O Governo do Estado do Ceará, em decreto publicado no último dia 30 de outubro, ampliou a capacidade máxima permitida em eventos para até 500 pessoas em ambiente fechado e 800 em ambiente aberto no período de 1º a 15 de novembro. Com 11.551.050 doses da vacina contra Covid-19 aplicadas na população cearense, segundo dados mais recentes do Vacinômetro, espaços culturais como circos, teatros, museus, bibliotecas e cinemas estão liberados para receber até 80% do público presencialmente — mas a ausência de programações fixas, temporadas de espetáculos e planejamentos de atividades a médio e longo prazo nos equipamentos geridos pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult/CE) e pela Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor) afetam o retorno dos artistas aos palcos.
O Governo do Estado do Ceará, em decreto publicado no último dia 30 de outubro, ampliou a capacidade máxima permitida em eventos para até 500 pessoas em ambiente fechado e 800 em ambiente aberto no período de 1º a 15 de novembro. Com 11.551.050 doses da vacina contra Covid-19 aplicadas na população cearense, segundo dados mais recentes do Vacinômetro até o fechamento desta matéria, espaços culturais como circos, teatros, museus, bibliotecas e cinemas estão liberados para receber até 80% do público presencialmente — mas a ausência de programações fixas, temporadas de espetáculos e planejamentos de atividades a médio e longo prazo nos equipamentos geridos pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult/CE) e pela Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor) afetam o retorno dos artistas aos palcos.
Teatros como São José e Antonieta Noronha — sob responsabilidade da Secultfor — são utilizados até mesmo como auditórios pelo poder público, mas seguem sem definição de retorno presencial. A falta de informações e diálogo com a classe inquieta o setor. "É muito preocupante que até agora não se saiba de nenhum planejamento sobre o retorno da programação de teatro vinda de nenhum gestor dos espaços públicos. Desde o começo da pandemia, nós sabíamos que seríamos os últimos a voltar a exercer a nossa profissão plenamente, mas parece que tem que ter sempre uma mobilização para pressionar as pessoas que estão ocupando a gestão pública a fazer o seu trabalho", destaca Rogério Mesquita ,ator e produtor do Grupo Bagaceira e gestor da Casa da Esquina. "Antes da pandemia já estávamos tendo prejuízo, pois espaços como o Porto Dragão, por exemplo, não entendem que o teatro precisa de permanência, temporada regular, não de apresentações avulsas, de eventos. Nos últimos anos, a falta de temporadas regulares vem tornando invisível para o resto da Cidade a produção artística local, e essa prática vem sendo adotada nesse 'retorno'. Qual o sentido do Teatro Dragão do Mar anunciar o retorno das atividades com uma apresentação num dia qualquer da semana e na semana seguinte não ter nada?", questiona.
"Essa ausência de planejamento não é fruto da pandemia, vem de antes, mas machuca ainda mais nesse cenário pois estamos traumatizados, esquecidos, tivemos que nos reinventar para sobreviver. O Governo Federal vem atacando e boicotando qualquer coisa que não esteja alinhada com a ideologia que está nesse comando e a Lei Aldir Blanc só saiu porque a classe artística se mobilizou fortemente. Essa ausência de planejamento vinda de governos progressistas — como é o caso do estadual e municipal daqui — é tão destrutiva quanto a guerra cultural proclamada pela gestão federal, pois ambos levam a um prejuízo incalculável na economia da cultura. São trabalhadores que ficam sem nenhuma perspectiva, na destruição do valor simbólico que a cultura deveria ter. É uma urgência de quem vive de arte", adiciona Rogério.
