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Programação da Caixa Cultural volta a ganhar fôlego após período de baixa
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Programação da Caixa Cultural volta a ganhar fôlego após período de baixa

Após quatro anos de interrupção do programa de ocupação, Caixa Cultural Fortaleza volta a assumir papel importante como espaço difusor da cultura no Ceará
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Caixa Cultural Fortaleza foi inaugurada em 2012 e está localizada na Praia de Iracema (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo Caixa Cultural Fortaleza foi inaugurada em 2012 e está localizada na Praia de Iracema

Um prédio com mais de 11 anos de funcionamento certamente tem muito a contar, ainda que com relativa "pouca idade". São narrativas que atravessam as estruturas físicas e simbólicas de um edifício. Quando se trata de um equipamento cultural, as potencialidades se multiplicam a partir dos públicos que ele pode atingir.

No caso da Caixa Cultural Fortaleza, que já foi palco para nomes como Adriana Calcanhotto (2012), Débora Falabella (2016) e Arnaldo Antunes (2017), há muitos marcos a lembrar. Um, porém, é mais recente, e data de 15 de setembro de 2023, quando ocorreu a primeira de seis apresentações da banda Francisco El Hombre.

Os shows fizeram parte de um momento importante: a retomada oficial do Programa de Ocupação dos espaços da Caixa Cultural após quatro anos de interrupção. Com montante de R$ 30 milhões, o valor atende todas as sete unidades da instituição de setembro de 2023 a março de 2024. O movimento, então, concretiza o retorno efervescente da programação de um equipamento relevante para a arte no Ceará.

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A construção, instalada na Praia de Iracema, conta com cineteatro, galerias de arte, salão de ensaios, salas para oficinas de arte-educação, foyer, espaço para café cultural e livraria, além de ter jardim e locais para convivência e realização de eventos. Com o Programa de Ocupação, que seleciona a partir de edital projetos artísticos de segmentos como música, teatro, dança, artes visuais, cinema e vivências, a ela volta a se estabelecer firmemente no cenário de programações de Fortaleza e do Estado.

Em outubro, suas atividades passam por ações como a exposição "Olho de Peixe" e festival de contação de histórias. Quatro anos se passaram até a volta do Programa de Ocupação da Caixa. Inevitavelmente, há a menção ao período no qual Jair Messias Bolsonaro esteve como presidente da República, intervalo marcado pela redução no orçamento para espaços culturais por todo o País.

Agora, porém, o momento é outro - e Clara Marcília, gerente da Caixa Cultural Fortaleza, ressalta que o "olhar é para frente": "Estamos buscando essa força que o Governo Federal está colocando como carro-chefe, então vamos na vertente de que estamos aqui, pulsando e vivenciando a cultura como nunca antes foi feito".

Segundo a gerente, a intenção da unidade da Caixa na capital cearense é aproximar ainda mais o centro cultural das produções locais. O objetivo se manifesta na seleção de projetos que compõem a programação da sede em Fortaleza - houve o cuidado de escolher no mínimo uma iniciativa local, e a tendência é aumentar cada vez mais.

"A Caixa tem a perspectiva de intercâmbio cultural (com produções de outros estados), mas há também a meta da valorização regional. Nesta nova vertente, agora você verá uma Caixa Cultural muito mais regionalizada que no passado", afirma. Um exemplo desse cenário se encontra, por exemplo, neste domingo, 22, quando o poeta paraibano Jessier Quirino apresentará o espetáculo "Causos Nordestinos".

As atividades estão preenchendo com maior frequência as diferentes áreas da instituição, mas Clara Marcília ressalta que a unidade "nunca parou" - mesmo na pandemia. Ela cita a realização de atividades on-line, com oferecimento de projetos de arte e educação, durante o período de crise sanitária.

Certamente a pandemia se constituiu como um ponto de exclamação para o equipamento, mas vale dizer que ela não foi o único empecilho. Segundo a gerente, os desafios passam também pela infraestrutura e pela ocupação das áreas da unidade. "Estamos focando em ações que tragam famílias, crianças e outras pessoas para frequentar o nosso pátio externo, que é um espaço aberto e público", relata.

Assim, ela admite que o desafio do momento é "deixar o pátio externo mais vivo e mais frequentado pela população". Na Caixa, "são realizadas ações permanentes para manutenção do espaço físico", e a expectativa "é sempre trazer eventos e artistas que costumeiramente não estão no cenário comercial".

A fala se relaciona diretamente com o programa de ocupação. Um dado importante é que, das 25 propostas selecionadas em edital, mais de 30% "promovem a cultura local", pois foram enviadas "por artistas e produções do Ceará". A Caixa ainda afirma que "é condicionante para a realização do projeto que propostas de outros estados atuem com produções e profissionais locais" na execução das iniciativas.

