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As dimensões poéticas e políticas por trás dos museus cearenses
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As dimensões poéticas e políticas por trás dos museus cearenses

Em celebração ao Dia Nacional da Cultura, o Vida&Arte percorre os aspectos culturais, políticos e sociais dos museus do Estado
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Fachada do Museu do Ceará, no Centro. Espaço está em processo de reforma (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Fachada do Museu do Ceará, no Centro. Espaço está em processo de reforma

"São processos". Essa é a definição de museus caracterizada pela museóloga Graciele Siqueira, diretora do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC/UFC), que utiliza como embasamento o significado determinado pelo Estatuto Brasileiro de Museus (Ibram). São espaços que expõem recortes históricos e sociais por meio de falas, imagens, sons. Aguçam os cinco sentidos, trabalham com a relação de preservação e expandem a potência cultural. Não ao acaso, "O Poder dos Museus" foi o tema da vigésima Semana Nacional de Museus, evento realizado pelo Ibram durante agosto de 2022.

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A cerimônia abordou o caráter emancipador destas instituições, presentes em ações de "pesquisa, preservação, conservação, educação, comunicação, ação cultural, gestão e inovação tecnológica", segundo o site da iniciativa. Mas de que maneira as funções culturais e sociais dos museus foram sendo exercidas com o passar dos anos?

As discussões acerca das ocupações dessas instituições são extensas. Começamos, então, com a etimologia. A palavra "museu" - de origem grega - faz referência ao "templo das musas" e era utilizada para designar o local destinado ao estudo das artes e das ciências. Já durante o Renascimento, surgiram os Gabinetes de Curiosidades, compostos por coleções formadas por estudiosos de itens raros. Em território brasileiro, as experiências museológicas evoluíram de um caráter inicialmente "enciclopédico" para agregar diferentes frentes.

"O conceito de museu hoje está muito amplo e isso é muito bom para a sociedade, para que ela entenda o que é, para quem é e para que serve um museu", contextualiza Graciele. A concepção ainda foi reestruturada com o início da museologia moderna, por volta da década de 1970, passando por várias atualizações até 2007, ano que estabeleceu o museu como uma "instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite".

A conceituação foi reconfigurada em 2022, sendo modificada para incluir os termos "inclusão", "acessibilidade", "sustentabilidade" e "ética". A aprovação aconteceu durante a 26ª Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus (Icom), realizada de 20 a 28 de agosto em Praga, na República Tcheca. A partir da modificação, é válido considerar que os museus "abertos ao público, acessíveis e inclusivos, promovem a diversidade e a sustentabilidade". Ademais, consta na documentação do Icom que os órgãos "atuam e se comunicam de forma ética, profissional e com a participação de comunidades, oferecendo experiências variadas de educação, entretenimento, reflexão e compartilhamento de conhecimento".

Graciele pontua que as instituições museológicas podem ter distintas dimensões e consegu jkem, também, ser interpretadas a partir do cotidiano. "A gente pode entender os museus no dia a dia. Temos o museu tradicional, que pode ser um museu de território, como os museus indígenas, de comunidades periféricas, quilombolas. Existem museus virtuais, que existem somente no ambiente virtual. Hoje, no Ceará, se criou o modelo de museu orgânico, que está relacionado aos museus comunitários, mas diretamente ligado à vida de um mestre, uma pessoa que é detentora de um saber", acrescenta.

Para a profissional, estes são locais que narram recortes de pontos de vistas. "A gente vai trabalhando os museus a partir da memória, dos esquecimentos, histórias que vão sendo preservadas, forjadas e construídas cotidianamente. Acredito que a sociedade precisa compreender que os museus não são mais, e nunca foram, esses lugares de coisas velhas", defende. 

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