Era 1986 quando o artista cearense Eugênio Leandro lançava "de forma coletiva, de mutirão", o álbum "Além das Frentes". De lá para cá, o artista nascido em Limoeiro do Norte compartilhou com o público outros álbuns e dezenas de canções. Um recorte dessa produção salta das melodias e acordes para as páginas de uma publicação que adapta músicas do artista para histórias em quadrinhos: é o livro "Além das Frentes", produzido pelo Sesc Ceará.
A publicação é o primeiro fruto de um projeto maior pensado por Alemberg Quindins, gerente de cultura do Sesc Ceará, inspirado na publicação "Bob Dylan Revisited", que traz reinterpretações em quadrinhos de músicas do estadunidense. Este foi o estopim para o gestor formatar uma congregação de diferentes linguagens que celebrasse a história da música cearense.
"Escolhemos o disco 'Além das frentes' para ser o primeiro de um projeto que o Sesc Ceará estava lançando, que se chama 'Disconversando', sobre discos lendários que marcaram a época do vinil na música cearense", contextualiza o gerente. Após esta ação inicial, a publicação foi executada.
"Para a concretização da HQ, foi chamado como curador o grande quadrinista e cordelista de Quixeramobim Klévisson Viana, que juntou dez quadrinistas cearenses, cada um com o traço diferente do outro e também de gerações diferentes", avança Alemberg.
As adaptações são assinadas por Carfil, Cayman Moreira, Daniel Brandão, Débora Santos, Raquel Silva, Itamar Nunes, JJ Marreiro, Kazane, Klévisson Viana e Weaver Lima. Já as canções inspiradoras foram todas lançadas por Eugênio, tendo sido compostas por ele em parcerias com Antônio Tadeu, Oswald Barroso e Rosemberg Cariry.
"Esse disco ('Além das Frentes') é um marco da música independente pós-pessoal do Ceará, na década de 1970. Assim como Dylan, que veio na década de 1960 de Duluth, Minnesota, trazendo a música folk para Nova Iorque, Eugênio trouxe para Fortaleza o Sertão do Jaguaribe e sua Limoeiro Norte com canções de melodias marcantes, inspirando o surgimento de gravações de outros artistas", relaciona Alemberg.
"O 'Além das Frentes' (1986), assim como 'Catavento' (1990) e 'Brasil de Dentro' (1996), que fazem parte do livro, abriram frentes no movimento cultural para mim. Surgiram à medida que eu avançava na vida cultural de Fortaleza, e suas produções foram bem parecidas, de forma coletiva, de mutirão, todos ajudando. Já integrava a turma dos novos da música e da literatura, cantando nos atos públicos, manifestações estudantis, pelos centros acadêmicos, numa Fortaleza fervilhante de luta contra a ditadura", recupera Eugênio.
"Nessa terra sem muita preocupação com a memória, pra mim foi uma felicidade ver o disco ser fisgado para esse presente, o que foi mesmo um presente, afirmando uma longevidade e firmando uma contemporaneidade quando interpretado por tantos renomes do universo dos quadrinhos. Tudo isso veio integrar a obra a outras artes, principalmente visuais, tão urgentes hoje, o que arrastou o disco, as canções, para diversos e distintos públicos", celebra o homenageado.
Eugênio acompanhou a agenda de lançamentos da obra em apresentações musicais e rodas de conversa. A publicação, disponível nas bibliotecas do Sesc para empréstimo, circulou por eventos como a Mostra Sesc Cariri de Culturas, a Bienal do Ceará e o Sana, provando o potencial do caráter agregador das linguagens.
Para o ano que vem, o projeto prevê o lançamento de publicação inspirada no disco "Avallon" (1987), do cratense Abidoral Jamacaru. A curadoria será de Raymundo Netto, cronista do Vida&Arte e gerente editorial e de projetos da Fundação Demócrito Rocha, que convidará oito quadrinistas para as adaptações. O lançamento deve ocorrer na edição de 2024 da Mostra Sesc HQ de Pacoti.
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Músicas adaptadas
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