Em 2020, o Prêmio Dynamite de Música Independente viu entre os indicados às suas 19 categorias 14 nomes da música cearense. Rock, punk e heavy metal foram alguns dos gêneros musicais contemplados com artistas locais. Outra vertente também teve representantes do Ceará: o reggae. Com a faixa “Dub da Tapioca”, em uma versão ainda caseira, a banda de reggae OutraGalera marcou seu nome nas indicações do prêmio. Nesta sexta-feira, 6, o grupo lança “Original Fortal”, seu álbum de estreia, explorando elementos da cultura jamaicana, da urbanidade de Fortaleza e levantando discussões fora das centralidades na Capital.
O disco será lançado após mais de um ano e meio do início das gravações. Caiô (vocal), Agno Cesar (teclado e trompete), Glauber Alves (baixo) e Beto Gibbs (bateria) se reuniram no início do ano passado para desenvolver o álbum. De maneira colaborativa e independente, começaram o processo com as gravações das bases instrumentais e esperavam lançar o trabalho final em julho de 2020, mas a pandemia atrasou o planejamento e precisaram dar uma pausa nas etapas. Em abril deste ano foi publicado o videoclipe oficial de “Dub da Tapioca”, dirigido pelo artista Fluxo Marginal. Neste fim de semana “Original Fortal” será conhecido na íntegra pelo público.
Com dez faixas, o álbum reúne composições com influências da música reggae, da vertente dub e do hip hop e traz influência da cultura urbana de Fortaleza. No trabalho, são incorporados também “elementos periféricos” ao se explorar o reggae e o rap. A imersão na cultura jamaicana para Caiô o acompanha há bastante tempo, pois parte de sua família tinha o hábito de consumir músicas do gênero.
“Existe uma relação bem próxima com o ritmo. Eu comecei a compor muito novo e havia uma relação intuitiva, mas por volta de 2012 eu comecei a me desenvolver e a pesquisar mais. É um ritmo que marca muito Fortaleza. Existe uma ligação com a Jamaica, a juventude consome muito esses espaços onde a galera vai para escutar reggae. Então, a influência vem de tudo isso, desse corpo periférico que se encontra para o lazer”, destaca o vocalista.
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As músicas do “Original Fortal” tratam de “indivíduos negros e periféricos” e também de espaços da Capital, contemplando aqueles que “veem uma Fortaleza não só pela ótica centralizada”. Há também um “percurso visual a partir da lírica” na linguagem do álbum. Na faixa “Dobaba”, por exemplo, é possível perceber citações à Praia de Iracema, ao bairro do Pirambu e à Avenida Leste-Oeste.
“É como se nós estívessemos criando uma linguagem inteira para falar sobre Fortaleza, dessa geração de jovens da periferia, negros e não-brancos. Essa galera está sendo representada não só em corpo físico ou no visual da cidade, mas também nos lugares que nós frequentamos e costumamos compartilhar nossas vibes”, acrescenta Caiô.
Na trajetória da banda também são inseridas influências de elementos culturais do Nordeste: “Existe muita influência de coisas daqui, do forró e de elementos da cultura popular. Nós tentamos explorar isso não só de maneira musical, mas também no trabalho visual. É a música jamaicana com coisas da cultura pop”, afirma Caiô.
É possível encontrar referências a elementos locais na faixa “Dub da Tapioca”, por exemplo, que menciona o carro da tapioca. “É algo que pode parecer pequeno, mas isso regionaliza algo maior, um gênero que é escutado no mundo todo. Então, nós tentamos trabalhar essas regionalidades e universalidades dentro da nossa música”, acrescenta.
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O nome do trabalho que será lançado nesta sexta-feira tem inspiração em um “bordão” frequentemente visto em músicas de reggae: o termo “Original”. Aliando a sonoridade do álbum já “voltada para música jamaicana” com uma outra palavra que tem sido bastante usada por jovens de Fortaleza (ou melhor, “Fortal”), a banda consegue introduzir seu desejo de falar sobre o cotidiano da Capital e da relação com os espaços urbanos e de unir referências da linguagem do reggae com a de Fortaleza.
O álbum de estreia da banda conta também com participações de outros artistas. Entre as parcerias está a da cantora Luiza Nobel, que compartilha vocais com Caiô na faixa “Dub da Vovó”. Na música “Eu e Eu”, do rapper paraibano Sacal, há remix inspirado no estilo de dança jamaicano dancehall e a contribuição do artista sonoro cearense Eric Barbosa ao tocar percussões com Rami Freitas.
Para Caiô, o envolvimento de outros artistas no trabalho da banda é muito importante para “a movimentação que está sendo feita dentro da cultura do Estado”. “Tudo isso é feito de maneira independente, muitas vezes sem recursos financeiros para conduzir os projetos, pedindo ajuda e contando com uma rede de apoio. Então, é um movimento muito maior do que só o que está impresso, e é de extrema importância porque é isso que nos faz continuar e permanecer, porque não é algo fácil”, comenta o músico.
Caiô espera que o álbum funcione como um registro significativo para “as pessoas para o qual o disco fala”, gere identificação e que sejam absorvidas as mensagens transmitidas pelas faixas do disco. “Minha expectativa é também de passar um dia em um lugar como a Beira-Mar ou alguma ruazinha do Centro e ouvir o disco tocando, que toque por Fortaleza e que ele seja realmente ‘Fortal’, que seja forte e permaneça tocando”, complementa.
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Lançamento "Original Fortal"
Quando: a partir de meia-noite desta sexta-feira, 6
Onde: Spotify, YouTube, Apple Music, Deezer e Tidal
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