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Pioneiro no Estado, Museu do Ceará segue com obras de reestruturação
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Pioneiro no Estado, Museu do Ceará segue com obras de reestruturação

Com um acervo de mais de 13 mil peças adquiridas ao longo de 90 anos, Museu do Ceará segue fechado ao público. Previsão é que Anexo seja aberto no segundo semestre
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Fortaleza, CE, BR 23.11.21  - Centro Cultural Bom Jardim (Fco Fontenele/OPOVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Fortaleza, CE, BR 23.11.21 - Centro Cultural Bom Jardim (Fco Fontenele/OPOVO)

O Museu do Ceará recebeu 40 mil visitantes entre 2018 e abril de 2019, de acordo com informações divulgadas ao Vida&Arte pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult - CE). Os dados dimensionam o último ano de completo funcionamento da primeira instituição museológica oficial do Estado. Desde então, obras de restauro estrutural prolongam o afastamento entre cidadãos e a secular edificação do Palacete Senador Alencar, situado no Centro de Fortaleza, sem previsão para reabertura até o momento

O local abrigava um acervo com mais de 13 mil peças, entre moedas, itens de vestuário, artefatos indígenas, peças arqueológicas, bandeiras, armas e imagens. Foi recinto para exposições sobre personalidades como o historiador Capistrano de Abreu (1853 - 1927), com objetos pessoais do cearense; e Frei Tito, em memorial que reuniu artefatos pessoais da família, a exemplo de fotografias e documentos. Também não há como deixar de mencionar a presença do Bode Ioiô, caprino eleito vereador nas eleições de 1922, cuja imagem se encontrava empalhada em sala do Museu.

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A mencionada reforma emergencial foi determinada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e objetivava a "melhoria da estrutura e da segurança do bem cultural", com previsão de 120 dias de duração e custo inicial por volta de R$410 mil. Em nota compartilhada no mês de abril, a Secult explica que o atraso foi influenciado pela falta de avanço das tratativas com a Caixa Econômica Federal para o financiamento da obra. O processo corre em fase de liberação de licitação e foi encaminhado para a Superintendência de Obras Públicas do Ceará (SOP), responsável pela elaboração do termo de referência e orçamento, "para dar sequência ao restauro e à modernização do museu, com recursos próprios do tesouro estadual".

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O trâmite, também vinculado à Coordenadoria do Patrimônio Cultural e Memória (Copam), agora envolve cerca de R$4 milhões. O montante, segundo a pasta, é destinado à melhoria da construção predial e também à modernização do órgão. "A referida obra de restauro possibilitará a conservação e preservação do Palacete Senador Alencar, como também modernizará o prédio, adequando o mesmo às atuais orientações para garantir a acessibilidade em museus e atualizará os espaços dos circuitos expositivos da referida instituição", desenvolveu no texto.

O Palacete, consequentemente, se distancia do cenário cultural neste tempo em que balança entre reparações e remodelações. Em meio às inaugurações e reestruturações de equipamentos culturais que se alastram pelo Estado, os pontos de referência de tamanha instituição museológica perdem alcance, embora continuem acessíveis para fins de pesquisa e em atividades de formatos on-line, enquanto não é possível reabrir as portas aos visitantes.

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Memória

O tempo pelo qual corre a reforma pode trazer agravantes que tangenciam as questões físicas: com o equipamento fechado por anos, muitas pessoas de gerações mais novas sequer sabem onde o Museu do Ceará está situado ou têm proporção da trajetória da instituição, que se estende por mais de 90 anos. O contexto do surgimento da iniciativa remete a um período no qual se buscava fortalecer instrumentos de identidade nacional. "No caso dos museus históricos, eles tiveram, em muitos casos, o Museu Paulista e o Museu Histórico Nacional como 'modelos' a partir de 1922, ano do centenário da independência do Brasil", rememora a  historiadora Cristina Holanda, gestora do Museu do Ceará entre 2008 e 2013 e atual diretora do Museu Ferroviário do Ceará. 

O equipamento tratado nesta matéria foi criado por decreto em 1932 e abriu as portas em 1933 como Museu Histórico do Ceará (MHC). As peças, majoritariamente adquiridas por compras e doações particulares e de instituições públicas, ocupavam duas salas do recém-criado Arquivo Público do Estado. A entidade foi incorporada à Secult - CE em 1967 e, em 1971, o professor Osmírio Barreto tomou a frente da superintendência. "Três gestões foram bem estudadas em dissertações e teses: Eusébio de Sousa, Raimundo Girão e Osmírio Barreto. Cada um com suas particularidades, tiveram em comum o uso de práticas expositivas que nos remetem à tradição dos antiquários; discursos em prol do nacionalismo; a folclorização da cultura popular; e a compreensão do Museu como instituição educativa voltada para a formação de patriotas", aponta.

O equipamento embarca em mais um processo de renovação a partir de 1990, quando é transferido para o Palacete Senador Alencar e recebe o título de Museu do Ceará. A nova nomeação pretendia integrar distintos preceitos à instituição, como diversidade tipológica do acervo e formação interdisciplinar, com a presença de historiadores, antropólogos, museólogos, arquitetos, restauradores, arqueólogos e paleontólogos na equipa técnica. "Considerando os novos debates acerca da estrutura e função social dos museus, em especial os de História, percebem-se mudanças acentuadas na configuração do Museu do Ceará, sobretudo com a criação de exposições de longa duração: "Momento Ceará Terra da Luz ou Ceará Moleque: Que História é Essa? (1998-2008)"; e a fundação de um núcleo educativo fundamentada em premissas da História Social e do legado de Paulo Freire, com o desenvolvimento da metodologia do "objeto gerador" nas mediações. Foi o tempo de organização de sua reserva técnica; da Associação de Amigos (única sobrevivente entre tantas outras do mesmo período), inúmeros seminários, cursos, palestras, oficinas, saraus, teatro", direciona Cristina.

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