Diante do desafio de reconstruir uma rotina onde o público espontaneamente vá ao teatro, defende o ator Ari Areia, a constância nas programações de equipamentos é vital. "É assim que se faz formação de plateia. E isso não é algo que se resolve em seis meses ou dois anos: leva muito tempo para se consolidar e tem várias camadas de atuação. Fortaleza tem exemplos de sucesso nesse sentido, como o período onde o CCBNB funcionava na Floriano Peixoto, como o TJA e o próprio SESC. Quem trabalha na área da cultura tem memória de experiências excelentes onde público comum, trabalhadores do centro da cidade, disputavam cadeira e lotavam programações culturais. Resultados como esse levam tempo e são muitíssimo frágeis. Mudanças bruscas de formatos ou a interrupção desse trabalho põe rapidamente os resultados disso a perder. A falta de constância é o principal problema para que equipamentos como o Teatro Carlos Câmara, da Secult, não retornem a pulsação que tem vocação para retornar", ressalta. "Sem planejamento não se faz política pública, é o básico".
Diretora, pesquisadora e professora de teatro, Herê Aquino voltou aos palcos com o espetáculo "Das que ousaram desobedecer". A Companhia Bravia apresentou, em temporada realizada em outubro na Casa Absurda, histórias de mulheres cearenses que resistiram à ditadura militar brasileira entre os anos de 1960 e 1970. "Muitos trabalhos pensados para o virtual estão sendo agora revisitados e voltando para os palcos, mas, infelizmente, parece que os gestores dos espaços culturais não se prepararam para essa volta. A maioria desses espaços continua fechada ou por falta de manutenção durante a pandemia, ou por não ausência de preparação para o retorno presencial. Só para citar alguns exemplos: o Teatro São José desde a sua inauguração ainda não se firmou enquanto espaço cultural na Cidade, com programação continuada; o Teatro Antonieta Noronha está fechado há muito tempo; o Dragão do Mar está voltando ainda de forma muito acanhada, sem uma política de apresentações continuada. Isso é muito triste de se constatar, parece que não existiu nenhum planejamento para uma política pública e cultural de retorno — seja dos equipamentos, seja dos editais de fomento ou dos festivais. Por enquanto, ainda estamos com tudo parado. Eu acho que não somente nós enquanto artistas que almejamos e estamos sedentos por essa volta, mas a Cidade como um todo", partilha.
Questionada pela reportagem sobre a ausência de programação a médio e longo prazo, a elaboração de um plano de ações para o retorno permanente das atividades presenciais e as medidas que a pasta pretende adotar para garantir o retorno seguro e constante aos palcos, a Secultfor respondeu por nota: "A Secultfor estará realizando uma coletiva de imprensa entre os dias 10 e 11 de novembro, data ainda a se confirmar, mas na ocasião falaremos sobre todas essas ações de retomada dos equipamentos, e das novas atividades no período de férias".
Também em nota, a Secult/Ce afirmou que a pasta "tem hoje uma ação consolidada com a Rede Pública de Equipamentos Culturais do Ceará, gerida em parceria com Secult/CE e Instituto Dragão do Mar (IDM). Sendo assim, todas as atividades são planejadas em rede, construídas de modo coletivo e compartilhadas e dialogadas também com a classe artística, com fóruns e coletivos, além do Conselho Estadual de Política Culturais (CEPC). Os equipamentos culturais, a citar o Dragão do Mar, o Teatro José de Alencar e o Cineteatro São Luiz, trabalham com temporadas de teatro e de música que já estão sendo retomadas com a presença de público. Outros, com foco em formação, a citar o Porto Iracema e o CCBJ, estão com seus cronogramas e planejamentos sendo divulgados e executados de forma híbrida. Além dos espaços que atuam com fruição que seguem com jornadas expositivas, a citar o Sobrado Dr José Lourenço e a Casa de Saberes Cego Aderaldo com agenda de exposições ativas. Cada equipamento tem sua missão e objetivo, tem seu planejamento e contrato de gestão próprios, o que garante diversidade das ações e agendas próprias. As ações de retomada com público presente estão, sim, acontecendo, cada espaço com sua linguagem e cronograma. Mas todos alinhados com os decretos e protocolos vigentes".
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