Segunda-feira, 8 de agosto de 2005. No início do expediente do Banco Central do Brasil em Fortaleza, no Ceará, um buraco de 60cm de diâmetro na caixa-forte foi descoberto. Uma invasão retirou mais de R$ 160 milhões da instituição, localizada numa das vias mais movimentadas do Centro da capital cearense. O valor equivale, aproximadamente, a 3,5 toneladas de cédulas de R$ 50. Na ação, 34 homens cavaram um túnel de 75m — com luz, ventilação e linha telefônica — durante três meses. Baseada no roubo histórico, a série documental "3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central" estreia globalmente no serviço de streaming Netflix nesta quarta-feira, 16.
O caso se tornou um dos episódios mais marcantes do noticiário policial nacional e, talvez, o assalto a banco mais famoso no País. A passagem subterrânea, feita pelos assaltantes, ligava o Banco Central à sede de uma empresa de grama sintética de fachada. O dinheiro levado pelos ladrões eram usados e, por isso, sem possibilidade de rastreio. Ninguém viu ou ouviu algo nas redondezas. Tiro algum foi disparado. Com depoimentos de policiais e criminosos, o documentário seriado reconta a história do assalto, os processos da investigação e as consequências do crime, como extorsões, sequestros e assassinatos por outros assaltantes e policiais corruptos. Produzido pela Mixer Filmes, a direção geral é de Rodrigo Astiz, com direção e roteiro de Daniel Billio.
Com três episódios de 50 minutos cada, "3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central" revela detalhes do furto. Cenas de momentos fundamentais do caso foram recriados, bem como o túnel foi reconstruído pela equipe da obra. Foram cerca de 4 meses de pesquisa, 6 meses de produção, 4 meses de pós-produção e mais de 30 pessoas entrevistadas. No material de pesquisa da obra, está a extensa e premiada cobertura do O POVO sobre o crime. Claudia Belfort assina como pesquisadora-chefe, enquanto Adriana Marques, Íris Sodré Mendes e Mauricio Hirata Filho são os responsáveis pela produção-executiva. Na produção associada, a produtora cearense Gavulino Filmes e Marcos Tardin, também jornalista do O POVO.
"A história é inacreditável! É não-ficção, mas parece ficção", comenta o diretor e roteirista Daniel Bilio. Na série fictícia "La casa de papel" (2017), também da Netflix, nove ladrões preparam um grande roubo na Casa da Moeda da Espanha. Daniel associa: "A história é um 'La Casa de Papel' da vida real".
Quando o roubo aconteceu, Daniel já era adulto. A história até chamou sua atenção, mas ele não chegou a acompanhar a investigação policial. "Quando o projeto chegou para mim e comecei a ler o que já tinham levantado, foi impressionante", comenta. "Quinze anos depois, e sabendo o que aconteceu, a história ficou muito mais encorpada. Tem muito mais personagens, reviravoltas, mais coisas intrigantes e surpreendentes".
Em "3 Tonelada$", o primeiro episódio aborda o crime e os outros dois trazem a investigação e as trágicas consequências. Há muitas ramificações. Sobre o trabalho de manipular tantas histórias, Daniel diz: "Dos primeiros quatro meses de investigação, de verdade, eu li todas as edições diárias do O POVO. Todo dia tinha matéria sobre o furto. Depois, começou a espaçar um pouco mais. Mas, enquanto a investigação durou, esses personagens continuaram aparecendo em jornais".
Segundo Daniel, a etapa de pesquisa foi a mais trabalhosa. "Tinha muito material para trabalhar em cima. Conforme avançávamos, as coisas iam ficando mais impressionantes e com mais desdobramentos. Foram quatro meses direto em cima disso. Tinha uma pré-pesquisa, as pesquisadoras começaram antes de mim. E eu comecei a escrever os roteiros com as meninas pesquisando ainda. Durante a fase de roteiro, se eu precisava de mais informação, ligava para elas. Foi um trabalho intenso de pesquisa. Escrevi, mas tinha a equipe de pesquisa… Eu trocava muito com o Rodrigo Astiz (diretor geral). Troquei muito com o Maurício Hirata, criador do projeto junto com o pessoal da Gavulino Filmes. Eram muitas cabeças pensando ao mesmo tempo".
Leia também | Confira matérias e críticas sobre audiovisual na coluna Cinema&Séries, com João Gabriel Tréz
Falar sobre um roubo espetacular, muitas vezes, caminha na linha tênue sobre tratar o crime de uma forma ainda mais espetacular. De acordo com Daniel, toda a equipe se preocupou com isso durante o projeto. "A gente queria que o documentário refletisse a história que a gente queria contar, que é uma história com um grupo de ladrões brilhantes que bolam um plano brilhante. E essa história encontra um grupo de policiais brilhantes que fazem uma investigação brilhante. Depois, a gente descobre que o que parecia um crime limpo, sem sangue no crime e sem sangue na investigação, na verdade, tinha um lado B. A história não glamouriza ninguém, nem ladrões, nem polícia. Ela é verdadeira".
Muitas produções audiovisuais sobre diversos crimes têm se destacado nos serviços de streamings. Para Daniel, o gênero conhecido como "true crime" faz sucesso porque "é da natureza humana a curiosidade por desvendar, pelo misterioso e surpreendente". "Gosto que o gênero esteja em alta, porque mais produções chegam para assistir e para fazer também".
Sobre a responsabilidade de contar essas histórias, Daniel analisa: "São histórias reais, você precisa estar comprometido com a verdade dos fatos e com o tipo de história que quer contar. Minha preocupação e da equipe sempre foi ouvir diferentes pontos de vista. E isso tem na série".
Colunistas sempre disponíveis e acessos ilimitados. Assine O POVO+ clicando aqui
O POVO+
A entrevista exclusiva com o diretor e roteirista Daniel Bilio na íntegra está disponível na seção “Reportagens Especiais” do OP+. No material, assinantes têm acesso aos processos de desenvolvimento da produção, desafios do documentário e reflexões sobre o crime.
3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central
Quando: a partir de quarta-feira, 16
Onde: Netflix
Mais info: netflix.com
Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui