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Museu do Ceará: os marcos e entraves de instituição pioneira no Estado
Reportagem Seriada

Museu do Ceará: os marcos e entraves de instituição pioneira no Estado

Com um acervo de mais de 13 mil peças adquiridas ao longo de 90 anos, Museu do Ceará segue fechado ao público. Previsão é que Anexo seja aberto no segundo semestre
Episódio 1

Museu do Ceará: os marcos e entraves de instituição pioneira no Estado

Com um acervo de mais de 13 mil peças adquiridas ao longo de 90 anos, Museu do Ceará segue fechado ao público. Previsão é que Anexo seja aberto no segundo semestre
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O Museu do Ceará recebeu 40 mil visitantes entre 2018 e abril de 2019, de acordo com informações divulgadas ao Vida&Arte pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult - CE). Os dados dimensionam o último ano de completo funcionamento da primeira instituição museológica oficial do Estado. Desde então, obras de restauro estrutural prolongam o afastamento entre cidadãos e a secular edificação do Palacete Senador Alencar, situado no Centro de Fortaleza, sem previsão para reabertura até o momento.

O local abrigava um acervo com mais de 13 mil peças, entre moedas, itens de vestuário, artefatos indígenas, peças arqueológicas, bandeiras, armas e imagens. Foi recinto para exposições sobre personalidades como o historiador Capistrano de Abreu (1853 - 1927), com objetos pessoais do cearense; e Frei Tito, em memorial que reuniu artefatos da família, a exemplo de fotografias e documentos. Também não há como deixar de mencionar a presença do Bode Ioiô, caprino eleito vereador nas eleições de 1922, cuja imagem se encontrava empalhada em sala do Museu.

 

Bode Ioiô

O Bode Ioiô é um personagem que ganhou fama quando foi eleito vereador nas eleições de 1922. De acordo com relatos, o caprino transitava livremente pela cidade e aproveitava inúmeras vaidades. Após a morte, o dono do animal fez com que ele fosse empalhado.

 

O bode, então, foi doado ao então Museu Histórico do Ceará e nunca saiu de exposição. A figura ganhou o próprio museu em 1922, localizado na Cidade da Criança, e inspirou a nomenclatura do Anexo do Museu do Ceará, o Anexo Bode Ioiô.

A mencionada reforma emergencial foi determinada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e objetivava a "melhoria da estrutura e da segurança do bem cultural", com previsão de 120 dias de duração e custo inicial por volta de R$ 410 mil. Em nota enviada à reportagem, a Secult explica que o atraso foi influenciado pela falta de avanço das tratativas com a Caixa Econômica Federal para o financiamento da obra.

O processo corre em fase de liberação de licitação e foi encaminhado para a Superintendência de Obras Públicas do Ceará (SOP), responsável pela elaboração do termo de referência e orçamento, "para dar sequência ao restauro e à modernização do museu, com recursos próprios do tesouro estadual".

Fachada do Museu do Ceará, no Centro. Espaço está em processo de reforma(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Fachada do Museu do Ceará, no Centro. Espaço está em processo de reforma

O trâmite, também vinculado à Coordenadoria do Patrimônio Cultural e Memória (COPAM), agora envolve cerca de R$4 milhões. O montante, segundo a pasta, é destinado à melhoria da construção predial e também à modernização do órgão. "A referida obra de restauro possibilitará a conservação e preservação do Palacete Senador Alencar, como também modernizará o prédio, adequando o mesmo às atuais orientações para garantir a acessibilidade em museus e atualizará os espaços dos circuitos expositivos da referida instituição", desenvolveu no texto.

 

O Palacete, consequentemente, se distancia do cenário cultural neste tempo em que balança entre reparações e remodelações. Em meio às inaugurações e reestruturações de equipamentos culturais que se alastram pelo Estado, os pontos de referência de tamanha instituição museológica perdem alcance, embora continuem acessíveis para fins de pesquisa no Anexo Bode Ioiô (rua Major Facundo, 584 - Centro) e em atividades de formatos on-line, enquanto ainda não é possível reabrir as portas aos visitantes. 

 

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Memória e identidade

O tempo pelo qual corre a reforma pode trazer agravantes que tangenciam as questões físicas: com o equipamento fechado por anos, muitas pessoas de gerações mais novas sequer sabem onde o Museu do Ceará "A denominação foi alterada três vezes: Museu Histórico do Ceará (1933 - 1950); Museu Histórico e Antropológico do Ceará (1950 - 1990); Museu do Ceará (1990)"  está situado ou têm proporção da trajetória da instituição, que se estende por mais de 90 anos. Em 28 de janeiro de 1933, O POVO já anunciava o funcionamento do espaço: "Como vem sucedendo anteriormente, amanhã, das 19 às 21 horas, os salões do Museu Histórico, dependência do Arquivo Público do Estado, localizado à rua 24 de Maio, estarão expostos à visita pública".

