Logo O POVO+
Dia da Bossa Nova: no Brasil ou exterior, gênero segue visitado
Vida & Arte

Dia da Bossa Nova: no Brasil ou exterior, gênero segue visitado

Dia Nacional da Bossa Nova é celebrado nesta quarta-feira, 25; gênero segue sendo visitado atualmente por artistas brasileiros e também estrangeiros
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Rafael Torres, do grupo Argonautas, traz a linguagem da bossa nova em suas composições (Foto: Celso Oliveira/Divulgação)
Foto: Celso Oliveira/Divulgação Rafael Torres, do grupo Argonautas, traz a linguagem da bossa nova em suas composições

No elevador, é reproduzida a versão instrumental de “Garota de Ipanema” enquanto um grupo de pessoas espera para chegar em seu andar de destino. Isso pode acontecer no Rio de Janeiro ou em Barcelona. Afinal, o clássico da bossa nova, de autoria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, é a segunda música mais tocada da história, atrás de “Yesterday”, dos Beatles.

O sucesso da música brasileira demonstra o alcance global de um gênero derivado do samba com elementos do jazz norte-americano. Nesta quarta-feira, 25, é celebrado mais uma vez o Dia Nacional da Bossa Nova. A data foi estabelecida em homenagem ao aniversário de nascimento de Tom Jobim, um dos principais nomes do gênero.

Conhecida mundo afora e com várias versões estrangeiras, como a da francesa Jacqueline François e a do americano Nat King Cole, “Garota de Ipanema” é a principal referência da internacionalização da Bossa Nova, mas o estilo segue conhecido até hoje e reproduzido, de alguma forma, em trabalhos de artistas contemporâneos. Em 2021, por exemplo, a cantora americana Billie Eilish lançou a faixa “Billie Bossa Nova”.

Mas, afinal, por que a sonoridade bossanovista é facilmente reconhecível e replicável? Para o violonista, arranjador e produtor Flávio Mendes, integrante do grupo Bossacucanova, a explicação se associa à simplicidade desenvolvida ritmicamente por João Gilberto no violão.

“Ele desenvolveu uma decantação da polirritmia do samba se concentrando em uma célula rítmica típica do tamborim. Esse chamado ‘ritmo da Bossa Nova' é genialmente simples, e por isso mais facilmente reconhecível. E é, por isso, mais fácil que instrumentistas de fora do Brasil, sem conhecimento prévio de samba, consigam tocar Bossa Nova”, explica.

A cantora e compositora Joyce Moreno corrobora com a afirmação de Flávio Mendes. Em sua análise, a simplificação da batida do samba “facilitou o entendimento dos não-brasileiros”. “São melodias e harmonias sofisticadas, mas simples, por isso músicos do mundo inteiro querem tocar e não só nos EUA e na Europa”, destaca.

Nesse sentido, aponta como exemplos de artistas internacionais influenciadas pela bossa a islandesa Björk e a nipo-brasileira Lisa Ono, dedicada ao estilo musical. “Tem Bossa Nova na Rússia, na China, no Japão… É uma fonte que nunca seca. E estes elementos (ritmo, melodia, harmonia) continuam mantidos, mesmo quando acrescidos de beats eletrônicos feitos por DJs”, indica Joyce.

Ainda nos Estados Unidos, o pesquisador e jornalista Célio Albuquerque, organizador do livro “1979 – O ano que ressignificou a MPB”, aponta o NOVA como um dos grupos mais recentes que trabalha com a Bossa. O conjunto “tem um rico repertório, quase todo em português”, tendo como vocalista a espanhola Laura Vall.

Na América do Sul, Ofélia Del Rosal, venezuelana/espanhola radicada na Colômbia, tem como lançamento recente “Abrazaditos”, canção de Roberto Menescal com a cantora Rosália de Souza - esta que, por sua vez, mora na Itália “e tem em seu repertório muita Bossa Nova”.

“Mas, a grande influência da Bossa e da música brasileira como um todo pode ser vista na jovem orquestra do maestro espanhol Joan Chamorro, a Sant Andreu Jazz Band, que ao longo dos anos vem revelando várias cantoras que tem a música brasileira e a Bossa em especial no repertório. Craques como Elia Batida, Alba Esteban, Eva Fernández, Andrea Motis, Alba Armengou são algumas delas, que tem álbuns exclusivos”, complementa o jornalista.

