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Renato Russo vive: fãs e músicos comentam influências e legados do cantor
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Renato Russo vive: fãs e músicos comentam influências e legados do cantor

Obra de Renato Russo segue reverberando por diferentes gerações; músicos e fãs comentam sobre a influência do líder da Legião Urbana em suas vidas
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Renato Russo em show do Legião Urbana (Foto: Ricardo Junqueira / Cedida por Legião Urbana Produçōes)
Foto: Ricardo Junqueira / Cedida por Legião Urbana Produçōes Renato Russo em show do Legião Urbana

Nos versos finais de "Metal Contra As Nuvens", da Legião Urbana, o eu lírico da canção, na voz de Renato Russo, entoa que existirão "coisas bonitas para se contar". "Até lá, vamos viver / Temos muito ainda por fazer", complementa. Se estivesse vivo hoje, talvez Renato pudesse acompanhar a repercussão das mensagens de suas letras na vida de seus apreciadores. Afinal, ainda haveria "muito por fazer". De todo modo, não cessa a influência que o letrista possui até hoje. Com seus trabalhos, o artista continua a atingir diferentes pessoas e de maneiras diversas, incluindo músicos e fãs cearenses.

No caso de Gabriel Aragão, vocalista, guitarrista e compositor da banda cearense de rock Selvagens À Procura de Lei, vem "desde criança" a ligação musical com a Legião Urbana e, consequentemente, com Renato Russo. Seu pai o ajudou nesse processo, afinal, era "fã de todo tipo de música", o que o proporcionou o acesso a diferentes bandas, entre elas dois grupos de rock que foram especiais para Aragão: Os Paralamas do Sucesso e a própria Legião Urbana. "Legião tem um espaço de infância mesmo para mim, como se fossem meus heróis da infância", comenta o músico.

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Apesar de os caminhos sonoros do Selvagens À Procura de Lei não terem seguido diretamente na direção da Legião Urbana - afinal, "a estética sempre foi mudando muito -, Gabriel sente que seu interesse pela "história por trás das músicas" do grupo brasiliense acabou influenciando seu modo de pensar enquanto músico. Um aspecto se destaca: a menção ao lugar de origem.

Gabriel Aragão é integrante da banda Selvagens à Procura de Lei (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Gabriel Aragão é integrante da banda Selvagens à Procura de Lei

"Quando você escuta Legião Urbana você pode perceber locais de Brasília, como uma rua ou um local em que a galera se reunia naquela época, e eu sempre achei isso muito interessante. Então, eu pensei que poderia fazer a mesma coisa com Fortaleza. Acho que isso foi uma virada de chave para nós", afirma o vocalista. O mesmo ocorre, por exemplo, com o uso do "nosso sotaque", como mais uma forma de colocar a Capital cearense e a sua geração "no mapa musical".

Enquanto compositor, Gabriel admira a "sinceridade" posta por Renato Russo em suas produções e alega que ele era um de seus exemplos a serem seguidos. Ele comenta sobre como as letras podem fazer as pessoas "se sentirem próximas de quem as escreveu" - no caso, do próprio Renato. "Parece simples, mas é muito difícil escrever assim", relata.

Uma letra em particular que marca Gabriel Aragão é "Teatro dos Vampiros". Para ele, o refrão da música mostra uma triste realidade do Brasil atual - com a alta do desemprego - e a "coragem" de Renato em expor isso naquele tempo. Mais uma vez, uma marca da "atemporalidade" de suas composições.

É a coragem, por sinal, o maior legado deixado por Renato Russo na opinião de Gabriel: "A coragem de ser você mesmo, de você se derramar nas letras como compositor, de dizer o que pensa e que, se errou, reconhece e aprende para não errar de novo. Era um ser humano totalmente derramado em suas músicas".

Não só por Gabriel é ressaltado o caráter corajoso de Renato Russo: para o produtor musical e multi-instrumentista Claudio Mendes, o cantor "era um daqueles seres que estavam à frente de seu tempo". Em sua visão, Russo abordava em algumas de suas letras questões que não eram tão apresentadas tão abertamente naquela época, como a homossexualidade.

Uma das contribuições vindas a partir do contato com a Legião Urbana foi a percepção de que precisava "buscar seu próprio caminho". Como analisa Claudio Mendes, a construção das músicas da banda "eram diferentes" das comumente ouvidas em rádios comerciais não apenas por suas durações, mas pelas escolhas de estruturas: "A canção ia caminhando sem necessariamente ter uma parte 'A' bem estabelecida, uma parte 'B', o refrão, muitas vezes elas caminhavam de uma forma que Renato 'jogava' aquela letra".

