"Curva Sinuosa" é definido como "um filme para aqueles que não têm certeza". A obra é destinada aos que fogem da solidão e se esbarram no "turbilhão da relações" e também é uma produção que fotografa, edita e sonoriza "as vozes dos fracassados, os corpos dos debarados e os desaparecidos e esquecidos". Apresentado dessa maneira no material de divulgação, o curta-metragem cearense dá os primeiros passos nos festivais de audiovisual e terá exibição virtual e gratuita neste fim de semana.

Leia também | Confira matérias e críticas sobre audiovisual na coluna Cinema&Séries, com João Gabriel Tréz

Após integrar a II Mostra Latino-Americana de Filmes Etnográficos, "Curva Sinuosa" agora se prepara para a Mostra Competitiva do Festival EntreTodos, na Sessão Linhas e Curvas. Essa é a 14ª edição do evento, que é destinado a curtas e Direitos Humanos. O filme estreia dia 11 de setembro no site do evento, que é gratuito e aberto a votação on-line do público.

Mestre em Artes pela Universidade Federal do Ceará, Andréia Pires é responsável pela direção do filme. A artista já dirigiu os trabalhos "A fera do Clima", "Vando Vulgo Vedita", "Bairro dos Cupins" e "Corte". Além de diretora, integra outros projetos como dramaturgista, coreógrafa e preparadora de elenco.

Leia também | João Gabriel Tréz: Festival Entretodos celebra direitos humanos a partir do cinema

Jéssica Teixeira também atua como diretora e roteirista do curta. É graduada em Teatro - Licenciatura pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Artes pelo Programa de Pós Graduação em Artes também pela UFC. Foi responsável pelo documentário "Pudesse ser apenas um enigma" e atua como atriz, roteirista e produtora do curta "Curva Sinuosa".

Inicialmente, a ideia é que o projeto se tornasse um espetáculo teatral, mas devido à pandemia, foi necessário reformular o formato escolhido, optando por elaborar uma produção audiovisual. Sem deixar a teatralidade de lado, o curta foi filmado no Cineteatro São Luiz. "Queremos muito que as pessoas tenham uma experiência de atriz e espetáculo. Toda a experiência do público se dá com essa relação entre o teatro e a câmera", conta Andréia.

"Tem um tom de audiovisual, mas ao mesmo tempo sem perder o que nós já fazíamos que era trabalhar com teatralidade", conta. "A Jéssica tem uma força entre as linguagens do teatro e da dança. O corpo dela está ali à disposição para um trabalho que é totalmente físico. Ela canta, dança, faz diversas ações ligadas a não só uma linguagem, mas a uma criação artística de modo bem abrangente".

Jéssica conta que o roteiro "brinca com as certezas das pessoas" e permite refletir sobre seu lugar no mundo. "Um dos textos do 'Curva' faz esse oferecimento a todos aqueles que não tem certeza de nada. É uma relação muito direta com essas pessoas que não estão no centro, que não estão ali no no campo que já tem um lugar reservado para elas. Então, a abordagem principal é que haja aí uma reflexão sobre os espaços que já são reservados para determinadas pessoas", acrescenta Andreia.

Um dos temas abordados é o fracasso e Jéssica afirma que falar sobre o assunto é uma experiência "tranquila" para ela. No vídeo, ela questiona esses padrões normativos de sucesso e felicidade impostos pela sociedade. "Muitas vezes falamos sobre bater metas, atingir o sucesso. A humanidade e a comunicação humana já são fadadas ao fracasso. Somos seres de fala e a nossa comunicação é muito falha. Então, é muito triste que a humanidade se coloca nessa posição de bater metas, de ter sucesso, trilhar um caminho e na verdade o 'Curvas Sinuosas' coloca todo mundo nesse mesmo espaço, de que talvez fracassemos, talvez não consigamos. Aí, vamos trilhando outros caminhos que não esse da linha reta que miramos e vamos traçando caminhos mais sinuosos", explica.

Surpresas com a aprovação no Festival EntreTodos, as artistas comentam suas expectativas no evento. "Eu tinha tentado adentrar ao cinema e já fui logo em dois festivais incríveis (II Mostra Latino-Americana de Filmes Etnográficos e Mostra Competitiva do Festival EntreTodos). Gera uma expectativa muito alta, que eu não estava esperando. Eu costumo dizer que sou ambiciosa, mas isso eu não achei que fossemos conseguir. Isso gera uma expectativa de que eu consigo entrar em outros festivais", comenta Jéssica.

Andréia destaca a importância que esses festivais têm para dar mais visibilidade ao trabalho. "Nós escrevemos nos festivais para que as pessoas vejam. Então, a importância é sempre essa, de que mais pessoas tenham acesso ao trabalho. Acredito muito que quanto mais pessoas tiverem acesso ao curta, mais elas vão pensar sobre quem não tem lugar no mundo".

14º Festival Entretodos - Filmes Curtos e Direitos Humanos

Quando: disponível no site do evento a partir de 11 de setembro
Onde: entretodos.com.br
Mais informações: @curva.sinuosa