Em meio à contemporaneidade de artistas que seguem revisitando a Bossa Nova, Flávio Mendes analisa a importância desse movimento para que o estilo continue relevante ou adquira novos ouvintes. “Eu toco com o Bossacucanova há 20 anos, já viajei muito com o grupo e vi que a bem azeitada mistura da bossa com eletrônica foi fundamental pro grupo conquistar espaço”, afirma.

Em terras cearenses, a relação com a Bossa Nova vem desde a infância para o músico Rafael Torres, do trio de MPB Argonautas. Hoje com 42 anos, ele admite ter a Bossa Nova “arraigada” em seu dia a dia, a ponto de “vez por outra” compor no estilo musical. “Ela está na minha linguagem”, pondera. A própria banda já fez shows apenas voltados ao gênero, que desperta a atenção do cearense pelo ritmo, a harmonia, a letra e o modo de cantar e tocar.

“Eu tento trazer a Bossa inteira, ainda que adaptada à minha voz”, diz. Rafael Torres e os Argonautas farão show de lançamento do disco "Argonautas Interpretam Edu Lobo", com canções “do mestre da música brasileira” e de seus parceiros, além de contar com a participação do próprio Edu Lobo.

Aos 27 anos, a também cearense, mas radicada no Rio de Janeiro, Hannah Montenegro teve a primeira memória relacionada à Bossa Nova pela novela “Laços de Família”, quando tinha 4 anos. “Acho que atualmente a maior influência que trago na bossa nova é no meu jeito de cantar. Canto baixo, tão baixo que às vezes é um problema”, aponta.

Ela também afirma: “O canto-falado, pra mim, é o que mais me cativa. As letras que eram em sua maioria bem positivas e contemplativas é também outra sacada muito importante que eles tiveram. É importante cantar sobre dores e perdas, mas também é importante cantar sobre belezas e sobre o que tem de bom”.

Leia também | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

Billie Eilish fala sobre síndrome de Tourette
Billie Eilish fala sobre síndrome de Tourette

Billie Eilish

Multivencedora do Grammy, a cantora norte-americana Billie Eilish lançou em seu disco “Happier Than Ever” a canção “Billie Bossa Nova”. Além da referência explícita no título da música, a Bossa Nova é tida como uma das maiores inspirações da artista no desenvolvimento de seu trabalho. “Garota de Ipanema”, aliás, foi importante influência - a cantora admitiu em stories publicados no Instagram que essa é uma das suas músicas favoritas.

Cantora nipobrasileira Lisa Ono tem trajetória marcada pela bossa nova
Cantora nipobrasileira Lisa Ono tem trajetória marcada pela bossa nova

Lisa Ono

Cantora, compositora e violonista nipo-brasileira de Bossa Nova, Lisa Ono ajudou a popularizar o gênero no Japão. Além de japonês e português, canta em inglês, italiano, espanhol e francês. Sua discografia é preenchida por obras como “Dans Mon Ile - La Musique Françoise Rencontre la Bossa Nova” (2003), “Questa Bossa Mia” (2002), “Jambalaya - Bossa Americana” (2006) e “Lisa Cafe II - Japão Especial” (2019).

Cantora islandesa Bjork
Cantora islandesa Bjork

Bjork

Além de ter regravado a música “Travessia”, de Milton Nascimento, a cantora islandesa Bjork tem relação com a cultura brasileira atravessando seu repertório. No álbum “Gling-Gló”, tem passagem forte pelo jazz e é possível perceber traços da bossa nova ao longo do trabalho. Ainda quanto a laços com o Brasil, ela chegou a gravar uma canção em homenagem a Elis Regina intitulada “Isobel”. "Army Of Me" é uma das músicas mais conhecidas da islandesa.

C. Tampana, rapper, cantor e compositor espanhol
C. Tampana, rapper, cantor e compositor espanhol

C. Tangana

O rapper espanhol C. Tangana, em seu disco “El Madrileño”, traz a canção “Comerte Entera” em parceria com Toquinho. A faixa remonta à música “Insensatez”, de Tom Jobim, e seu refrão é desenvolvido em ritmo de funk. Na música do espanhol, a Bossa Nova surge incorporada a batidas de funk. Tangana é conhecido por passear também por gêneros musicais como trap, pop latino, flamenco e reggaeton. Ele começou a carreira em 2006 com o pseudônimo Crema.

Podcast Vida&Arte

O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui

O que você achou desse conteúdo?