A programação da Caixa é composta por ações do Programa Educativo Caixa Gente Arteira e por meio do processo de cessão de pauta, no qual a instituição firma parceria com produtores para ocuparem seus espaços. Soma-se a essas alternativas, claro, o Programa de Ocupação.

Um dos selecionados foi o cantor, compositor e violonista cearense Juruviara. Ele apresentará nos dias 3, 4 e 5 de novembro o projeto "Show PreAmar, Juruviara e Banda". Para o artista, este é "um momento importante" de sua carreira, porque "o palco da Caixa é consagrado".

"Vários artistas e ídolos meus já se apresentaram nesse palco. Estou lisonjeado em poder compartilhar esse palco na minha cidade, recebendo o público da minha cidade e as pessoas que admiram o meu trabalho e torcem por mim", relata.

Juruviara também defende a importância do retorno da Caixa Cultural pelo impacto na cena cearense: "Ela é um vetor de difusão de novos trabalhos, sejam eles de pequeno, médio ou de grande porte, de artistas locais ou de fora. Ela apoia lançamentos de disco e novos projetos, então acho que esse retorno é bem contudente".

Ele acrescenta: "É algo que vai trazer bons frutos em termos de inspiração para outros artistas, fazendo intercâmbio com os artistas locais e uma integração com a música autoral de Fortaleza. É justo o apoio financeiro para os artistas daqui".

Por falar em música autoral, vale citar uma artista cearense que esteve sob os holofotes da programação no início de setembro. A cantora Beatriz Bandeira homenageou Marisa Monte e também interpretou músicas próprias. Ela apresentou a proposta para a Caixa Cultural Fortaleza, que, em resposta, "teve um enorme carinho pela sugestão" e cedeu uma sessão de espaço para o show independente.

Ao lembrar de sua apresentação, aponta que o "equipamento está muito interessante" e foi possível esgotar os ingressos do show. Essa foi a sua primeira passagem solo pelo palco da Caixa Cultural Fortaleza, e se sentiu "muito lisonjeada por participar desse momento". Beatriz destaca o "acolhimento" recebido.

"Às vezes, é muito difícil encontrar um lugar em Fortaleza que acolha e curta seu projeto sendo alguém daqui. Tem vezes que você precisa de um orçamento maior e uma banda grande, foi um desafio, mas tive esse foi muito importante", compartilha a cantora.

Qual a relevância, assim, dessa nova consolidação do espaço na Capital? "Após o período difícil da pandemia e a retomada da programação da Caixa, a gente vai ter novamente esse equipamento que é aliado da Cultura no Ceará. Espero poder voltar com outros projetos, talvez com mais músicas autorais, e quero ver mais shows do pessoal daqui, desde a galera mais jovem à mais madura", enfatiza.

A aproximação do equipamento também ocorre com outras linguagens, para além da música. Nos domingos de outubro, está sendo realizada a primeira edição do Festival Caixa Contação de Histórias. O grupo K'Os Coletivo foi convidado para conduzir as atividades, com repertório de histórias lúdicas e musicais para o público.

Fundador do grupo, o ator Aldrey Rocha destaca o histórico de ações realizadas pelo K'Os no equipamento, como visitas guiadas animadas e musicais pelos espaços da Caixa. Para ele, participar da programação de retorno "é uma experiência muito positiva para qualquer artista".

A partir das oportunidades oferecidas, ele analisa que é estabelecido um "compromisso maior com a classe artística", pois ela fica mais próxima de uma democratização. "Quanto mais equipamentos culturais funcionarem a todo vapor, melhor para a classe artística e, principalmente, para a população", opina.

Aldrey Rocha acrescenta: "É muito importante nosso estado ter um equipamento tão amplo e tão diversificado como a Caixa Cultural Fortaleza, pois, além de realizar uma programação mensal que passa pelas Artes Visuais, Artes Cênicas, Cultura Popular, Música, Dança, entre outras atividades como a formação, cria-se um retorno imediato para o público que pode usufruir de obras e/ou trabalhos artísticos dos mais variados lugares".

Programa de Ocupação

25 propostas foram selecionadas em Música, Teatro, Dança, Artes Visuais, Cinema e Vivências

Já realizados: Francisco el Hombre (entre 15 e 23 de setembro), Seminário Quadrinhos Impossíveis (28 de setembro a 1º de outubro) e Ceumar (13 e
14 de outubro)

Em andamento: Exposição Olho de Peixe (até 19 de novembro) e 5ª Feira do Cordel Brasileiro (até 21 de outubro)

A serem realizados: Festival Literário Histórias da Floresta (24 a 29 de outubro) e Exposição Cidadela

Caixa Cultural Fortaleza

Visitação e bilheteria: terça-feira a sábado, das 10 às 20 horas; domingos e feriados, das 10 às 19 horas

Onde: avenida Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema

Contatos: @caixaculturalfortaleza no Instagram e
(85) 3453-2770

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