O contexto do surgimento da iniciativa remete a um período no qual se buscava fortalecer instrumentos de identidade nacional. "Os museus históricos tiveram, em muitos casos, o Museu Paulista e o Museu Histórico Nacional como ‘modelos’ a partir de 1922, ano do centenário da independência do Brasil. Os museus históricos voltaram-se para a celebração do passado, numa perspectiva do "culto à saudade", proposto por Gustavo Barroso, contribuindo para a construção de uma identidade nacional (e cearense) fundamentada na celebração das glórias do pretérito, vivenciadas pelos "grandes" vultos da aristocracia, do Exército, da Igreja Católico e do Estado", rememora a historiadora Cristina Holanda, gestora do Museu do Ceará entre 2008 e 2013 e atual diretora do Museu Ferroviário do Ceará.

 

 

O equipamento tratado nesta matéria foi criado por decreto em 1932 e abriu as portas em 1933 como Museu Histórico do Ceará (MHC). As peças, majoritariamente adquiridas por compras e doações particulares e de instituições públicas, ocupavam duas salas do Arquivo Público do Estado. Em 27 de outubro do mesmo ano, O POVO configurou os itens como “preciosidades das mais interessantes e curiosas existentes”. Ambas organizações foram primordialmente administradas pelo jurista Eusébio Néri Alves de Sousa, com sistematização que priorizava a recuperação de fatos e personagens do passado histórico para a população geral.

Após a saída de Eusébio, o MHC passou por um momento de abandono intensificado pelas diversas mudanças de diretores em curto espaço de tempo. O Museu, que ainda passou por um período de fechamento até o início da década de 1950, foi incorporado ao Instituto do Ceará em 1951 sob a direção do historiador Raimundo Girão. A nova gestão focou em trazer arquivos do Ceará e Nordeste e em modificações no funcionamento do equipamento - a exemplo da mudança de critérios para a exposição dos objetos -, além de alterar o nome para Museu Histórico e Antropológico do Ceará.

 


Confira quem foram os diretores do Museu do Ceará ao longo do tempo

 

A entidade foi incorporada à Secult - CE em 1967 e, em 1971, o professor Osmírio Barreto tomou a frente da superintendência. O profissional favoreceu a premissa de acessibilizar a iniciativa, a fim de atrair mais visitantes e valorizar a atuação de instrumentos museológicos no ensino de História. "Cada uma dessas três fases do Museu possui três gestões que foram bem estudadas em dissertações e teses: Eusébio de Sousa, Raimundo Girão e Osmírio Barreto. Cada um com suas particularidades, tiveram em comum o uso de práticas expositivas que nos remetem à tradição dos antiquários; discursos em prol do nacionalismo; a folclorização da cultura popular; e a compreensão do Museu como instituição educativa voltada para a formação de patriotas", aponta.

O equipamento embarca em mais um processo de renovação a partir de 1990, quando é transferido para o Palacete Senador Alencar e recebe o título de Museu do Ceará. A nova nomeação pretendia integrar distintos preceitos à instituição, como diversidade tipológica do acervo e formação interdisciplinar, com a presença de historiadores, antropólogos, museólogos, arquitetos, restauradores, arqueólogos e paleontólogos na equipa técnica.

Acervo do Museu do Ceará(Foto: Felipe Abud/divulgação)
Foto: Felipe Abud/divulgação Acervo do Museu do Ceará

"Considerando os novos debates acerca da estrutura e função social dos museus, em especial os de História, percebem-se mudanças acentuadas na configuração do Museu do Ceará, sobretudo com a criação das exposições de longa duração: ‘Momento Ceará Terra da Luz ou Ceará Moleque: Que História é Essa? (1998-2008)’, ‘Memorial Frei Tito (2002)’ e ‘Ceará: uma história no plural (2008)’; inúmeras exposições temporárias, inclusive fora do Ceará; e a fundação de um núcleo educativo fundamentada em premissas da História Social e do legado de Paulo Freire, com o desenvolvimento da metodologia do ‘objeto gerador’ nas mediações. Foi o tempo de organização de sua reserva técnica; da Associação de Amigos (única sobrevivente entre tantas outras do mesmo período), inúmeros seminários, cursos, palestras, oficinas, saraus, teatro", direciona Cristina.

