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No Crato, Museu Orgânico Casa de Telma Saraiva celebra artista vanguarda
Vida & Arte

No Crato, Museu Orgânico Casa de Telma Saraiva celebra artista vanguarda

Inaugurado na 23ª Mostra Sesc Cariri de Culturas, equipamento é o primeiro museu orgânico que faz uma homenagem póstuma
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Artista, fotógrafa e precursora na arte da fotografia pintada à mão desde a década de 1940 na cidade do Crato, Telma Saraiva ganha Museu Orgânico no Cariri (Foto: JR Panela/ Divulgação)
Foto: JR Panela/ Divulgação Artista, fotógrafa e precursora na arte da fotografia pintada à mão desde a década de 1940 na cidade do Crato, Telma Saraiva ganha Museu Orgânico no Cariri

Maria Telma Saraiva da Rocha (1928 - 2015) foi muitas mulheres em uma: Vivien Leigh; Carmen; Helena de Troia, Cleópatra, Rita Hayworth, Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe, a última gueixa do Japão… Precursora na arte da fotografia pintada à mão desde a década de 1940 na cidade cearense do Crato, Telma Saraiva foi, sobretudo, ela mesma — uma mulher à frente de seu tempo que criou um patrimônio material e sensível nas artes visuais brasileiras. No último dia 13 de novembro, o Museu Orgânico Casa de Telma Saraiva foi inaugurado na programação da 23ª Mostra Sesc Cariri de Culturas como o primeiro que faz uma homenagem póstuma.

Num verde suave, o Museu Orgânico Casa de Telma Saraiva outrora presenciou grande fluxo de fotografados da artista: políticos, clero, estudantes, Misses e ela mesma. Edificação no estilo Art Déco datada de 1926, a casa onde Telma nasceu, viveu, criou filhos e faleceu foi feita por seu pai, Júlio Saraiva, com ladrilhos que o também fotógrafo construiu no quintal. Dono do ateliê Photo Riso, Júlio iniciou o contato da família com a arte fotográfica ainda no século XX — Telma cresceu diante de câmeras e refletores e, na adolescência, desenhava com precisão a lápis. "Minha mãe se tornou fotógrafa, meu tio Salviano Saraiva também se tornou fotógrafo, meu pai Edilson da Rocha já era fotógrafo quando se casou e Telma se notabilizou na foto-pintura, o trabalho de colorir à mão fotos em preto e branco", resgata Edilma Saraiva, filha da homenageada.

"A primeira foto que Telma coloriu foi na década de 1940, era uma imagem dela mesma ainda mocinha. Ela começou com coisinhas pequenas, minúsculas, que eram muito mais difíceis do que realmente fazer um trabalho maior. Daí o aprimoramento dela foi se tornando cada vez mais preciso", continua Edilma, artista plástica e responsável pelo Museu Orgânico da mãe. Telma descobriu a foto-pintura como presente do destino, capricho da vida: a cratense colecionava revistas da década de 1940 chamadas A Scena Muda. Certa feita, recebeu as publicações com fotos coloridas de divas do cinema e se encantou — na época, as imagens eram pretas e brancas. "Lembro também que ela recebeu de aniversário uma caixa de sabonetes. Quando ela tirou os sabonetes, tinha um postal colorido de uma atriz de cinema no fundo. Telma correu para o comércio e comprou todas as caixas de sabonete para ver quais artistas que ela tanto adorava estavam retratadas nos postais", rememora a filha.

Numa edição da A Scena Muda, Telma recebeu um reembolso postal e encomendou tintas para foto-pintura em Los Angeles, nos Estados Unidos. O irmão da artista, Salviano, escreveu uma carta solicitando o material e o estojo foi importado ainda na década de 1940. "Telma nasceu num mundo fotográfico. Quando descobriu as fotografias coloridas, despertou para a foto-pintura e suas obras chegaram até o tamanho natural", continua Edilma. "Nas fotografias e fotos-pinturas, é possível entender os princípios da imagem, das cores e da representação do indivíduo. Dentro dessa casa, a projeção ao passado nos aproxima do presente, estabelecendo vínculos com a nossa individualidade nos representando e eternizando. Assim, os retratos dizem mais sobre Telma do que quem foi fotografado".

A paixão de Telma pelo cinema também conduziu seu trabalho: "Telma gostava de ser outras Telmas, gostava de se reproduzir como divas de cinemas. Ela pegava revistas, copiava as fantasias, mandava fazer, se produzia, se retratava, o marido clicava…. As divas do cinema eram as outras vidas de Telma. Como ela era louca por Carnaval, depois ela usava essas fantasias nos períodos de festa", compartilha Edilma. A casa da artista retrata o encantamento hollywoodiano — quando a única filha completou 10 anos de idade, a mãe a presenteou com um quarto inspirado nos aposentos da imperatriz Isabel da Áustria, mais conhecida como Sissi, que conheceu nos filmes. Telma encomendou o mobiliário branco, vermelho e dourado característico do Palácio de Schönbrunn, em Viena. "Sempre ela trazia o cinema para a vida real, tanto dela quanto dos filhos".

O Museu Orgânico Casa de Telma Saraiva reúne mais de 200 fotografias entre antigas e atuais, reproduções, foto-pinturas, móveis projetados por Edilson, negativos de vidro, carimbos, óculos, assinaturas, máquinas fotográficas e diversos objetos dos filhos Ricardo, Roberto, Edilson Filho, Edilma e Ernesto. "Minha mãe deixou essa casa para mim e para o meu irmão Ricardo, que é o meu irmão mais velho. No testamento, Telma pediu que transformássemos a casa dela numa casa de memória: ela queria mostrar o acervo, as fotografias; queria que a casa fosse visitada pelas pessoas. Tem seis anos do falecimento dela e ao longo de todo esse tempo nós estamos trabalhando para tornar a casa de Telma um museu, agora em parceria com o Sesc", elucida Edilma.

"O projeto do Museu Orgânico Casa de Telma Saraiva é muito importante porque o museu orgânico é não é aquele museu que tem plaquinhas que você lê sozinho e vai embora — museu orgânico é a casa da pessoa, que os familiares que ainda estão ali contam a história a partir de objetos. A Casa de Telma Saraiva não funciona de portas abertas com um funcionário na porta: é necessário agendamento para visita", explica a artista plástica.

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O projeto dos Museus Orgânicos, de gerente de cultura do Sesc Ceará Alemberg Quindins, objetiva estabelecer vínculos entre patrimônio material e imaterial onde essa tradição pulsa e está enraizada: nas moradas dos mestres e mestras da cultura. Hoje, o Cariri tem 10 equipamentos neste formato — Museu Casa do Mestre Antônio Luiz (Potengi), Museu Casa do Mestre Françuili (Potengi) , Museu Casa da Mestre Dona Dinha (Nova Olinda), Museu Casa do Mestre Raimundo Aniceto (Crato), Museu Casa da Mestre Zulene (Crato), Museu Casa do Mestre Nena (Juazeiro do Norte) , Museu Casa dos Pássaros do Sertão (Potengi), Museu Casa de Telma Saraiva (Crato), Museu do Ciclo do Couro - Mestre Espedito (Nova Olinda) e Museu do Homem Kariri (Nova Olinda). A repórter viajou ao Cariri a convite do Sesc-Ceará.

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