Nos versos finais de "Metal Contra As Nuvens", da Legião Urbana, o eu lírico da canção, na voz de Renato Russo, entoa que existirão "coisas bonitas para se contar". "Até lá, vamos viver / Temos muito ainda por fazer", complementa. Se estivesse vivo hoje, talvez Renato pudesse acompanhar a repercussão das mensagens de suas letras na vida de seus apreciadores. Afinal, ainda haveria "muito por fazer". De todo modo, não cessa a influência que o letrista possui até hoje. Com seus trabalhos, o artista continua a atingir diferentes pessoas e de maneiras diversas, incluindo músicos e fãs cearenses.
No caso de Gabriel Aragão, vocalista, guitarrista e compositor da banda cearense de rock Selvagens À Procura de Lei, vem "desde criança" a ligação musical com a Legião Urbana e, consequentemente, com Renato Russo. Seu pai o ajudou nesse processo, afinal, era "fã de todo tipo de música", o que o proporcionou o acesso a diferentes bandas, entre elas dois grupos de rock que foram especiais para Aragão: Os Paralamas do Sucesso e a própria Legião Urbana. "Legião tem um espaço de infância mesmo para mim, como se fossem meus heróis da infância", comenta o músico.
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Apesar de os caminhos sonoros do Selvagens À Procura de Lei não terem seguido diretamente na direção da Legião Urbana - afinal, "a estética sempre foi mudando muito -, Gabriel sente que seu interesse pela "história por trás das músicas" do grupo brasiliense acabou influenciando seu modo de pensar enquanto músico. Um aspecto se destaca: a menção ao lugar de origem.
"Quando você escuta Legião Urbana você pode perceber locais de Brasília, como uma rua ou um local em que a galera se reunia naquela época, e eu sempre achei isso muito interessante. Então, eu pensei que poderia fazer a mesma coisa com Fortaleza. Acho que isso foi uma virada de chave para nós", afirma o vocalista. O mesmo ocorre, por exemplo, com o uso do "nosso sotaque", como mais uma forma de colocar a Capital cearense e a sua geração "no mapa musical".
Enquanto compositor, Gabriel admira a "sinceridade" posta por Renato Russo em suas produções e alega que ele era um de seus exemplos a serem seguidos. Ele comenta sobre como as letras podem fazer as pessoas "se sentirem próximas de quem as escreveu" - no caso, do próprio Renato. "Parece simples, mas é muito difícil escrever assim", relata.
Uma letra em particular que marca Gabriel Aragão é "Teatro dos Vampiros". Para ele, o refrão da música mostra uma triste realidade do Brasil atual - com a alta do desemprego - e a "coragem" de Renato em expor isso naquele tempo. Mais uma vez, uma marca da "atemporalidade" de suas composições.
É a coragem, por sinal, o maior legado deixado por Renato Russo na opinião de Gabriel: "A coragem de ser você mesmo, de você se derramar nas letras como compositor, de dizer o que pensa e que, se errou, reconhece e aprende para não errar de novo. Era um ser humano totalmente derramado em suas músicas".
Não só por Gabriel é ressaltado o caráter corajoso de Renato Russo: para o produtor musical e multi-instrumentista Claudio Mendes, o cantor "era um daqueles seres que estavam à frente de seu tempo". Em sua visão, Russo abordava em algumas de suas letras questões que não eram tão apresentadas tão abertamente naquela época, como a homossexualidade.
Uma das contribuições vindas a partir do contato com a Legião Urbana foi a percepção de que precisava "buscar seu próprio caminho". Como analisa Claudio Mendes, a construção das músicas da banda "eram diferentes" das comumente ouvidas em rádios comerciais não apenas por suas durações, mas pelas escolhas de estruturas: "A canção ia caminhando sem necessariamente ter uma parte 'A' bem estabelecida, uma parte 'B', o refrão, muitas vezes elas caminhavam de uma forma que Renato 'jogava' aquela letra".