 
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Confira entrevista na íntegra com Cristina Holanda, gestora do museu entre 2008 e 2012 e atual diretora do Museu Ferroviário do Ceará (Foto: Arquivo pessoal)

 

 

O Museu em diálogo com a sociedade

Esta sucessão de diretrizes foram decisivas para que a instituição firmasse o compromisso de conscientização social por meio da educação, com projeção de múltiplos projetos educacionais firmada por mandatos como o do professor Régis Lopes, que aconteceu entre 2000 e 2008. Foi neste período que a professora de Teoria e História da Arte da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Carolina Ruoso, começou a integrar o Laboratório de Museologia do Museu do Ceará, à época coordenado pelo docente.

“O Régis trazia todo o discurso do Bezerra de Menezes, da historiografia interessada na cultura material, do colecionismo, das exposições. Era realmente um laboratório de investigação, pesquisa e experimentação", retoma. A nova fase sistematizada pelo professor utilizou como base os ensinamentos do educador Paulo Freire, instigando a criação de um espaço propício para debates e conhecimento crítico. "Eu afirmo com toda a certeza que foi ali, no Laboratório de Museologia do Museu do Ceará, que nasceram as metodologias participativas do inventário participativo e da curadoria participativa”.

A professora afirma que o caminho foi importante para processos de musealização com gestão participativa e justifica o nascimento de projetos dessa natureza a partir da aliança entre instituições culturais, museus e universidades. "(O diálogo) Precisa ser permanente, alimentado, construído para que os museus possam trazer essa dimensão experimental e atualizada. Também é necessário a presença da pesquisa contemporânea atualizada junto com o próprio museu e os movimentos sociais, isso enriquece o processo de musealização", argumenta.

 

 

A união desta gama de organizações foram tão determinantes na trajetória de Carolina que o Museu do Ceará tornou-se seu objeto de estudo na tese "Museu Histórico e Antropológico do Ceará (1971 - 1990): Uma história do trabalho com linguagem poética das coisas: objetos, diálogos e sonhos nos jogos de uma arena política" (2008)", posteriormente publicada em formato de livro pela Coleção Outras Histórias. "Ali eu faço uma relação entre o papel do Museu, partindo do pressuposto do papel da musealização, e do papel da educação no contexto da ditadura civil militar", explica. O estudo foi feito com base no período de 1971 e 1990, utilizando o uso das fotografias de vista de exposição, feitas pelo então diretor Osmírio Barreto.

"O Museu do Ceará tem uma importância estrutural para as políticas públicas. Leva o nome do Estado e tem um viés institucional muito forte, está alinhado ao discurso da Secretaria da Cultura e do governo do Estado. Tem uma força institucional de orientação de uma política de museus no estado do Ceará e de uma visão histórica que o próprio Ceará tem de si", conceitua. Sendo assim, Carolina reforça que a instituição deveria "irradiar reverberações e ressonâncias" que fomentem a construção de museus e políticas de museus em Fortaleza e demais municípios cearenses.

"O que faz deste museu um grande museu de impacto local, nacional ou internacional não é o tamanho do seu prédio, da sua coleção, mas a capacidade que essa instituição tem de articular os trabalhos da memória e da musealização com o território e os agentes culturais. Quanto mais movimentos de agentes históricos nos territórios, quanto mais eu fortaleço os pontos de memórias nos territórios - entendendo as singularidades -, mais eu produzo diálogo”, exemplifica.

Museu do Ceará, no Centro de Fortaleza, aguarda reforma, anunciada pelo secretário da cultura, Fabiano Piúba, ainda em maio de 2021. O equipamento está fechado desde 2019(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Museu do Ceará, no Centro de Fortaleza, aguarda reforma, anunciada pelo secretário da cultura, Fabiano Piúba, ainda em maio de 2021. O equipamento está fechado desde 2019

A acadêmica realça que estamos vivendo um "momento de construção de justiça epistêmica", no qual os processos históricos “dizem muito” sobre a articulação da vida cotidiana e a compreensão de sujeitos que atuam e transformam o mundo. Por isso, é “fundamental” um olhar para a experiência histórica do Estado.

“O museu estar fechado é uma orelha fechada, um lugar de escuta trancado. Precisamos desse museu aberto, com processos de escuta ativos também. Que a gente possa fazer deste um lugar que apresente múltiplas vozes, que é um fundamental. A gente precisa construir justiça social, justiça cultural, valorizando os saberes dos povos indígenas, dos mestres da Cultura, dos trabalhadores e trabalhadoras da terra, das cidades, das fábricas, para que essas histórias sejam contadas, recontadas e reescritas, principalmente."

“O museu estar fechado é uma orelha fechada, um lugar de escuta trancado. Precisamos desse museu aberto, com processos de escuta ativos também", Carolina Ruoso, professora da Escola de Belas Artes da UFMG.

