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Lacunas de história e arte dentro dos museus do Estado
Vida & Arte

Lacunas de história e arte dentro dos museus do Estado

Com o desenvolvimento dos espaços expositivos no Estado, surgem questionamentos sobre suas funções e demandas de políticas culturais
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Museu de Arte Contemporânea do Ceará, localizada no Dragão do Mar (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Museu de Arte Contemporânea do Ceará, localizada no Dragão do Mar

De acordo com dados da edição 2022 - 2023 do Anuário do Ceará, publicação organizada pela Fundação Demócrito Rocha (FDR), constam 182 museus no Estado. Desde o Museu Cacarecos, situado no sertão de Cratéus, até o Minimuseu Firmeza, localizado no bairro Mondubim da capital cearense, as instituições museológicas passeiam por diferentes esferas e territórios. Atravessam pelas temáticas da escrita, da cachaça, do humor, da motocicleta, do mangue e da indústria.

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Os formatos iniciaram no Ceará ainda de forma tradicional, oriunda da visão do cearense Gustavo Barroso, que vai ao Rio de Janeiro e fica responsável pelo Museu Histórico Nacional (MHN) em 1922. "Os primeiros museus no Ceará, hoje Museu do Ceará e Museu Diocesano Dom José, em Sobral, são museus de uma ótica tradicional, do colecionismo, da política de aquisição, seja através da doação, seja através da compra", rememora Graciele.

Em 1961, surge o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC/UFC), que nasce de maneira mais colaborativa. "Ao longo do século XX e XXI, o Ceará foi formando a sua rede de museus. São mais de 180 museus cadastrados no Ibram. É um número muito bom, muito importante para o cenário estadual", avalia a diretora do MAUC. Ela destaca a atuação da Rede Cearense de Museus Comunitários, que traz contribuições com visões de eixos diversos. "No Ceará temos museus e memoriais, uma série de ações desenvolvidas dentro das universidades, dos tribunais estaduais e federais. Temos ações particulares, museus comunitários, museus orgânicos. Creio que o Estado fortaleceu muito suas políticas, mas ainda há muito o que ser feito. É uma área que sempre esteve em segundo plano no modelo de gestão", analisa Graciele.

A historiadora e multiartista Sy Gomes é uma das personalidades que partem das mais variadas expressões artísticas ao percorrer e ocupar a capital cearense. Um exemplo é a instalação "Me Vejam de Longe - Outdoor Travesti" (2020), ação que coloca em evidência a vida de travestis do Estado. Também é de sua autoria o projeto "Ioiô Não Vai Votar", de 2021. "Eu me associo ao Bode Ioiô, um ícone do Museu do Ceará, para falar que Fortaleza já elegeu um bode, mas nunca uma travesti. É um modo de alerta porque o Ceará é o segundo estado que mais mata pessoas trans e travestis no Brasil", desenvolve.

No movimento constante entre arte e história, Sy acabou se aproximando do Museu do Ceará, primeira instituição museológica oficial do Estado. "É um museu que está sucateado, não está mais aberto desde 2017. Fica no Centro, tem uma das coleções mais antigas de arte, história política, história natural. Seria incrível ter isso aberto para a gente ter um acesso à memória que fosse até respirável. A gente precisa constantemente respirar esses objetos, a gente precisa olhar para esses objetos", opina.

A artista visual ressalta que "lembrar é um desejo, mas nós também desejamos esquecer". Esse processo também afeta espaços da Cidade, que a população por vezes não pode ter acesso. Integrante da 73ª edição do Salão de Abril, Sy utiliza o evento para exemplificar como cada obra demanda algo diferente dos locais que estão inseridas. "Enquanto historiadora, me interessa falar sobre como a gente pode usar o patrimônio. O Salão de Abril tem uma exposição de artes que exige muito da Casa do Barão, um local tombado, protegido por diversas leis que por vezes prejudicam o Salão de Abril", menciona.