Assim, enquanto produtor de artistas como Lorena Nunes e Nayra Costa, Claudio busca "fugir de padrões radiofônicos". Outro aspecto que chama a atenção do produtor sobre Renato Russo é a forma como ele consegue "ser bem direto e literal" em algumas músicas, como em "Há Tempos", que se inicia com o verso "Parece cocaína, mas é só tristeza".
Para Claudio Mendes, o principal legado deixado por Renato Russo tem relação com a sua "postura" e com o que escrevia, tratando de temas que não eram tão abordados e agindo de forma "vanguardista". Isso influenciaria as próximas gerações: "Acho que não deixa de ser um incentivo para quem produz hoje também olhar para a frente do tempo. Ver quais tipos de problemáticas podemos levantar nesse lugar de vanguarda e tentar resolver melhor esse presente".
No presente, um grupo que contribui para a permanência de lembranças sobre a obra da Legião Urbana e de Renato Russo é a banda cover Coda, formada por Jorge Luis Coda, Alexandre Loureiro, Leo Lima, Rafael Oitavo e Thell Vassourito. Desde 1996 com trabalhos autorais, a banda passou a fazer tributos ao conjunto de rock brasiliense após a morte de Renato. Assim, 25 anos também marcam a trajetória da Coda, que no dia 16 fará um show em tributo ao cantor no Theatro José de Alencar às 19 horas. Os ingressos estão sendo vendidos pela plataforma Sympla.
Para o guitarrista e compositor Jorge Luis, é "extremamente prazeroso e especial" realizar apresentações em homenagem à Legião Urbana. Fã do grupo, Jorge tem todos os discos lançados pela banda e relata que outros apreciadores da Legião costumam se emocionar nos shows. Além disso, comenta que, "com o passar dos anos, foram chegando sempre novas gerações". "Pessoas que nunca tinham visto a Legião tocar iam nos assistir. As reações são as mais diversas, indo da euforia ao choro", acrescenta.
Nessa carreira de quase três décadas, alguns momentos especiais marcaram a Coda, como quando se apresentaram junto com Marcelo Bonfá em um show, quando foram tocar em São Paulo e quando participaram do festival Ceará Music. Além disso, também se destacam na vida de Jorge Luis as letras elaboradas por Renato - "simples, com mensagens diretas" e como se contassem "a história das pessoas". Uma letra em especial é a de "Índios".
Com influência do artista, Jorge dá atenção especial ao "poder de síntese de narrar uma história" e ao desejo de produzir canções independentemente de formato comercial, pensando, acima de tudo, na qualidade da música. Esse aspecto, para ele, é visto nos trabalhos da Legião Urbana, com obras "atemporais" em um País que vive em uma "espiral", "sempre revivendo sua história". Nesse sentido, Jorge analisa que o principal legado de Renato é sua "coragem".
Assim como Jorge, quem também tem uma coleção de discos da Legião Urbana é a bibliotecária Francilia Silva Santos - mas pode chamá-la de Fran Manfredini, tamanho é seu apreço pelo vocalista brasiliense. Aos 36 anos, Fran começou sua jornada como fã em 2004 ao ser influenciada pelo gosto musical de um rapaz de quem gostava. "Comecei a ouvir e fui me apaixonando pelas canções e até hoje sou fã. É muito amor", comenta.
O amor é tanto que Fran chegou a criar um fã-clube em homenagem à banda. No Facebook, é possível encontrar a página "Legionários do Ceará", originada em 2011. O que começou com cinco amigos reunidos no Dragão do Mar para tocar músicas do grupo acabou crescendo e se tornando uma comunidade maior. No histórico, "vários luais" realizados e a ida a diversos shows de bandas cover, como a Coda. O movimento permitiu a Fran o encontro até com outros ídolos da Legião Urbana, como o baterista Marcelo Bonfá e o guitarrista Dado Villa-Lobos.
Com tanto conhecimento sobre o grupo - afinal, são discos, vinis, blusas e livros em seu acervo pessoal -, Fran lembra com carinho e destaque da música "Vamos Fazer Um Filme", mas também há espaço, evidentemente, para outras canções, como "Vento no Litoral". "É difícil escolher só uma. Todas são marcantes", afirma.
