A atriz Claudia Raia, 55, tem se dedicado a quebrar os tabus impostos à idade, especialmente com relação às mulheres. Em suas mídias sociais, a artista fala cada vez mais sobre o etarismo, ou seja, a discriminação baseada na idade. Também chamada de idadismo ou ageísmo, a prática atinge diversas pessoas — mas a pressão acaba recaindo principalmente sobre as mulheres, a partir da chegada dos 50 anos. O passar do tempo traz muitas reflexões à tona. Pensando nisso, O POVO reúne as discussões que as artes e o entretenimento podem levantar sobre vida e idade.

Em publicações no Instagram, Claudia Raia alerta sobre comentários etaristas para não fazer. Eis alguns: "Nossa, mas você não parece ter a idade que tem"; "Desculpe perguntar, mas quantos anos você tem?"; "Nossa, ela deve ter sido muito bonita"; "Solteira, nessa idade?"; "Você não tem mais idade para usar isso!". Conhecida por sua personalidade irreverente e por quebrar os padrões do que uma mulher "deve ou não fazer" conforme envelhece, a também bailarina, cantora e produtora frisa: "Chega de tanto preconceito etário, que muitas vezes reproduzimos sem refletir". Ela levanta a bandeira contra a "velhofobia", sugerindo uma nova forma de enxergar a chegada da maturidade.

Alerta

O etarismo atinge os brasileiros mesmo antes de chegarem à chamada "terceira idade". Segundo relatório de março de 2021 da Organização Mundial da Saúde (OMS), 16,8% da população do País, com mais de 50 anos de vida, já sentiram alguma forma de discrimação relacionada à idade.

 

Um brinde à flor da idade

Claudia Raia comanda, junto com a também atriz Isis Valverde, a série "Na Flor da Idade". Disponível no serviço de streaming Globoplay, a produção aborda o etarismo e o autoconhecimento em diferentes fases da vida e em várias perspectivas: da beleza, da sexualidade, dos relacionamentos e da parentalidade. Na vinheta de abertura da obra, as artistas sublinham: "Um brinde à flor da idade… À todas elas!".

Com quatro episódios, o programa recebe a fashionista Thai de Melo Bufrem e a atriz Zezé Motta para falar de beleza. A médica ginecologista Marcela Mc Gowan e Claudio Serva, criador da plataforma "Prazerele", comentam sobre sexualidade. Já a modelo e apresentadora Letticia Muniz compartilha suas visões sobre a mulher fora do padrão e os relacionamentos. No episódio sobre parentalidade, o ator Luiz Fernando Guimarães conta sobre a adoção de duas crianças e o "ser pai" aos 72 anos.

 

Complexo do tempo

A novela "Um Lugar ao Sol", da Rede Globo, tem discutido as nuances do etarismo desde a estreia, em novembro de 2021. Rebeca, personagem da atriz Andréa Beltrão, vive uma espécie de conflito com o tempo. Muito dessa relação advém da sua carreira como modelo. Com o passar dos anos, seu espaço foi ficando cada vez menor no mercado publicitário. Ao mesmo tempo, Rebeca quebra vários padrões do que é esperado de uma mulher, mãe e esposa com mais de 50 anos na sociedade contemporânea.

Em meio à crise do seu casamento, ela conhece Felipe, cerca de 25 anos mais novo. Embora a diferença de idade entre eles seja uma questão para a ex-modelo, ela acaba se redescobrindo com o novo relacionamento. Numa das cenas emblemáticas da trama, a personagem recusa o sexo com o marido que a trai. Em seguida, busca o prazer sozinha, levantando questões sobre masturbação e prazer feminino. Rebeca é criticada até mesmo pela própria filha. "Olha a tua idade e olha a minha idade. Eu tenho que olhar pra mim enquanto você sai por aí, feito uma adolescente", disse Cecília, personagem de Fernanda Marques.

Como uma mulher da mesma geração de Rebeca, a atriz Andréa Beltrão, aos 58 anos, passa por debates parecidos. Assim ela afirmou em entrevista ao Fantástico. "Eu tenho muito dela, ela tem de mim. Até essa pergunta, 'ah, quando você entrou na menopausa?', me irrita. Porque ela me parece uma certa sentença, assim, de 'quando você começou a deixar de ser interessante?' ou 'quando você começou a perder seu colágeno?' ou 'quando seu pescoço começou a cair?'". Segundo Lícia Manzo, autora de "Um Lugar ao Sol", questões como o etarismo e o prazer feminino devem ser cada vez mais discutidas nas artes, como forma de deslocar os temas da ideia de vulgaridade.

