"Meu plano é voltar pro quarto primordial e me perguntar o que quero fazer agora". Foram essas palavras que Isabel Teixeira usou ao ser questionada sobre os próximos projetos. A atriz, diretora, pesquisadora e dramaturga de currículo extenso conversou com o Vida&Arte sobre seus trabalhos e sobre a importância de ser uma artista multifacetada. Com grande sucesso na novela "Pantanal", que já chega ao fim essa semana, interpretando Maria Bruaca, a atriz revelou a necessidade de se escutar novamente e saber o que seu coração deseja após o final da novela das nove, da TV Globo.
Isabel é fundadora da Cia Livre de Teatro, grupo em que realizou trabalhos como atriz em "Toda Nudez Será Castigada" e "Um Bonde Chamado Desejo". Na mesma companhia, em 2005, coordenou o projeto "Arena Conta Arena 50 Anos", ganhador dos prêmios Shell e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) do mesmo ano. Foi em 2009 que a artista se destacou como melhor atriz e recebeu o prêmio Shell com o trabalho "Duas Atrizes em Busca de um Coração".
"Eu tinha uma visão de que quando eu saísse da escola, o caminho já estaria pronto. E não tava. Aí tem esse mercado, que queria que eu tivesse uma agenda, um book, essas coisas. E eu não queria nada disso. E assim, se o mercado não vai nos chamar para o que queremos fazer, então vamos nós mesmos inventar um jeito. A companhia foi fundada como algo livre, pois misturávamos as funções. Em uma peça eu era atriz, em outra eu estava na direção e em outra eu estava na iluminação. É muito cruel você escolher somente uma coisa para o resto da sua vida. Minha experiência com a companhia me mostrou isso, que eu podia ser muitas coisas", afirma Isabel.
No ano de 2020, a artista integrou o elenco da série "Desalma", de Ana Paula Maia, exibida pelo Globoplay, interpretando a personagem Anele Burko. Já tendo participado, como atriz, de mais de 20 espetáculos, nacionais e internacionais, e dirigido mais de 10 peças, Isabel se destacou na TV aberta, também em 2020, com a novela da TV Globo "Amor de Mãe". Na produção, interpretou a personagem Jane, amiga fiel da vilã Thelma, interpretada por Adriana Esteves. Nesta mesma trama a personagem vivida por Isabel fica marcada por sua morte trágica ao ser assassinada pela própria confidente pouco tempo depois de descobrir uma verdade bastante inconveniente para a antagonista.
Em entrevista, Isabel conta que a construção de sua personagem Jane se deu durante um experimento de seus figurinos. "Tudo é como um esporte radical, é como voar no desconhecido. Eu fui me entendendo, me olhando no espelho. Tô amando fazer isso cada vez mais". Ela ainda afirma que seu encontro com a atriz Adriana Esteves mudou tudo na sua trajetória.
"Eu me sinto, hoje em dia, apaixonada pela dramaturgia por causa do meu encontro com ela. Era bom de jogar com ela, ela é uma grande jogadora. Aprendi coisas com a Adriana que usei durante toda a gravação de 'Pantanal', por exemplo: como entrar no estúdio todo dia, como estudar, como ser profissional, chegar na hora, estar pronta na hora. Isso aí é lindo. É estar com todo mundo e respeitar o todo. Ela não tem soberba e é uma trabalhadora, eu me reconheci nisso aí", diz ela.
Pantanal
Maria Bruaca é uma mulher sensível, madura e inspiradora, que marcou o público brasileiro na novela das nove da TV Globo. Um de seus esforços foi trazer o peso de um relacionamento abusivo com o marido Tenório, interpretado por Murilo Benício. Confira trechos da entrevista:
O POVO: Como foi se preparar para interpretar Maria Bruaca?
Isabel Teixeira: É uma preparação que ainda não acabou. Eu sou muito porosa sabe… Tô o tempo inteiro aberta. A primeira coisa que fiz quando soube que ia estar na novela foi reassistir. Eu já amava a novela e ela foi muito importante pra mim em 1990. Quando eu revi, fiquei muito impressionada com o trabalho e a maestria da Ângela Leal. Ali, olhando, eu sabia que tinha ganhado um presente. E quando soube… eu gritava na cozinha e chorava de alegria. Eu combinei com a Ângela, por sinal, que a Maria Bruaca de 2022 é nossa, minha e dela.
OP: Maria Bruaca é uma personagem que reflete a força da mulher, principalmente diante de relacionamentos amorosos. Como é representar essa temática?
Isabel: Acho que, mais do que qualquer coisa, é a trajetória de uma personagem. O que posso dizer é que as coisas não são da noite pro dia. A Maria Bruaca não podia colocar um cropped e reagir senão não ia ter novela pra ela. Nesse caso do abuso, que tem como característica principal a não percepção dele, ou seja, não é um abuso físico, é um abuso moral e patrimonial, é mais difícil; principalmente porque Maria Bruaca não tinha nenhuma referência. Um dia me perguntaram com quem a Maria Bruaca vai acabar e eu respondi: com ela mesma. O mundo mudou, hoje as princesas, por exemplo, se restauram sozinhas, não tem isso de homens virem salvar elas.
O POVO: Quais semelhanças entre você e Maria Bruaca?
Isabel: Elejo uma que é a alegria de viver. Tem uma hora, que ela sai de casa pela primeira vez e vai ali para o Pantanal junto de Alcides no barquinho, que ela olha pro entorno e que é uma alegria estar ali. Foi uma cena que atriz e personagem se dissolveram, realmente. É lindo ver como tá todo mundo junto, ver todo mundo gravando, uma equipe enorme no meio do Pantanal fazendo um trabalho lindo. Acho que o set é um exemplo de que o mundo pode dar certo.
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OP+
A atriz e pesquisadora Isabel Teixeira é a entrevistada do 37º episódio do Vida&Arte Convida. A íntegra da conversa está disponível na sessão Filmes e Séries. Nessa nova entrevista, você confere a experiência e o amor da artista por seus trabalhos.