Assim como é marcante Renato Russo em sua vida. Foi por causa do vocalista que Fran passou a ouvir outras bandas de rock. Além disso, já chegou a mudar sua forma de agir e de pensar sobre algumas questões a partir da influência do artista, cujas mensagens se encontram fortemente em suas composições.
"O principal legado do Renato Russo são suas canções e sua arte, de forma geral. Ele incentiva você a nunca desistir de seus sonhos e a lutar por um País melhor. Como diz a música "Metal Contra As Nuvens", 'Nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz'. É uma mensagem para as novas gerações que vêm por aí de que nem tudo está perdido", enfatiza a bibliotecária.
As gerações vindas após a morte de Renato Russo também celebram sua obra. Hoje com 18 anos, o estudante Diogo Vasconcelos é ligado à Legião Urbana desde os 11, quando ouviu "Pais e Filhos" em uma apresentação de sua escola. "Aquilo ficou na minha mente: como poderia alguém cantar de uma forma tão linda e passar uma paz tão grande só pela sua poesia?", revela Diogo.
A banda e Renato mudaram sua vida, como afirma. Foi a partir do contato com o cantor que Diogo se sentiu motivado a aprender a tocar violão. Nesse sentido, uma grande influência também se encontra as letras de Renato: "Elas parecem ter sido escritas diretamente para uma pessoa. Em vários momentos da vida tem uma música que se encaixa no seu dia a dia. Em dias tristes, eu gosto de ouvir "A Via Láctea", "Clarisse", "Love In The Afternoon" e "Vento No Litoral". Nos momentos mais contagiantes, escuto músicas como "Faroeste Caboclo" e "Tempo Perdido". Aliás, eu escuto tudo que tem a voz do Renato. A Legião é tudo para mim", comenta.
25 anos após a sua passagem, Renato segue sendo lembrado pela relevância de suas produções. Se depender dos fãs e dos admiradores de seu trabalho, o artista seguirá eternizado, e suas mensagens continuarão ecoando por várias gerações.
Números de audiência da Legião Urbana e do Renato Russo na plataforma de streaming de música Deezer apresentam dados que mostram as músicas mais pesquisadas e os públicos mais assíduos dos artistas. Os índices são de 1º de janeiro de 2021 até 6 de outubro deste ano. Dos assinantes da Deezer no Brasil, a maior parte de pessoas que pesquisam sobre “Renato Russo” na plataforma pertence à faixa etária de 36 a 45 anos, com 34,13% do total.
Em seguida, surgem os assinantes de 26 a 35 anos, com 30,68%. Pessoas com idade entre 18 e 25 anos aparecem na quarta colocação, com 11,67%, atrás dos ouvintes entre 46 e 55 anos, que detêm 16,33%. Os consumidores de música na Deezer com menos de 18 anos representam 0,35% do total, ficando na última colocação e atrás do grupo com mais de 55 anos, com 6,85%.
As principais cidades que pesquisam por “Renato Russo” na Deezer são Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Salvador e Recife. Do artista, os assinantes da Deezer buscam majoritariamente pelas músicas “Mais Uma Vez”, “Vento No Litoral”, “A Cruz e A Espada”, “La Solitudine” e “Strani Amori”.
Quanto às pesquisas pela “Legião Urbana” na plataforma, são mais ativos os usuários da faixa etária entre 26 e 35 anos, com 33,7% do total. Eles são seguidos pelos assinantes com idades entre 36 e 45 anos (33,28%), entre 18 e 25 (17,05%), entre 46 e 55 (12,21%), pelos usuários com mais de 55 anos (2,88%) e pelos ouvintes com menos de 18 (0,89%).
As cidades mais assíduas em buscas pela banda na Deezer são Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Recife. Nas pesquisas, se destacam as músicas “Tempo Perdido”, “Será”, “Pais e Filhos”, “Faroeste Caboclo” e “Eduardo e Mônica”. Os álbuns “Mais do Mesmo” e “Dois” surgem na lista dos mais escutados pelos ouvintes da Deezer no Brasil em setembro.