Ela acredita que, para estender o debate aos espaços expositivos da Capital, o primeiro passo é considerar quem está por trás da gestão de cada um. "Para falar em como esses equipamentos estão, a gente tem que pensar quais são os equipamentos da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult - CE) e quais são os equipamentos da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor). Temos que pensar o que são esses espaços, quais são as exposições, quem é o gestor. A gente não conhece as pessoas", considera.

Ela cita, também, a falta de políticas de ocupação artística em equipamentos da Cidade, como o Theatro José de Alencar e o Teatro São José. "Não tem uma política de orientação artística para ocupar a Casa Barão de Camocim, não existe um programa de residências artísticas em dança e teatro na Prefeitura de Fortaleza. É muito difícil. Eu sinto que Fortaleza sempre está insistindo no mesmo erro, não se tem um edital amplo de ocupação.  Também precisa falar com as pessoas que estão ao redor dos equipamentos, colocar profissionais dentro do equipamento. A gente precisa de uma ocupação geral desses espaços. Acho que essa falta está bem nos espaços da Prefeitura de Fortaleza mesmo, faço esse recorte".

Sy menciona que, quando há programação e abertura para que os artistas possam expor seus trabalhos, o público oferece uma boa resposta. A multiartista considera políticas como a Lei Aldir Blanc de maneira favorável para a projeção do cenário cultural cearense. "A gente vê uma distribuição de recursos para áreas que não são distribuídas, que são projetos de arte livre, tem manutenção de centros populares. Talvez a gente tivesse que acreditar mais e criar uma política de governo que promovesse cada vez mais esses espaços de chamada aberta, de inscrição, de edital. É importante uma transparência", inclui.

 

Onde visitar

Museu da Imagem e do Som do Ceará

Onde: av. Barão de Studart, 410 - Meireles
Quando: de quinta-feira a domingo, das 13 às 20 horas

Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC)

Onde: av. da Universidade, 2854 - Benfica
Quando: segunda a sexta-feira, das 8 às 12 horas e das 13 às 17 horas

Museu da Indústria

Onde: rua Dr João Moreira, 143 - Centro
Quando: terça-feira a sábado, das 9 às 17 horas; domingo, das 9 às 13 horas

Museu de Arte Contemporânea do Ceará

Onde: rua José Avelino, 10 - Centro
Quando: quarta-feira a domigo, das 9h30min às 12h30min e das 14h30min às 17h30min

Museu da Fotografia

Onde: rua Frederico Borges, 545 - Varjota
Quando: de terça-feira a domingo, das 12 às 17 horas

Museus da rede pública do Estado

Veja relação de museus cearenses abertos, em manutenção e fechados geridos pela Secult - CE. As informações foram disponibilizadas pelo órgão:

Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC)

O Museu está fechado para desmontagem. Em breve terá a exposição "Reflorestamento", prevista para o dia 10 de dezembro de 2022. Com curadoria de Aline Albuquerque e Lucas Dilacerda, a mostra celebrará os 10 anos do Laboratório de Artes Visuais da Escola Porto Iracema das Artes, com a participação de estudantes que passaram ao longo das edições.

Quando: Visitas de terça a sexta, das 9h às 18h (com acesso até as 17h30), e aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h (com acesso até as 17h30).
Onde: Rua Dragão do Mar 81, Praia de Iracema

Museu da Cultura Cearense

Em cartaz com a exposição “Vaqueiros”, com curadoria de Margarita Hernandez; "Bestiário Nordestino", com curadoria dos artistas Rafael Limaverde e Marquinhos Abu; "Risca", de Naiana Magalhães, com curadoria de Carolina Vieira (A exposição Risca, no entanto, está temporariamente suspensa para manutenção na central de ar-condicionado.)

Quando: Visitas de terça a sexta, das 9h às 18h (com acesso até as 17h30), e aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h (com acesso até as 17h30).
Onde: Rua Dragão do Mar 81, Praia de Iracema
Mais informações: (85) 3488.8624

Acesso gratuito e livre.

