexto atual, tanto pela letra quanto pela possibilidade de criar um universo audiovisual", afirma, referindo-se ao clipe da faixa, também lançado hoje.

O sentimento frente ao contexto se une à sensação que o artista tem de já ter explorado bastante o conceito do álbum, o que faz com que Getúlio assuma, de maneira honesta, estar em dúvida sobre os próximos passos - apesar de adiantar ao V&A que lançará série de singles, incluindo colaborações com outros artistas, independentes de "Marmota". "Me pergunto se vou fazer um segundo álbum; se sim, se vou ceder ao mercado, porque "tem" que lançar logo, ou se vou passar mais quatro anos vivendo coisas para poder falar novamente através de um álbum", segue.

"Se não tivesse a pandemia, a gente estaria em outro ritmo de vida, de luta. Por mais que as coisas estivessem complicadas, o processo de construção artística coletiva estava bem movimentado, Fortaleza estava num processo muito intenso e grandioso. Que tipo de arte posso fazer agora? Em que tipo de movimento quero estar ou construir? Tá muito cedo para definir porque a gente ainda está vivendo o caos da pandemia. É só o tempo mesmo, e um pouco de calma, para entender", compreende.

OUÇA O DISCO:

Marmota

Quando: disponível a partir de hoje, 8, nas plataformas
Onde: found.ee/getulioabelha
Siga o artista: @getulioabelha

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