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SPFW51: Marcas revelam cultura, ancestralidade e identidade
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SPFW51: Marcas revelam cultura, ancestralidade e identidade

Principal plataforma de moda no país, semana 100% digital do São Paulo Fashion Week amplia narrativas sobre memória e diversidade cultural
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Meninos Rei (Foto: Bruno Gomes/Divulgação)
Foto: Bruno Gomes/Divulgação Meninos Rei

Se pudéssemos resumir a edição que terminou, último domingo, do São Paulo Fashion Week (SPFW), três palavras surgem como destaque: primeiro, regenerar, - tema da edição N51 e que surgiu também no desfile de encerramento, de Flavia Aranha, com a coleção sustentável batizada "Regeneração" -, e, formando dupla, duas leituras, para máxima expressão, existir e resistência; um com liga no outro e não foi por acaso. "Se a moda é um documento que se conta", disse Ronaldo Fraga no ao vivo da "Terra de Gigantes", um manifesto poético, assumiu o estilista, de caráter também político, porque todas as suas coleções assim o são.

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As questões acima, dialogam, de alguma forma, por exemplo, na coleção de Ronaldo inspirada nos mestres e nas mestras da cultura caririense; mais que um (re)encontro de saberes por pura aparência. Para o mineiro, no Ceará, uma fonte - que devemos olhar - para a "reinvenção", quem sabe, do que se quer construir para o amanhã, algo com raiz, mostrou como se faz, indo além da matéria. No filme, a tradição é perpetuada seguindo os passos - e o balanço - de uma cearense do Cariri, Suyane Moreira, que veste a história fazendo sentido.

Com força simbólica e precisa "da banda de lá", diluída entre os quatro primeiros dias de evento, o projeto Sankofa uma iniciativa da plataforma Pretos na Moda e da startup de inovação social VAMO, com apoio do INMOD (Instituto Nacional de Moda e Design) -, composto por oito marcas de estilistas negros - caso da Meninos Rei, criada na Bahia pelos irmãos Júnior e Céu Rocha e que exalta, na foto, em máxima dimensão e colorido, toda a vibração da ancestralidade africana, por ela, com o look, atualizada.

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O impacto do hoje, com a pandemia ainda tomando o centro, Brasil, trouxe uma revisão geral sobre aspectos do ser em sua área em casa mostrando, por vezes, algumas apresentações, exemplo de Juliana Jabour, um futuro pós-apocalíptico - que até se poderia imaginar, com roupas maxi até demais, justificando-se pelos momentos adversos que queremos, o quanto antes, deixar para trás -, como também, paralelo a essa efervescência para mentes criativas, o que está, muito antes, na essência, correndo no sangue, na crença: a lembrança da resistência de uma memória, de uma cultura, pela moda, a depender da Meninos, mais que viva, vestida, para ir à rua.

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Essa coleção, fala Júnior Rocha, da Meninos, "é uma ode à nossa ancestralidade africana e a Exu, que sempre esteve olhando por nós e nos conduziu pelo caminho que nos trouxe até aqui", após seis anos de trajetória com a marca, à maior e mais importante plataforma de moda, entende-se o SPFW, pelo segundo ano na pandemia, 100% digital. A nova concepção, desde o ano passado, explora os temas das coleções sob nova perspectiva. Gera movimento na ausência de apresentações presenciais. Exatamente como propôs a produção da marca baiana. "Aponta para uma estética afro futurista, em que a profusão de informações transborda para além da roupa, causando um impacto visual chocante, imprimindo a imagem desse Exú high-tech, moderno, cosmopolita e tão presente no nosso movimento contemporâneo", explica o designer de moda Céu Rocha.

Soma de visões: A moda adiante

Além da Meninos, teve a TA STUDIOS, apresentada no sábado, com moda consciente, agênero e afrofuturista. No mesmo dia, Isaac Silva lançou sua collab - para chinelos, inclusive - com a Havaianas, a "Axé, Boca da Mata". "Todos nós somos uma mistura de muitos outros, que viveram, criaram e aprenderam com a natureza antes de nós, e eu quero que essa natureza que tanto nos fornece e guarda, continue a existir", atribuiu à inspiração, religiosa e espiritual somada ao respeito pela natureza.

Antes, veio Ronaldo Silvestre, quinta última, com a coleção Conspiração, movida pela igualdade e transformação social que acredita o estilista através da moda. Também descobrimos nesta semana os desfiles do Ateliê Mão de Mãe, exibido no mesmo dia da Meninos, na quarta-feira, dia 23, - data também do desfile de Ronaldo Fraga, trazendo moda e tradição como ato de resistência -, e de Naya Violeta, estreantes do Sankofa.

"Em Foguete - título dado à coleção, diz Naya - a gente fala do poder de transformação que é o lugar do fogo", casa. "Nesse momento histórico e social que estamos vivendo, essa coleção tenta nos ajudar a entender a potência de corpos negros reexistirem e de olhar para estes corpos vivos", explica a estilista. Com pegada semelhante, a Ateliê Mão de Mãe, de origem baiana e direção criativa de Vinicius Santana e Patrick Fortuna, amplia o significado de "ressignificar" junto ao corpo. O intuito, presente no DNA da marca, comenta, foi pensar "na força e na história milenar do fazer manual".

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