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Festival Sérvulo Esmeraldo destaca obras do artista em espaços urbanos
Vida & Arte

Festival Sérvulo Esmeraldo destaca obras do artista em espaços urbanos

Celebrando legado do artista cratense, Festival Sérvulo Esmeraldo ocorre até o fim do mês. V&A destaca diálogos da produção do artista com as cidades do Crato e Fortaleza
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A curadora e presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo Dodora Guimarães, na entrada do local onde funciona a iniciativa (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita A curadora e presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo Dodora Guimarães, na entrada do local onde funciona a iniciativa

"Menino do Crato" mesmo quando já havia passado dos 80 anos, Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) trouxe consigo, quase que no corpo, as paisagens da cidade que fundou sua visão e produção artística. Nascido em um 27 de fevereiro no município cearense, o artista galgou caminhos até Fortaleza, São Paulo e, então, a Europa com obras que desafiavam e propunham atravessamentos ao olhar das pessoas e às paisagens. Representante da arte cinética e defensor da ligação entre as obras e as cidades, o artista "empresta" sua ampla obra como mote para a nova edição de evento em homenagem a ele, que traz "O Crato no Mundo" como tema. Até o final do mês, o Festival Sérvulo Esmeraldo 91 oferece formação, acesso e reflexões de forma presencial e virtual.

"Em 2019, o Governo do Estado, por meio de decreto de lei, instituiu o Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo em referência aos 90 anos que o artista completaria. Na programação, propusemos o Festival Sérvulo Esmeraldo 90, no Crato. Em 2020, inscrevemos uma nova edição, Festival Sérvulo Esmeraldo 91, mas não conseguimos realizar por conta da situação terrível que é essa pandemia. Até que chegassem as vacinas, que tivéssemos mais domínio sobre ela, era impossível pensarmos no festival", contextualiza Dodora Guimarães, curadora, presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo, companheira de vida e dinamizadora do amplo legado do artista.

Na retomada do festival em 2021, o Largo da RFFSA, no Crato, recebe exposição ao ar livre com obras de Sérvulo que estão em Fortaleza a partir de reproduções em grande escala de fotos do amigo Gentil Barreira, que acompanhou a trajetória artística do artista. Há, ainda, duas esculturas monumentais de natureza efêmera, montadas especialmente para o evento. Além disso, em parceria com a Universidade Regional do Cariri (Urca), o festival promove seis webinários e atividades formativas.

"Sérvulo amava muito o Crato, queria de fato contribuir com a cultura cratense, com o processo da arte contemporânea na região do Cariri. A ideia do festival nasceu a partir dele, que era um artista muito preocupado com a formação artística, defensor e exigente quanto ao papel das escolas de arte, da formação crítica, de espaços adequados para exibição de obras, museus. Um artista cidadão", condensa Dodora.

No total, são 12 obras em exposição produzidas entre 1978 e 2008 e escolhidas pelo caráter "icônico", como a reconhecida e querida "La Femme Bateau" (1994) - que esteve presente na Ponte dos Ingleses até ser levada pela ressaca do mar e aguarda, depois da reconstrução, o retorno ao local - e o "Monumento ao Saneamento Básico" (1978). A mostra presencial será, também, compartilhada nas páginas virtuais do Instituto Sérvulo Esmeraldo e de parceiros como a Urca, a Prefeitura do Crato, o Instituto Cultural do Cariri e o Cineteatro São Luiz.

Confira mapa que destaca onde encontrar, em Fortaleza, as obras destacadas pela exposição

Os webinários partem do tema "Arte, ciência e novos horizontes" e trazem profissionais de diferentes áreas, da arte à pneumologia, para refletir sobre temas variados e suas relações com a produção artística de Sérvulo. Completam a programação a residência educativa de formação de profissionais da educação realizada pela jornalista e cronista do V&A Izabel Gurgel; a oficina de pop-up com o artista e arquiteto Guto Lacaz; e a exibição da série "Museus A Céu Aberto", de Karina Ades.

Dodora destaca, em especial, que a exposição que reúne obras de Sérvulo a partir dos registros de Gentil é uma oportunidade importante para ver, em conjunto, parte da produção espalhada pela Capital. "É uma alegria e é comovente observar um conjunto tão coerente, coeso, singular, obras que parecem que saíram da mesma fornada", aponta.

Essa reunião, define Dodora, é "uma homenagem ao Crato" e "um alerta para Fortaleza". "Segundo o Sérvulo, o Crato deu tudo a ele, que dizia que, quando saiu de lá, já saiu pronto. Em São Paulo, Paris, aprendeu técnicas - e isso foi muito importante porque elas são fundamentais -, mas a linguagem levou do Crato, a quem dedicamos a exposição, para que a cidade compreenda, veja e sinta o Sérvulo Esmeraldo como um patrimônio dela", ressalta.

