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Projeto pioneiro no Ceará, museu mapeia personalidades LGBTQIA+ do Cariri
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Projeto pioneiro no Ceará, museu mapeia personalidades LGBTQIA+ do Cariri

Inaugurado virtualmente em março, Museu da Memória e Diversidade Sexual do Cariri propõe a preservação da história LGBTQIA+ na região
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Museu da Memória e Diversidade Sexual do Cariri aceita registros de pessoas LGBTQIA+ da região (Foto: Arquivo/Museu da Memória e Diversidade Sexual do Cariri)
Foto: Arquivo/Museu da Memória e Diversidade Sexual do Cariri Museu da Memória e Diversidade Sexual do Cariri aceita registros de pessoas LGBTQIA+ da região

Instituição pioneira no Ceará, o Museu da Memória e Diversidade Sexual do Cariri (MMD Cariri) foi fundado em 31 de março de 2023. A ideia nasceu a partir dos movimentos sociais LGBTQIA+ e é destinada à “memória, arte, cultura, acolhimento, valorização da vida, agenciamento e desenvolvimento de pesquisas" da comunidade. No momento, o projeto está estabelecido nas redes sociais e realiza trabalho de catalogação de acervo que reúne múltiplos recortes das personalidades LGBTQIA+ da região.

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Uma delas representa a história de um senhor de 60 anos que doou imagens ao lado do namorado de juventude, fotografadas há mais de quatro décadas. Quando entregou as fotografias para o professor Gilney Matos, um dos fundadores do MMD, ele revelou que imaginaria que os retratos ficariam para sempre "guardados a sete chaves" e expressou a surpresa por compartilhá-los, agora, com os futuros usuários da fundação. Singularidades como a deste depoimento são refletidas durante todo o processo de aquisição de Gilney, que também é analista em Gestão Educacional e vice-presidente da Associação Cearense de Diversidade e Inclusão.

Motivado pela paixão por história, ele conta que coleciona há anos relatos e ilustrações de figuras diversas do Cariri. Um exemplo que ficou marcado foi um garimpo feito num sebo, onde recebeu a primeira revista do promotor de eventos, radialista e decorador Jonathan Kiss, ícone do movimento na região que foi brutalmente assassinado nos anos 2000.

"Desde os anos 1980 ele trabalhava com revistas de moda. Nessas minhas andanças, o dono do sebo falou que estava há mais de 20 anos com uma delas e ninguém se interessou por essa temática. Ele falou: 'Eu sabia que alguém ia vir e eu iria presentear'", relembra. O momento "abriu portas" para o professor, que logo levou o material para a Universidade Federal do Cariri (UFCA) e recebeu o apoio de demais docentes acerca daquela "raridade histórica".

O que começou de maneira despretensiosa com um acervo pessoal logo ganhou força como organização museológica com apoio de entidades do Ceará, São Paulo e Espírito Santo que ofereceram suporte técnico e formativo. Os itens foram ganhando volume a partir da adição de objetos como notícias de jornais, livros, estudos, fotografias e outros.

"Comecei a receber muito material de pessoas. Cartões postais, livros...", elenca. O recebimento de artigos trouxe à tona histórias que, por vezes, ficaram esquecidas. "As pessoas me falavam: 'você sabia que teve um Miss Gay em Brejo Santo em 1989 e eu representei Juazeiro do Norte? Outras pessoas já desfilavam no Carnaval de 1960'. Tem essa questão do apagamento, nossos corpos só seriam noticiados como casos de morte, nunca abrindo o Carnaval de uma cidade como Juazeiro do Norte", afirma.

Para além das descobertas, existem também os desafios de reconstruir uma nova narrativa tendo em consideração que as memórias sexuais foram historicamente reprimidas. Gilney descreve duas ocorrências, por exemplo, de familiares que só tiveram conhecimento das vivências LGBTQIA+ de parentes em homenagens póstumas.

"Nós estamos numa região na qual o índice de violência de gênero é imenso, o Cariri é marcado por morte de mulheres e também por morte das pessoas LGBTQIA+. Nós vivemos num celeiro cultural, mas infelizmente um celeiro ainda muito conservador e estamos quebrando esses paradigmas, temos um movimento forte muito organizado na região".

Por isso, ele considera a fundação do Museu da Memória e Diversidade Sexual do Cariri essencial para a preservação de nomes como das travestis Camila Montenegro e Monica Arraes, personalidades históricas da região que "deram a cara à tapa"; da Bixa Muda, figura pública que "não tem como passar despercebida"; e de tantas outras personalidades LGBTQIA+ que compõem a história do Cariri.

"Para mim é uma responsabilidade receber o legado de tantas pessoas que contribuíram, direta ou indiretamente, com o movimento. É meu dever como arquivador e pesquisador manter vivo esse legado, mostrar para as próximas gerações o quanto a cultura LGBTQIA+ esteve presente na fundação do Cariri, no interior do Estado, na redemocratização. É muito interessante pensar pelo viés que a gente está construindo um quebra cabeça histórico".

MMD Cariri

No momento, o Museu da Memória e Diversidade Sexual do Cariri atua apenas de maneira virtual e solicita doações para a construção do acervo sobre pessoas LGBTQIA+ na região. Interessados podem entrar em contato por meio das redes sociais. A organização também está em articulação para desenvolver futuras exposições e angariar fundos para uma sede física.

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