Agendamento de grupos:

O agendamento de grupos (limite de até 50 pessoas) pode ser feito de segunda a sexta, das 10h às 16h, pelo e-mail agendamentosmuseus.cdmac@idm.org.br. As visitas mediadas em grupo acontecem, preferencialmente, de terça a sexta, das 9h às 16h, e aos sábados, domingos e feriados das 10h às 16h, mediante agendamento prévio. São disponibilizadas também mediações programadas em Libras, mediante solicitação prévia.

Museu Ferroviário do Ceará

Sem programação ainda. O equipamento está em processo de construção de sua exposição de longa duração, do seu Plano Museológico e da catalogação do seu acervo.

Esse Plano Museológico - em processo de construção com a AERVC (Associação dos Engenheiros da Rede Viação Cearense), a AFAC (Associação dos Ferroviários Aposentados do Ceará), a equipe técnica do Museu, o NACA (Núcleo de Articulação Comunitária e Afirmativa), Apremfece (Associação de Preservação do Museu Ferroviário do Ceará) e a comunidade residente no entorno da Estação das Artes - deverá contemplar questões relativas à diversidade cultural.

Onde: rua Dr. João Moreira, 540 - Centro, Fortaleza - CE

Pinacoteca do Ceará

Sem programação ainda. A Secult-CE prevê a abertura da Pinacoteca do Ceará para dezembro deste ano, e abrirá suas portas ao público com três exposições. Em comemoração aos centenários dos artistas Aldemir Martins e Antônio Bandeira, juntamente com uma grande coletiva de outros artistas cearenses, integrantes do acervo e convidados. Assim, a equipe segue com a produção dessas grandes mostras, com a higienização de obras do acervo do Governo do Estado do Ceará e trabalho das equipes de expografia, de curadoria, entre outras.

Sua infraestrutura é constituída de espaços apropriados para os seguintes ambientes: laboratório de conservação, restauração e higienização, ampla reserva técnica climatizada com padrões térmicos e de controle de umidade adequados para a manutenção do seu acervo, ambiente para pesquisa e catalogação, reas de manutenção e oficinas, para recebimento e montagem das mostras, ateliês e laboratórios para cursos de programa de formação, auditório, grandes áreas expositivas cobertas e abertas para mostras de longa e curta duração, loja, café, áreas de apoio e espaços multiusos.

O funcionamento da Pinacoteca do Ceará se dará de forma gradual. Tendo como essência ser um museu-ateliê, focado nas práticas e experimentações, sempre em constante construção com a comunidade artística. Portanto, ainda antes da abertura do equipamento, será realizada uma escuta à comunidade para a construção conjunta do Plano Museológico da instituição, com um seminário aberto ao público, e, posteriormente, fóruns, no intuito de escutar as comunidades alvo do museu, para fundamentar os futuros programas.

Onde: Rua 24 de Maio, Praça da Estação - Centro, Fortaleza - CE

Museu da Imagem e do Som do Ceará

Em cartaz com "Laboratório dos Sentidos", no casarão do MIS; "Ontem choveu no futuro", no anexo, andar -2; "Leocácio Ferreira – Todos juntos, vamos…!", no anexo, andar +2.

Quando: de quinta a domingo, das 13h às 20h (acesso até 19h30).
Onde: Av. Barão de Studart, 410, Meireles, Fortaleza - CE

Acesso gratuito.

Museu do Ceará

Em restauro.

Onde: Rua São Paulo, 51, Centro, Fortaleza - CE

Museu do Ceará: Anexo Bode Ioiô

Em processo de organização do acervo, após mudança do Palacete. Previsão de abertura ao público: 1º semestre de 2023.

Onde: Rua Major Facundo, 584, Centro, Fortaleza, - CE

Museu Sacro São José de Ribamar

Fechado. Aguardando o início das obras de reforma.

Onde: Praça Cônego Araripe, 22 , Centro, Aquiraz – CE

A reportagem também solicitou uma relação dos espaços com gestão da Secultfor, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

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