Do grandioso monumento histórico ao detalhe do fazer manual, a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (EAOTPS) cumpre uma vocação especial: preservar concreta e simbolicamente as memórias cearenses. Inaugurado em 18 de dezembro de 2002 sob o nome de Centro de Restauro do Ceará, o equipamento — vinculado à Secretaria da Cultura do Estado e gerido pelo Instituto Dragão do Mar — se conecta com os patrimônios materiais e imateriais do Estado a partir de olhar e gesto de salvaguarda tanto para edificações, monumentos e obras de arte como para saberes tradicionais que vão do bordado à gravura.
Gestora executiva da Escola desde setembro de 2021, Maninha Morais acompanha os caminhos do equipamento desde o início. Ela lembra que ainda na década de 1990, na gestão de Paulo Linhares como secretário da Cultura e dela como diretora do Theatro José de Alencar, o Palacete Thomaz Pompeu Sobrinho — onde a escola atua — foi adquirido pelo governo do Estado.
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"Ele ia ser vendido para uma construtora, para erguer um prédio (no lugar). O governo adquiriu e começou a pensar em um projeto de um centro de restauro", recupera, ressaltando que a primeira turma do equipamento, composta por cerca de 50 jovens, trabalhou na restauração do próprio palacete. A edificação, em estilo Art Nouveau italiano, foi construída entre 1924 e 1929 para morada do intelectual Thomaz Pompeu de Souza Brasil Sobrinho (1880-1967) e é protegida pela lei estadual de Proteção ao Patrimônio Histórico e Artístico do Ceará. O espaço, além de acolher as atividades da Escola, é aberto para visitações guiadas. É possível marcar visita entrando em contato com a instituição (ver contato no serviço).
Os anos iniciais de atividades da EAOTPS não foram contínuos, o que mudou a partir de 2006 com a gestão do equipamento pelo IDM, quando a Escola "não parou mais as atividades", como celebra Maninha. Entre algumas das ações citadas pela gestora, estão a conservação e restauro de bens patrimoniais móveis e imóveis, ateliê da gravura, que conta com prensas históricas, e o destaque ao artesanato tradicional em formatos como o bordado e a prataria artesanal.
A culminância das formações de 2022 acontece na I Mostra Fazendo Artes, Aprendendo Ofícios, que reunirá exposições de bordados e joias — todas produzidas em cursos da Escola — e ainda telas do pintor Chico da Silva (1910-1985) restauradas por alunos, vídeos do restauro de murais artísticos da Igreja Nossa Senhora dos Remédios do artista Gérson Faria (1889-1943) e também do projeto Patrimônio para Todos.
Esta é uma iniciativa que nasceu no escopo da Escola em 2009 para disseminar noções e práticas de preservação do patrimônio cultural concreto e simbólico em bairros da Capital e municípios do interior — incluindo ações na Barra do Ceará, Ancuri, Mondubim, Maranguape, General Sampaio, Pentecoste e Fortim, entre outros locais. Com jovens das comunidades de cada território, o projeto ressalta "patrimônios não consagrados" como pequenos comércios, festejos tradicionais e edificações históricas por vezes ignoradas pelo poder público.
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O Patrimônio para Todos chegou a ser, em 2011, vencedor do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico. Apesar do recebimento da honraria que reconhece ações ligadas ao tema, o projeto seguiu somente até 2013, sendo retomado agora em 2022. Neste novo momento, as atividades aconteceram nos bairros Parangaba, Jangurussu, Serviluz, Sabiaguaba e Jacarecanga. É possível encontrar conteúdos da iniciativa no Instagram @patrimonioparatodos.
A intensidade das atividades que ocorreu neste ano se deu, em parte, por conta de uma demora no repasse dos recursos previstos para a Escola em 2022, que só chegaram em agosto. "Tivemos quatro, cinco meses para realizar as atividades de um ano", sublinha Maninha.
Com não somente o contexto de final de ano, mas também finalização do atual contrato de gestão — que é renovado anualmente com o IDM —, o momento é de trabalhar justamente no novo documento e nas propostas de cursos e ações para 2023.
"A cada ano, a gente vai mudando (a oferta formativa) sempre ao redor da educação patrimonial e dos ofícios tradicionais. Neste ano, nós fizemos um de pinturas parietais (realizada em paredes, murais)", exemplifica Maninha, adiantando o projeto de uma formação para início do ano que vem em conservação e restauração de esculturas. "Estamos nos preparando para o próximo ano, para que a gente possa ter os recursos. Se a gente garanti-los, vamos poder fazer muito mais", confia.
Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho
Onde: avenida Francisco Sá, 1801 - Jacarecanga
Site: www.eao.org.br
Contato: contato@eao.org.br ou (85) 3238.1244
Siga: @escolaarteseoficios.tps e facebook.com/earteseoficios
Siga o projeto Patrimônio para Todos: @patrimonioparatodos
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