Produtor musical, compositor e multi-instrumentista cearense Claudio Mendes (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Produtor musical, compositor e multi-instrumentista cearense Claudio Mendes

Assim, enquanto produtor de artistas como Lorena Nunes e Nayra Costa, Claudio busca "fugir de padrões radiofônicos". Outro aspecto que chama a atenção do produtor sobre Renato Russo é a forma como ele consegue "ser bem direto e literal" em algumas músicas, como em "Há Tempos", que se inicia com o verso "Parece cocaína, mas é só tristeza".

Para Claudio Mendes, o principal legado deixado por Renato Russo tem relação com a sua "postura" e com o que escrevia, tratando de temas que não eram tão abordados e agindo de forma "vanguardista". Isso influenciaria as próximas gerações: "Acho que não deixa de ser um incentivo para quem produz hoje também olhar para a frente do tempo. Ver quais tipos de problemáticas podemos levantar nesse lugar de vanguarda e tentar resolver melhor esse presente".

No presente, um grupo que contribui para a permanência de lembranças sobre a obra da Legião Urbana e de Renato Russo é a banda cover Coda, formada por Jorge Luis Coda, Alexandre Loureiro, Leo Lima, Rafael Oitavo e Thell Vassourito. Desde 1996 com trabalhos autorais, a banda passou a fazer tributos ao conjunto de rock brasiliense após a morte de Renato. Assim, 25 anos também marcam a trajetória da Coda, que no dia 16 fará um show em tributo ao cantor no Theatro José de Alencar às 19 horas. Os ingressos estão sendo vendidos pela plataforma Sympla.

A banda cearense Coda começou a realizar covers em tributo à Legião Urbana após a morte de Renato Russo(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação A banda cearense Coda começou a realizar covers em tributo à Legião Urbana após a morte de Renato Russo

Para o guitarrista e compositor Jorge Luis, é "extremamente prazeroso e especial" realizar apresentações em homenagem à Legião Urbana. Fã do grupo, Jorge tem todos os discos lançados pela banda e relata que outros apreciadores da Legião costumam se emocionar nos shows. Além disso, comenta que, "com o passar dos anos, foram chegando sempre novas gerações". "Pessoas que nunca tinham visto a Legião tocar iam nos assistir. As reações são as mais diversas, indo da euforia ao choro", acrescenta.

Nessa carreira de quase três décadas, alguns momentos especiais marcaram a Coda, como quando se apresentaram junto com Marcelo Bonfá em um show, quando foram tocar em São Paulo e quando participaram do festival Ceará Music. Além disso, também se destacam na vida de Jorge Luis as letras elaboradas por Renato - "simples, com mensagens diretas" e como se contassem "a história das pessoas". Uma letra em especial é a de "Índios".

Com influência do artista, Jorge dá atenção especial ao "poder de síntese de narrar uma história" e ao desejo de produzir canções independentemente de formato comercial, pensando, acima de tudo, na qualidade da música. Esse aspecto, para ele, é visto nos trabalhos da Legião Urbana, com obras "atemporais" em um País que vive em uma "espiral", "sempre revivendo sua história". Nesse sentido, Jorge analisa que o principal legado de Renato é sua "coragem".

Assim como Jorge, quem também tem uma coleção de discos da Legião Urbana é a bibliotecária Francilia Silva Santos - mas pode chamá-la de Fran Manfredini, tamanho é seu apreço pelo vocalista brasiliense. Aos 36 anos, Fran começou sua jornada como fã em 2004 ao ser influenciada pelo gosto musical de um rapaz de quem gostava. "Comecei a ouvir e fui me apaixonando pelas canções e até hoje sou fã. É muito amor", comenta.

A bibliotecária Francilia da Silva Santos chegou a montar um fã-clube da Legião Urbana no Ceará e tirou fotos com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá(Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal A bibliotecária Francilia da Silva Santos chegou a montar um fã-clube da Legião Urbana no Ceará e tirou fotos com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá

O amor é tanto que Fran chegou a criar um fã-clube em homenagem à banda. No Facebook, é possível encontrar a página "Legionários do Ceará", originada em 2011. O que começou com cinco amigos reunidos no Dragão do Mar para tocar músicas do grupo acabou crescendo e se tornando uma comunidade maior. No histórico, "vários luais" realizados e a ida a diversos shows de bandas cover, como a Coda. O movimento permitiu a Fran o encontro até com outros ídolos da Legião Urbana, como o baterista Marcelo Bonfá e o guitarrista Dado Villa-Lobos.

