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Conheça Débora Santos, ilustradora cearense indicada a prêmio internacional
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Conheça Débora Santos, ilustradora cearense indicada a prêmio internacional

Indicada ao Eisner Awards de 2023, principal premiação de quadrinhos dos EUA, a ilustradora cearense Débora Santos compartilha trajetória, inspirações e reação ao reconhecimento
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A ilustradora cearense Débora Santos foi indicada ao Eisner Awards 2023 pela publicação
Foto: Tatiana Tavares / divulgação A ilustradora cearense Débora Santos foi indicada ao Eisner Awards 2023 pela publicação "The Beekeeper's Due"

Afeita ao desenho desde a infância, a artista cearense Débora Santos se formou em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará, mas nunca deixou de lado o gosto pela arte. Eventualmente, o caminho das pesquisas acadêmicas cedeu lugar ao de traços e cores da ilustração. Com oito anos de carreira, ela é uma das indicadas ao Will Eisner Comic Industry Awards, principal premiação de histórias em quadrinhos do mundo. O reconhecimento veio pela obra "The Beekeeper's Due" — publicada na antologia de quadrinhos "Tales from The cloackroom", ilustrada por ela e escrita por Jimmy Stamp —, que é finalista da categoria "Melhor História Curta". Na esteira do anúncio da indicação, feito no último dia 17, a cearense conversou com o Vida&Arte sobre trajetória, inspirações e próximos passos na carreira.

O POVO - Quando e em que contexto você começou a ilustrar?

Débora Santos - Sempre gostei de desenhar, desde criança. E aí nunca parei, na verdade. Muitos anos depois de ter feito minha primeira graduação é que passei a fazer quadrinhos de forma independente com um coletivo de Fortaleza, Netuno Press, e a partir daí uma coisa foi levando à outra. Fui aprendendo com esses artistas e antes tinha feito alguns cursos de desenho, pintura e quadrinhos

OP- Você se formou em Ciências Sociais na UFC. De que forma esse caminho deu lugar à escolha por engrenar profissionalmente na ilustração? Quais foram as primeiras experiências neste sentido?

Débora - Depois que concluí a graduação em Ciências Sociais, trabalhei por um tempo na área, em pesquisas e no laboratório de estudo da cidade da UFC, mas, enquanto isso, fazia cursos por fora e tinha muita vontade de trabalhar com quadrinhos e ilustração. A vontade nunca foi embora, na verdade. Estudar Ciências Sociais foi um momento não só de formação acadêmica pra mim, mas de formação cidadã e ética. Depois, fui estudar licenciatura em artes visuais no IFCE e de lá fui aprendendo outras coisas e conhecendo mais gente, procurando trabalhos dentro do que eu queria de fato fazer.

OP- Na ilustração, a sua atuação principal é na colaboração em HQs ou também investe em outras frentes, como produções próprias?

Débora - O que existe atualmente em maior quantidade no meu portfólio são os quadrinhos. É uma linguagem que comecei a consumir na adolescência e me despertou o desejo de contar histórias. Mas também trabalho fazendo cenários para animação 2D, ilustro livros, diagramo, às vezes dou aula de desenho. Na verdade, tudo que é sobre construção visual e contação de histórias sempre me interessa.

Publicada em 2015, a HQ "Pombos!" tem arte e cor de Débora Santos, além de roteiro de Márcio Moreira e cores de Brendda Maria
Foto: Brendda Maria / divulgação
Publicada em 2015, a HQ "Pombos!" tem arte e cor de Débora Santos, além de roteiro de Márcio Moreira e cores de Brendda Maria

OP - Existe um caráter forte de rede colaborativa no campo das HQs e da ilustração. Como você avalia os movimentos da linguagem no Ceará?

