A misteriosa morte de Ofélia Usher é a motivação para seu marido, Christian Floyd, retornar à residência que um dia dividiram para investigar o que causou a fatalidade.
Esta é a premissa base que o espetáculo "A Maldição da Casa Usher" usa para construir seus acontecimentos e melodias. A estreia de mini temporada da produção no Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno acontece nesta quinta-feira, 5, com outras duas exibições marcadas para os dias 6 e 13 de outubro.
Dramática, mas também bem-humorada e com um toque sobrenatural, ela é organizada e montada pela Travessia Coletiva, grupo teatral de estudantes do Instituto Federal do Ceará (IFCE). Um primeiro rascunho foi concebido em uma disciplina do curso de Teatro, inicialmente como uma esquete.
Bruna Machado e Vanessa Vidal — diretoras teatral e musical, respectivamente, do espetáculo — idealizaram o projeto inicial, que tinha um tempo curto de duração devido ao formato. Ele é inspirado no conto "A Queda da Casa de Usher" (1839), escrito por Edgar Allan Poe. Apesar das inspirações e detalhes, a história serviu apenas de base para o que elas desenvolveram.
Após a disciplina, as duas resolveram transformá-la em um espetáculo de longa duração, com cerca de uma hora, e escreveram um roteiro. Novos personagens foram criados, com nomes distintos da obra original, e as audições para o elenco começaram. Neste momento, o grupo Travessia Coletiva também nascia.
Os ensaios e o desenvolvimento das músicas foram, então, iniciados. Vanessa conta que um esboço de letra para uma canção já tinha sido pensado por um amigo de Bruna. "Peguei essa inspiração e reorganizei tudo. Mudei para caber dentro de uma melodia que criei e coloquei uma harmonia", explica.
"Foi um processo bastante demorado para cada música, porque ia e estudava tanto a questão técnica teórica, quanto pegava a referência de músicas. Por exemplo, a música que é um tango, ia lá e procurava vários tangos para me inspirar", detalha Vanessa.
A diretora musical afirma, ainda, que houve a preocupação da música parecer "a fala de um personagem, só que cantada". Ela justifica que alguns espetáculos tem um contraste grande entre as cenas faladas e as que são cantadas. "Parece que a história pausa para começar uma música e, na minha percepção, um bom musical pede ela dentro da cena. Ele não para a trama para começar a cantar", sustenta.
O cuidado de produção também está presente no trabalho de Bruna, diretora teatral e também atriz na peça. Quando o coletivo foi criado, ela fazia parte apenas da equipe de intérpretes, mas, como uma forma de dividir trabalho com Vanessa, assumiu o novo cargo.
Espetáculo mistura sobrenatural, drama e comédia em um mistério familiar
Ela aponta que ocupar as duas funções é difícil, pois para dirigir "precisa olhar a cena e para atuar precisa estar dentro dela". Contudo, ela ressalta que fazer parte do núcleo de atores também ajuda no trabalho como diretora.
Outra atenção por parte dela é trabalhar conjuntamente com os atores no pós-cena sobre os temas abordados na montagem. O espetáculo, apesar de possuir alívios cômicos, traz um enredo que aborda ciclos de violência e abuso, ambientados em uma sociedade patriarcal do século XVIII, além de trazer alerta para cuidados da saúde mental.
"Tentamos trabalhar técnicas de ações que façam com que o ator não leve tão para dentro de si o personagem", conta e exemplifica: "Uma personagem como Ofélia, que sofreu abusos, é muito pesada para atuar. Ela tem uma carga muito densa. Se você mergulha demais nela, acaba que algum momento deixa isso te afetar".
Os alívios também estão presentes durante a apresentação. A personagem de Bruna, uma empregada chamada Penélope, integra a parte cômica da montagem. Ela explica que além dos personagens caricatos, a escolha do musical também contribui para essa abordagem.
Parceiro de elenco e par romântico dela no espetáculo, o ator Edson Rôla corrobora a afirmação: "Ele tem várias pegadas de entretenimento musical, mas com esse certo drama". Ele interpreta o mordomo Augusto, que faz parte do núcleo mais caricato de empregados da mansão, responsáveis pela comicidade das cenas.
Ele define essa reta final de preparação para a apresentação como "uma correria", devido aos atores serem também responsáveis pelos outros setores da peça, como figurino e cenografia — e tudo com recursos próprios —, mas ressalta: “Estou muito ansioso, porque é sempre gostoso apresentar esses espetáculos".
Espetáculo "A Maldição da Casa Usher"