 

"Como é ficar velha?"

Ainda em "Um Lugar ao Sol", a atriz Marieta Severo dá vida à Noca, avó de Lara (Andréia Horta). A personagem perdeu a filha e criou a neta sozinha. Ela também guarda segredos, como o nascimento de outro filho, Jerônimo (Thelmo Fernandes). Segundo Marieta, Noca é "empoderada de sabedoria de vida" e isso faz com que ela veja a vida de uma forma mais positiva e construtiva.

Sobre o destaque à velhice na trama, a atriz disse ao jornal O Dia: "A tendência da sociedade é deixar os velhos de fora. E realmente a vida ensina que a gente tem algumas coisas a dizer. Acho muito sábio abrir essa discussão e valorizar a velhice. A vó Noca, uma mulher mais velha, muitas vezes, bagunça o coreto da neta. Diria que a neta é mais careta que a avó, ela sempre está ampliando os horizontes e as perspectivas da neta".

Aos 75 anos de idade, Marieta completa 55 anos de sua estreia na televisão. Recentemente, a atriz revelou ao Gshow qual pergunta "não aguenta mais responder". "Tenho bastante paciência para as perguntas que inclusive se repetem, mas eu acho que essa questão da idade... Tem uma hora que as perguntas começam a ficar mais pesadas que a idade. 'Como é que é ficar velha?' Ai, gente, descobre aí, vai!".

 

No ritmo do pop

"Eu vou tá lá na vida inteirinha/ Pra que ela não seja banal", manifesta a cantora, compositora e atriz cearense Germana Guilhermme na canção "Minha Vez". Disponível nas plataformas digitais de áudio, a faixa acompanha videoclipe no YouTube. A artista investe no ritmo do pop aos 56 anos de idade e 30 de carreira nas artes. Reflexões sobre idas e vindas, liberdade, aceitação e autoconhecimento compõem o trabalho.

Germana trabalhou como backing vocal de artistas como Blitz, Sidney Magal, Beto Barbosa e Kelly Key. Esteve em mais de 30 espetáculos musicais e atuou em filmes. "Agora, de fato, é a minha vez de falar sobre o que me move", diz. Ao O POVO, fala sobre o lançamento e a quebra de estereótipos relacionados à idade.

O POVO - De onde vem a valorização do pop?

Germana Guilhermme - Sou compositora e faço música pop desde sempre, esse é o meu estilo musical. Só estou continuando o meu trabalho. Amo cantar, dançar esse tipo de música! Amo fazer música com letras simples e profundas. Simplicidade, para mim, é síntese. Como diz Clarice Lispector: "Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho". É desse desafio que gosto, chegar pertinho do coração das pessoas, com ritmo e mensagens que possam abrir novos olhares.

OP - Há uma urgência de falar sobre libertação e fazer o que, de fato, se quer fazer?

Germana - Estamos num momento de evolução da humanidade, em que uma nova forma de viver também se apresenta pra gente. O modelo antigo ainda existe bastante, claro, mas também hoje temos acesso a novas possibilidades de trabalhos, saúde, espiritualidade... Uma grande parte das pessoas começa a entender a importância de ser quem se é de verdade e de fazer aquilo que lhe dá prazer, que lhe dá sentido à vida! Acredito que seja urgente esse resgate nesse momento. A libertação vem desse encontro consigo. Esse é o nosso eixo, o centro, de onde tudo parte e pode ser construído. Se ouvir, se cuidar, se estruturar, estar com outras pessoas que querem o mesmo e aí ir construindo um mundo diferente. Mais inclusivo, diverso e amoroso!

OP - Qual a sua resposta para quem diz "você não tem mais idade para isso"?