Débora - É verdade, existe mesmo! A gente acaba conhecendo muita gente nos eventos de quadrinhos e construindo uma rede de apoio. É uma das coisas que acaba me puxando pros quadrinhos sempre que fico cansada. As pessoas são a melhor parte. No cenário cearense, tem muita gente voltada para a produção independente (sem editoras) e uma geração mais jovem que produz webcomics. A oficina de quadrinhos da UFC, por exemplo, é uma grande responsável pela formação de muitos autores no Estado, de várias gerações diferentes. Acho que ainda falta um apoio maior a quem não está na região metropolitana de Fortaleza. (Na Capital) já existiram vários cursos voltados para a produção de zines e de quadrinhos em equipamentos públicos, como a Escola Porto Iracema das Artes, Cucas e Bece, ministrados por vários autores locais, e eventos também, como Geek Expo, Mercado dos Quadrinhose [Des]enquadradas — que infelizmente não existem mais, mas que foram formativos pra muita gente, incluindo a mim.

OP - A indicação ao prêmio veio por uma obra internacional. Como e quando surgiu a oportunidade de compor essa equipe?

Débora - Já fiz outros quadrinhos curtos independentes para pessoas fora do país e desenhei um que foi fruto de uma pesquisa etnográfica, "Gringo Love". É uma novela gráfica escrita por Marie-Eve Carrier-Moisan, antropóloga e professora na Universidade de Carleton, e William Flynn, sociólogo. Já sobre "The Beekeeper's Due", eu estava em grupos do Reddit (site em estilo fórum que aborda diferentes temáticas) oferecendo serviços de quadrinista e Jimmy (Stamp, autor do texto) veio falar comigo, mostrou o roteiro, eu adorei e a gente trabalhou na história. Ele tinha feito um curso de roteiro com Scott Snyder (roteirista de HQs estadunidense) e queria ilustrar. Depois, todos os alunos desse curso organizaram uma antologia de quadrinhos financiada através do Kickstarter (plataforma de financiamento coletivo), que foi por onde nossa história foi publicada.

"The Beekeper's Due" (ou "o dever do apicultor" em português) foi indicada a Melhor História Curta no Eisner Awards 2023 (Foto: Jimmy Stamp e Débora Santos / divulgação)
Foto: Jimmy Stamp e Débora Santos / divulgação "The Beekeper's Due" (ou "o dever do apicultor" em português) foi indicada a Melhor História Curta no Eisner Awards 2023

OP - Quando você colabora com publicações de outras pessoas, como se dá o processo criativo? O que te inspira principalmente para produzir?

Débora - Para cada projeto, uma dinâmica. É um processo que tem suas particularidades. Quando se fala de quadrinhos, que muitas vezes eu faço com outras pessoas, a parceria criativa é muito importante pra mim. É um processo com muito diálogo, troca de referênciase muitas refações para chegar no melhor resultado possível. Sobre inspiração: tudo me inspira. Desde uma fofoca que alguém me contou, uma série que estou assistindo ou algum insight que tive na terapia. Tudo é material, tudo pode ser assimilado ao trabalho artístico que, de alguma forma, se mistura à leitura que temos do mundo e da vida.

OP - Como tem sido a repercussão — local, nacional e até internacional — após a indicação? Que planos você projeta para próximos passos a partir desse reconhecimento?

Débora - Uma colega jornalista estava falando que se sentia em clima de Copa. O sentimento tem sido esse, mesmo, muita gente feliz, comemorando, vindo falar comigo. A presença de quadrinistas brasileiros nessa premiação causa muito um sentimento generalizado de orgulho, né? Eu já senti isso a respeito de outros autores também, muitos que nem conheço pessoalmente, mas cujo trabalho acompanho e já troquei algumas palavras on-line, fico muito feliz. Muita gente que não é da área também tem vindo me parabenizar. Seria muito legal, óbvio, ganhar o prêmio, mas como somos novatos lá e estamos ao lado de nomes veteranos de peso, não tenho expectativas sobre o resultado da votação. Estar nos finalistas é algo muito grande pra mim e pra meus colegas dos quadrinhos! Eu continuo querendo contar histórias e espero que em breve consiga viabilizar novos quadrinhos longos! 

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