A Semana de Arte Moderna de 1922, marco na história do modernismo no Brasil, aconteceu em São Paulo e se tornou um símbolo do movimento em dimensão nacional. A corrente artística, entretanto, repercutiu nas demais regiões do País e consolidou a ideologia em diferentes estados, como o Ceará. Com o intuito de lançar luz na produção vanguardista local, realizada em linguagens como as artes plásticas e a literatura, o Espaço Cultural da Universidade de Fortaleza (Unifor) promove a exposição "100 anos da Semana de Arte Moderna em Acervos do Ceará".
"A ideia é colocar a Semana numa perspectiva histórica, mostrando que o modernismo não foi uma geração espontânea, mas parte de um processo maior. Outra particularidade é a vontade de mostrar que o movimento não aconteceu apenas em São Paulo e Rio de Janeiro, mas em diversos locais", informa a curadora Regina Teixeira de Barros, responsável pela seleção ao lado da consultora Aracy Amaral. Dentro do ambiente multicultural da Universidade, o visitante, com acesso franco, pode conhecer mais de 150 obras, pinçadas em coleções públicas e privadas do Estado, como as da Fundação Edson Queiroz, do Governo do Estado do Ceará e do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC).
O material é dividido em três núcleos. O primeiro reúne projetos de agitadores culturais que, antes mesmo da Semana, já tinham como característica o interesse pela renovação artística, a exemplo de Belmiro de Almeida. Uma das salas é dedicada à arquitetura de Fortaleza no início do século XX, onde está uma maquete do Teatro José de Alencar. O segundo ambiente agrega obras de artistas que participaram ativamente do movimento, como Anita Malfatti, Victor Brecheret e alguns da primeira geração modernista, tal qual Antônio Gomide. Por fim, o terceiro momento mergulha nas décadas de 1930 e 1940 com representações de grandes nomes, como Cândido Portinari e Alfredo Volpi. Em meio às seções, o público também pode conferir um espaço direcionado à música cearense do século XIX e vitrines dedicadas aos conterrâneos Vicente Leite, Raimundo Cela e Rachel de Queiroz.
"A verdade é que é um mundo muito grande, com obras incríveis, a exposição tinha que contemplar um pouco dessa história. A proposta é que ela instigue o visitante a buscar mais informações e, ao mesmo tempo, criar uma unidade no Espaço Cultural. Uma das questões que nos norteou foi a preocupação de representar artistas do período e, ao mesmo tempo, de outras coleções", desenvolve a curadora. Regina explica que obteve contribuição dos professores da instituição no processo de escolha de trabalhos realizados por artistas do Ceará em áreas como a literatura e a arquitetura. "Todos foram muito generosos, colaborativos, tanto na escolha, quanto nos textos, que ficam expostos nas paredes".
A exposição é permeada pelos projetos de grandes figuras como Tarsila do Amaral e Vicente do Rego Monteiro, mas se expande para dialogar com outros que não são "tão óbvios". A conjuntura, reforça a curadora, imprime a complexidade e a versatilidade do modernismo. "A implantação do moderno aponta essa dualidade, essa complexidade que é o Brasil", comenta. Ela ainda complementa que o movimento é constituído em aspectos somatórios: "As contribuições são individuais, fazem parte do mesmo tempo, do mesmo contexto, mas com muitas particularidades".
Resgatar a relevância por trás do centenário é, portanto, reafirmar a potência da Semana e utilizar o evento, um acontecimento de outrora, para estruturar o que virá. "A Semana de Arte Moderna é usada simbolicamente na cultura brasileira. É sempre bom a gente chacoalhar e pensar o que estamos fazendo, quais são as grandes questões que mobilizam as artes. É sempre uma oportunidade para atualizar o debate, olhando para o passado e pensando no presente. O que a Semana nos diz sobre hoje?", indaga Regina. As respostas, segundo a profissional, surgem na necessidade de renovação e inclusão. "Continua dando pano para manga, sendo discutida, instigando intelectuais de todas as áreas a pensar a identidade nacional", conclui.
Entenda
A Semana de Arte Moderna, ou Semana de 22, aconteceu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo. O evento ocorreu em período de mudanças políticas e sociais, impulsionado pelo fim da Primeira Guerra Mundial e pelas vanguardas europeias. no contexto, um grupo de intelectuais e artistas, em meio à circunstância do Centenário da Independência, organizou um festival com exposição de, aproximadamente, 100 obras e três sessões noturnas.
Algumas das apostas dos envolvidos era o rompimento com a arte acadêmica e o comprometimento com a valorização da cultura nacional, apesar da clara influência internacional. A proposta era discutir um repertório artístico brasileiro movido por novas tendências, presente em diversas linguagens como música, literatura e arquitetura.
Entre os participantes da semana estavam Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954) e Manuel Bandeira (1884 - 1948), além de Antônio Paim Vieira (1895 - 1988) e Hildegardo Velloso (1899 - 1966), para citar alguns.
Pouco aceita entre a elite conservadora paulista, a Semana foi recebida com inúmeras críticas em veículos de comunicação e vaias pelos opositores. Atualmente, é considerada um episódio fundamental para o desenvolvimento do modernismo no Brasil, visto que instigou discussões e movimentos como o Pau-Brasil, Verde-Amarelo e Antropofágico.
Especial O POVO +
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Mostra "100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará"
Quando: de terça a sexta feira, das 9 às 19 horas; sábados e domingos, das 10 às 18 horas
Onde: Espaço Cultural Unifor
Quanto: Entrada franca
Mais informações: 3477.3319
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