 

 

Preservação e projeção

A atuação plena do equipamento, entretanto, estava prejudicada há alguns anos. Matéria do O POVO de 15 de setembro de 2013 mostra que o local pedia “socorro”. Foram registradas janelas sujas, teto com infiltrações, problemas na central de ar-condicionado e mofo, todos problemas que colocavam em risco a durabilidade do acervo e perduraram até 2019. Para que o equipamento continue ativo nos próximos anos, é necessário direcionar atenção para a captação de recursos, promoção de projetos e preservação dos materiais.

Esse é o papel da Associação de Amigos do Museu do Ceará, criada em 28 de agosto de 1996. A organização sem fins lucrativos destina esforços para promover a história do Ceará, a conservação do acervo e das pesquisas museológicas. "As ações da Associação estão relacionadas a articulação da comunicação das atividades que o museu executa. Mas, pela inviabilidade de abrir ao público no momento, a associação está focada em participar de editais para promover esse acervo, criar exposições para fora do museu, feitas literárias, concorrer a editais", informa o secretário Naudiney Gonçalves.

A organização se mantém com recursos de editais, a exemplo da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195/2022), que vai contemplar algumas produções culturais. Segundo Gonçalves, a maior preocupação neste momento é lutar para que o Museu possa ter uma dotação orçamentária para angariar os próprios recursos. "Estamos com duas grandes frentes de batalha: conseguir a abertura do Palacete e que também tenha a abertura do Anexo do Bode Ioiô para o público. É uma grande demanda porque você precisa dar acesso aos pesquisadores, ao público geral, para que possamos cumprir com essa missão de envolver a sociedade e pensar a história", complementa.

 

 

Repensar o Museu do Ceará

A vigente reforma alcança, também, a dimensão conceitual. A diretora da instituição, Raquel Caminha, acentua os dois principais desafios desde quando tomou o posto no ano de 2021: realizar a transferência do acervo e setor técnico para um novo espaço, processo que começou a ser realizado em setembro de 2022, e reconceituar o Museu do Ceará. "Nessa janela entre 2022 e 2023, o museu completa 90 anos de existência, é uma instituição de referência também. Reconceituar o Museu é repensar ele a partir de novas demandas, que estão mais emergentes na atualidade, especialmente aquelas ligadas à representatividade, diversidade de grupos sociais que sempre são vistos de maneira muito limitada dentro do acervo ou que não se veem representados ou convidados a dialogar com a instituição", considera.

Para a gestora, o restauro deve ser uma oportunidade para o museu se reinventar também em aspectos atitudinais, além das mudanças no prédio. Ela conta que o espaço recebeu visitas recentes do setor de modernização dos equipamentos da Secult - CE, tanto no Palacete, quanto no Anexo, para elaborar equipamentos audiovisuais modernos para serem adquiridos. "O Museu tem trabalhado ainda com atendimento ao público, principalmente aos pesquisadores, e tem realizado algumas programações on-line e em parceria. Estamos tentando manter uma atividade ainda para o público externo, mas estamos nos concentrando para organizar o acervo a partir de novas prerrogativas da museologia, é um trabalho minucioso. Nós estamos relendo a documentação que é necessária para a existência do museu, como o Plano Museológico, estamos fazendo o recomeço do museu".

Museu do Ceará no Jornal O POVO

 

O atual contexto do País, de acordo com a historiadora, é estimulador, após o período de pandemia que afetou toda a cadeia cultural e o desestímulo à cultura presente no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Nesse ano de 2023, com o retorno de um governo que tem a democracia como seu principal valor com muitos bons olhos. O retorno do Ministério da Cultura (Minc) e essas novas políticas que estão sendo divulgadas, nós vemos como uma grande oportunidade para a retomada de financiamentos a instituições museológicas. A Secult recebeu recentemente a presidência do Iphan, que dialogou conosco e vem pensando novas atividades e estratégias", conta.

Todo o planejamento, portanto, está sendo calculado pela atual gestão de expansão do Museu. Em primeiro ponto, com a abertura do Anexo Bode Ioiô (prevista para o segundo semestre de 2023) para a sociedade civil, o diálogo e parceria com os demais equipamentos culturais inaugurados desde 2019 - como a Estação das Artes e a Pinacoteca do Ceará -, e o aumento do acervo com itens de outros museus e parcerias com outras instituições de patrimônio e memória. Caso assim seja, a premissa - e esperança - é de que o Museu do Ceará possa voltar a ser espaço de fruição e expandir a potência cultural do Estado.

Para entender o Museu do Ceará:

Referências bibliográficas e documentos utilizados para a construção da reportagem

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