Com tanto conhecimento sobre o grupo - afinal, são discos, vinis, blusas e livros em seu acervo pessoal -, Fran lembra com carinho e destaque da música "Vamos Fazer Um Filme", mas também há espaço, evidentemente, para outras canções, como "Vento no Litoral". "É difícil escolher só uma. Todas são marcantes", afirma.

Assim como é marcante Renato Russo em sua vida. Foi por causa do vocalista que Fran passou a ouvir outras bandas de rock. Além disso, já chegou a mudar sua forma de agir e de pensar sobre algumas questões a partir da influência do artista, cujas mensagens se encontram fortemente em suas composições.

"O principal legado do Renato Russo são suas canções e sua arte, de forma geral. Ele incentiva você a nunca desistir de seus sonhos e a lutar por um País melhor. Como diz a música "Metal Contra As Nuvens", 'Nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz'. É uma mensagem para as novas gerações que vêm por aí de que nem tudo está perdido", enfatiza a bibliotecária.

As gerações vindas após a morte de Renato Russo também celebram sua obra. Hoje com 18 anos, o estudante Diogo Vasconcelos é ligado à Legião Urbana desde os 11, quando ouviu "Pais e Filhos" em uma apresentação de sua escola. "Aquilo ficou na minha mente: como poderia alguém cantar de uma forma tão linda e passar uma paz tão grande só pela sua poesia?", revela Diogo.

A banda e Renato mudaram sua vida, como afirma. Foi a partir do contato com o cantor que Diogo se sentiu motivado a aprender a tocar violão. Nesse sentido, uma grande influência também se encontra as letras de Renato: "Elas parecem ter sido escritas diretamente para uma pessoa. Em vários momentos da vida tem uma música que se encaixa no seu dia a dia. Em dias tristes, eu gosto de ouvir "A Via Láctea", "Clarisse", "Love In The Afternoon" e "Vento No Litoral". Nos momentos mais contagiantes, escuto músicas como "Faroeste Caboclo" e "Tempo Perdido". Aliás, eu escuto tudo que tem a voz do Renato. A Legião é tudo para mim", comenta.

25 anos após a sua passagem, Renato segue sendo lembrado pela relevância de suas produções. Se depender dos fãs e dos admiradores de seu trabalho, o artista seguirá eternizado, e suas mensagens continuarão ecoando por várias gerações.

Audiência na Deezer

Números de audiência da Legião Urbana e do Renato Russo na plataforma de streaming de música Deezer apresentam dados que mostram as músicas mais pesquisadas e os públicos mais assíduos dos artistas. Os índices são de 1º de janeiro de 2021 até 6 de outubro deste ano. Dos assinantes da Deezer no Brasil, a maior parte de pessoas que pesquisam sobre “Renato Russo” na plataforma pertence à faixa etária de 36 a 45 anos, com 34,13% do total.

Em seguida, surgem os assinantes de 26 a 35 anos, com 30,68%. Pessoas com idade entre 18 e 25 anos aparecem na quarta colocação, com 11,67%, atrás dos ouvintes entre 46 e 55 anos, que detêm 16,33%. Os consumidores de música na Deezer com menos de 18 anos representam 0,35% do total, ficando na última colocação e atrás do grupo com mais de 55 anos, com 6,85%.

As principais cidades que pesquisam por “Renato Russo” na Deezer são Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Salvador e Recife. Do artista, os assinantes da Deezer buscam majoritariamente pelas músicas “Mais Uma Vez”, “Vento No Litoral”, “A Cruz e A Espada”, “La Solitudine” e “Strani Amori”.

Quanto às pesquisas pela “Legião Urbana” na plataforma, são mais ativos os usuários da faixa etária entre 26 e 35 anos, com 33,7% do total. Eles são seguidos pelos assinantes com idades entre 36 e 45 anos (33,28%), entre 18 e 25 (17,05%), entre 46 e 55 (12,21%), pelos usuários com mais de 55 anos (2,88%) e pelos ouvintes com menos de 18 (0,89%).

As cidades mais assíduas em buscas pela banda na Deezer são Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Recife. Nas pesquisas, se destacam as músicas “Tempo Perdido”, “Será”, “Pais e Filhos”, “Faroeste Caboclo” e “Eduardo e Mônica”. Os álbuns “Mais do Mesmo” e “Dois” surgem na lista dos mais escutados pelos ouvintes da Deezer no Brasil em setembro.

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