Germana - Sinto um carinho imenso por quem pensa assim, pois já fui assim também. Já tive esses pensamentos limitantes e que nos prendem tanto. Mas o que posso dizer é que faço parte de um grupo bem grande de mulheres que já pensam diferente, ou que estamos o tempo todo nos cuidando e nos potencializando para não cairmos nessas armadilhas, sabe? Me sinto fazendo parte de uma geração que está quebrando esse paradigma e isso é libertador pra gente e pra quem vem depois, né? Então o que posso dizer como resposta? Não se preocupe com isso, estamos aqui abrindo espaços para você também! E se quiser chegar… Venha! Quanto mais gente, melhor! É muito bom fazer parte de um movimento tão libertador.

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Instagram: @germanaguilhermme

 

Sempre em reconexão

A cantora, compositora e atriz Adna Oliveira lançou seu primeiro single aos 63 anos, em maio de 2020, em meio à pandemia da Covid-19. "Canção do Vento", produzida em parceria com Jeff Pereira e Theo Fonseca, está disponível nas plataformas digitais de áudio.

Carioca radicada no Ceará há mais de 30 anos, a artista aborda questões sociais, raciais e de gênero em seu repertório. Em fevereiro de 2021, ela apresentou ao mundo a nova versão do seu show "Gaia". Com produção musical de Claudio Mendes, o concerto reflete sobre a conexão com a natureza e a construção de relações menos separatistas. O show deve retornar logo mais. Para não perder a divulgação, o público pode acompanhá-la nas mídias sociais.

 

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Instagram: @adna_olivveira

Talentos 60+

O The Voice , reality musical exclusivo para talentos com mais de 60 anos, estreia neste domingo, 30, na Globo. O programa vai ao ar aos domingos, logo após a faixa "Temperatura Máxima"; e às terças-feiras, às 20 horas, no canal de televisão por assinatura Multishow. Além dos já conhecidos do público Carlinhos Brown e Ludmilla, chegam ao time de técnicos: a cantora Fafá de Belém e o cantor Toni Garrido. Thais Fersoza é a nova apresentadora dos bastidores da atração.

Em sua 2ª temporada, esta versão do reality levanta a bandeira de sonhar em qualquer tempo. Aos 65 anos, Fafá de Belém — que parou de tingir os cabelos recentemente e tem falado sobre envelhecimento — comenta em texto enviado à imprensa: "Há um hábito de achar que as pessoas, a partir de uma certa idade, ganham uma capa de invisibilidade, mas isso é coisa de Harry Potter. Nós temos a vida vivida, nós temos muita vida pela frente, nós temos experiência de vida, superamos muitas coisas e temos que superar o preconceito que a sociedade tem para pessoas de mais idade. Continuamos vivos, ativos, cheios de ideias e temos o que é base fundamental, que falta a muitos: a experiência! Então, sonhem, vivam, se joguem!".

Mais info: redeglobo.globo.com

Mais comentários etaristas para NÃO fazer!

"Não pode usar acessórios grandes, porque não fica bem para sua idade";

"Essa cor é muito chamativa para pessoas tipo você";

"Não, essa peça não pode! Muito curta!"

"Não pode usar cabelo comprido, porque não combina para a sua idade!"

"Não pode usar tênis, porque é coisa de jovem!"

Fonte: @claudiaraia no Instagram

 

Beleza

A Botik, linha de cuidados faciais da O Boticário, incluiu cerca de 200 influenciadoras digitais com mais de 40 anos na estratégia de divulgação de lançamento. Segundo a marca, a proposta buscava promover o empoderamento feminino, especialmente nas fases mais maduras da vida

 

Seguir nas mídias sociais

Dona Dirce Ferreira, 74, é a “Digital Idosa”
Mais info: @donadirceferreira

Ney Messias aborda ativismo pelo envelhecimento ativo
Mais info: @seuneyzinho

Cintia Moiana: “mulheres maduras na web” e reinvenção profissional com 60+
Mais info: @cintia.moiana

Adri Coelho reflete questões diversas na plataforma Viva a Coroa
Mais info: vivaacoroa.com.br

Conteúdo especial

Marta Aurélia, cantora, atriz, compositora, poeta e produtora cultural, aos 60 anos, comemora 40 anos dedicados à cultura cearense no 36º episódio das Páginas Azuis, na seção “Reportagens Especiais”.

Graduada em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em Teorias da Comunicação e da Imagem pela mesma instituição, Aurélia atuou por 30 anos na Rádio Universitária FM como locutora e produtora. É premiada em cinema, rádio, música e teatro.

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