Se tem uma coisa que o vocabulário cearense não é, é “fuleiro” - muito menos “paia”. O linguajar das pessoas que no Ceará habitam é marcado por expressões irreverentes e curiosas, que ajudam a contar a história do Estado e de seu povo. Em uma missão “invocada”, o jornalista Tarcísio Matos lança nesta quinta-feira, 7, a partir das 18 horas, a “Grande Enciclopédia Infantojuvenil da Fala Cearense - O Cearensês ao alcance do mundo”.

Com quase dez mil expressões e verbetes e dividido em dois volumes com cerca de 300 páginas cada, o livro reúne desde termos já consagrados (como “mangar” e “rebolar no mato”) a comparações, crendices e “fuleirosofias”. O palco do lançamento será o Espaço Alpendre da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) e terá as presenças dos jornalistas Demitri Túlio e Eliomar de Lima e o professor, poeta e colunista do O POVO+ Chico Araujo.

Além do lançamento do livro, haverá uma homenagem conduzida por Samuel Rocha, David Simplício e Vannick Belchior ao músico Tarcísio Sardinha, que faleceu em abril. Publicada pela editora Mentoria das Letras, a enciclopédia também conta com ilustrações de jovens estudantes da rede pública de Fortaleza e Itaitinga, que ajudam a destacar

O livro que chega às mãos dos cearenses será vendido por R$90 e é resultado de um trabalho de mais de 45 anos de “andanças” de seu autor por diferentes cidades do Estado, incluindo as localizadas no Interior. “Pesquisador e usuário” da língua local, Tarcísio observava - e se encantava - “com o ritmo, a alegria, os tropeços de pronúncias” e as diversas expressões que estão no imaginário - e na fala - popular.

Com isso, decidiu registrar seus conhecimentos. Primeiro, fez anotações no papel, mas acabou perdendo-as posteriormente. Na segunda tentativa, buscou documentar em um arquivo no computador, mas também perdeu acesso aos dados. Até que, há cerca de dez anos, começou novamente sua escrita, mas desta vez de forma definitiva.

A sua relação com a escrita mais voltada para a fala cearense vem desde os anos 1980, quando escrevia crônicas de humor “para Um jornal sem regras”, do também jornalista Flávio Paiva. “Eu nunca abri mão de sempre poder falar de um tema usando palavras, sentenças, sabedorias e pensamentos nossos”, afirma.

Para a “Grande Enciclopédia Infantojuvenil da Fala Cearense”, Tarcísio recorreu à sua memória e aos seus conhecimentos prévios, sim, mas também pesquisou outras publicações com temáticas semelhantes e autores como Patativa do Assaré e Raimundo Girão. O projeto foi aprovado na Lei Aldir Blanc e traz uma versão “reduzida” do vocabulário coletado pelo jornalista - resultando, assim, em uma edição “permitida para todos os públicos”, sem expressões mais “esculhambadas”, como ele mesmo pontua.

Confira algumas ilustrações do livro "Grande Enciclopédia Infantojuvenil da Fala Cearense - O Cearensês ao alcance do mundo":

“Eu não poderia deixar a parte mais escrachada e ‘impublicável’, então retirei essa parte mais pesada e mais esculhambada para deixar uma leitura comum de uma família se reunir e se sentar, Mas já está acontecendo uma pressão grande para que eu publique uma espécie de terceiro volume ilustrado por adultos e para adultos”, brinca.

Por falar em ilustrações, as que estão presentes nesta edição foram feitas por crianças e adolescentes estudantes de escolas públicas de Fortaleza e Itaitinga e integrantes do projeto “O Traço e a Fala do Cearensês”, em uma parceria do Instituto Tonny Ítalo (InsTI) com o Espaço Cultural Artes em Conexão. Em 21 de maio, por sinal, houve um evento de pré-lançamento da obra na sede do InsTI, em Itaitinga.

O POVO+ | Confira a crônica "Cearensês: sem 'boneco' e 'de vera'", Chico Araújo, sobre o novo livro de Tarcísio Matos

O momento foi mencionado pelo colunista Chico Araujo em uma crônica publicada no O POVO+. Você pode conferir alguns trechos dela ao final desta matéria. Na ocasião, os jovens que participaram da iniciativa puderam ver seus desenhos no livro e celebrar seus trabalhos. Para Tarcísio, essas presenas “trazem mais humanidade” à obra.

Em sua visão, o projeto ajuda a valorizar a cultura local. “Estamos devolvendo ao público cearense aquilo que é dele. Nós somos assim. Lidamos diariamente com essas terminologias e muitas vezes não percebemos que elas são nossas”, analisa.

Lançamento

Quando: quinta-feira, 7, às 18 horas
Onde: Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Av. Presidente Castelo Branco, 255 - Centro)
Preço do livro: R$ 90

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