A parte do "alerta" se dá por conta da situação do patrimônio deixado por Sérvulo na Capital. "Ao vermos esse conjunto reunido e vermos a situação em que se encontram muitas das obras, expostas ao descaso, é de doer. Espero que, vendo esse conjunto aqui, Fortaleza acorde para esse patrimônio que necessita de e pede cuidado, preservação", defende.

"Como é que uma cidade trata seus bens simbólicos desse modo? Como é que a gente pode fazer para mudar essa cultura? Uma obra de arte é um objeto que está ali para fazer bem, aumentar a sensibilidade, fazer pensar. Como você pode tratar algo assim do modo como a gente trata?", questiona Dodora. "Esperamos que isso mude. Confio nas novas gerações, nas novas administrações, e acredito que a gente vai conseguir, um dia, ter respeito ao patrimônio público", atesta.

No Crato, a escultura 'Pirâmides' chegou a ter parte da estrutura danificada, mas ela foi restaurada pela prefeitura do município e será reinaugurada, na Encosta do Seminário, durante o Festival Sérvulo Esmeraldo
No Crato, a escultura 'Pirâmides' chegou a ter parte da estrutura danificada, mas ela foi restaurada pela prefeitura do município e será reinaugurada, na Encosta do Seminário, durante o Festival Sérvulo Esmeraldo

Obras no Crato

Na cidade natal de Sérvulo Esmeraldo, a situação das obras de autoria do artista vem sendo mais priorizada, conforme a curadora Dodora Guimarães, seja pelo poder público, seja pelo setor artístico.

Segundo a presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo, há obras do artista no Museu Vicente Leite, que se encontra fechado. "Mas há uma luta, uma campanha, para a reabertura desse museu. O Instituto Cultural do Cariri (ICC) está empenhado nessa tarefa juntamente com intelectuais, artistas e outros grupos do Crato", afirma.

Entre as obras públicas, "Pirâmides", escultura de 2008, foi instalada em 2016 na Encosta do Seminário, mas teve parte danificada. A situação, adiantou Dodora, já estava sendo resolvida pela Prefeitura do Crato e da Secretaria da Cultura do município, que providenciaram o restauro da obra. "Já está sendo finalizado e vamos reinaugurar ainda durante o festival", celebra.

Por outro lado, a curadora destaca a situação "deplorável" da escultura "A semente", no Novo Parque de Exposições, mas afirma que já há movimentos de diálogo junto à prefeitura, a secretaria, o ICC e a Urca para o restauro. "Ela está num local como que largada, jogada. A última vez que a vi, fiquei muito magoada, como é que se trata uma obra de um artista da terra daquela forma? Estamos em negociações para que a gente consiga ter o restauro da escultura e uma colocação digna para ela", aponta.

Festival Sérvulo Esmeraldo 91

Quando: até 30 de setembro
Onde: presencialmente no Largo da RFFSA, no Crato; on-line no YouTube e Instagram do Instituto Sérvulo Esmeraldo
Inscrições Webinário: siseventos.urca.br
Gratuito.

Programação webinários

Webinário “O Laboratório do Mundo”
Quando: 14 de setembro, às 19 horas
Com Regina Teixeira de Barros, Historiadora e Curadora de Arte, e moderação da professora Sandra Nancy Freire, Historiadora e Pró-Reitora de Extensão (URCA)

Webinário “Como Expandir Os Pulmões”
Quando: 16 de setembro, às 19 horas
Com a pneumologista dra. Márcia Alcântara, e o pneumologista e idealizador do Capacete Elmo dr. Marcelo Alcântara; moderação do médico, escritor, dramaturgo e presidente do Instituto Cultural do Cariri José Flávio Vieira

Webinário “Excitáveis, a Escultura e o Corpo”
Quando: 21 de setembro, às 19 horas
Com o artista e professor Mario Ramiro; mediação do artista e professor da URCA Fred Sidou

Webinário “Arte, Ponte entre os Tempos”
Quando: 23 de setembro, às 19 horas
Com o crítico e curador de arte Marcus de Lontra Costa; mediação do cineasta e professor da URCA Sérgio Vilaça

Webinário “Novos Horizontes para a Cultura”
Quando: 28 de setembro, às 19 horas
Com a jornalista e crítica de cultura Marta Porto; mediação do produtor cultural Alemberg Quindins

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