Logo O POVO+
Teresa Cristina revisita 25 anos de samba em entrevista exclusiva
Vida & Arte

Teresa Cristina revisita 25 anos de samba em entrevista exclusiva

Comemorando 25 anos de carreira na música, a cantora Teresa Cristina avaliou sua trajetória no samba e refletiu sobre sua história em conversa exclusiva ao Vida&Arte
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Cantora Teresa Cristina avalia os 25 anos de carreira no samba (Foto: Larissa Lopes/Divulgação)
Foto: Larissa Lopes/Divulgação Cantora Teresa Cristina avalia os 25 anos de carreira no samba

São 25 anos de uma carreira musical sólida. Uma geração completa marcada por posicionamento crítico, aproximação com o público e, não menos importante, sucessos que conquistaram e influenciaram um público de todos os gêneros, idades diversas e de todas as partes do Brasil.

Dona da voz de "Candeeiro", "Nem ouro, nem prata", "A Borboleta e o Passarinho" e outras canções do samba nacional, Teresa Cristina se mantém como referência na música brasileira e é considerada uma das damas do estilo musical.

Seguindo no percurso para completar três décadas de história no samba, a cantora e compositora celebrou, no dia 11 de novembro deste ano, os 25 anos de atividades artísticas com show especial no Circo Voador, consagrada casa de shows no Rio de Janeiro.

Reconhecida nacionalmente, a artista carioca conversou com o Vida&Arte sobre o momento atual da carreira, além de relembrar sua trajetória e fazer um retrospecto de seus 25 anos na música. Confira.

O POVO - Como você avalia a sua carreira ao longo desses 25 anos?
Teresa - Eu acho que o balanço é positivo. Eu tenho me observado e percebo como a minha relação com o palco, os músicos e as interpretações melhoraram muito. Me sinto muito feliz com isso e espero continuar crescendo.

O POVO - Você, lá no início da carreira na música, se imaginou chegar aonde chegou? Houve algum momento durante essas quase três décadas que você chegou a repensar seus caminhos junto à arte ou que acredita que poderia ter feito diferente?
Teresa - Em muitos momentos eu repensei a minha carreira. Nunca pensei em desistir, confesso, mas já me vi desanimada, invisibilizada, a falta de apoio financeiro para viagens, patrocínio, tudo isso é uma tecla que eu bato bastante porque não é algo que acontece só comigo, mas também com outras cantoras com o mesmo perfil que eu. Mas olhando para trás, assim, eu se tivesse que começar hoje a minha carreira eu faria exatamente tudo o que eu fiz até hoje. Não me arrependo de nada não.

O POVO - O seu primeiro disco teve colaboração de Paulinho da Viola, ícone do samba e que você o tem como inspiração, certo? Assim como o músico foi sua referência nos anos iniciais da carreira, acredito que muitos novos artistas a tem como inspiração. Você se vê nessa posição de referência não apenas no samba, mas também na música brasileira?
Teresa - Bom, eu tive sorte, né? Eu tive o privilégio de contar com a presença do Paulinho num disco que o homenageava. Então, eu tenho encontrado com muitas mulheres em vários lugares do Brasil, por onde eu vou fazer show, e eu tenho percebido que o meu discurso, que a minha atitude, que vários pronunciamentos meus influenciam outras mulheres e isso é muito importante, não somente para mim, eu acho que para mulher sambista, sabe? Então, nesse ponto eu acho que é importante eu continuar fazendo o que eu faço com o mesmo afinco, com algum mesmo carinho, com a mesma empatia com relação a outras mulheres na mesma situação que eu. Então, nesse ponto eu sinto que eu posso colaborar com essas mulheres… Incentivando, dando força e ajudando essas mulheres a continuarem a carregar a bandeira do Samba de alguma forma.

O POVO - E que tipo de dicas ou sugestões, tanto no âmbito profissional e artístico, mas também no pessoal, que você dá para essa nova geração de músicos?
Teresa - Às vezes é meio complicado, né? A gente dá dica ou sugestão porque cada pessoa funciona de uma maneira diferente. Cada artista pensa de uma maneira. Cada artista tem o seu ponto de convergência. Talvez o melhor conselho seja seguir a sua própria raiz, a sua própria intuição, né? Seguir o seu interior, seguir a sua a sua própria interpretação do que você considera a arte. Eu acho que a gente tem que ser verdadeira com a gente, com repertório que a gente escolhe, com o repertório que a gente compõe e que a gente constrói. E ser coerente com a gente. Também temos que olhar também para nós com carinho, sabe? Porque às vezes as coisas não saem como a gente planejou e a gente se culpa muito achando às vezes que o defeito tá na gente… E às vezes não é isso.

Leia no O POVO + | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

O POVO - No último mês você fez um show comemorativo no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Como foi celebrar a sua trajetória em um lugar histórico para a música nacional, como o Circo, e ser festejada por diversas pessoas por sua vida e obra?
Teresa - Foi muito importante, foi muito importante comemorar os 25 anos no Circo Voador. O Circo é uma casa que é uma referência da música no Rio de Janeiro por tudo… Referência política, referência artística, experimental. Enfim…. O Circo lançou vários artistas. E ajudou vários artistas, né? E celebrou muitos artistas. Então, eu acho que não tem nenhum lugar melhor para comemorar esses 25 anos de carreira do que o Circo Voador.

O POVO - Você possui alguns álbuns em que homenageia outros artistas, como Cartola e Roberto Carlos. De que forma a arte feita por esses músicos influenciou em suas decisões e desafios na carreira?
Teresa - Eu gosto muito da ideia de mergulhar na obra de um compositor, isso desde o início, né? Meu primeiro álbum foi homenagem ao Paulinho da Viola, eu já fiz show homenageando o Candeia, gravei álbuns homenageando o Cartola, homenageando Noel Rosa, Zé Keti…Todos esses nomes que eu falei são são compositores que eu ouço e que que de alguma forma influenciam a minha música ou a minha maneira de olhar a música, né? No caso do Roberto é um um artista, né, as músicas do Roberto e do Erasmo embalaram a minha infância inteira. Então eu tenho muito interesse em ter um bom portfólio musical, sabe e ao mesmo tempo também criar esse catálogo. Lembrando a obra dos compositores, trazendo à tona canções que já foram gravadas a muito tempo e que as pessoas talvez não lembrem, ou da composição ou do próprio artista, isso me interessa muito.

Leia no O POVO+ | Apelidada de "Rainha das lives", Teresa Cristina viu seu público crescer durante a pandemia convidando amigos para lives cheias de bom humor, música e conversa boa 

O POVO - E atualmente, quem te influencia? Quais são as suas referências e fonte de inspiração? Seja na arte, na música e na vida.
Teresa - Eu tenho muitas influências, né? Eu gosto de muita coisa e muita coisa às vezes diferente entre si, assim, minha principal referência quando eu comecei a cantar foi Clementina de Jesus, Candeia, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Paulinho da Viola…E outras vozes também. Sempre ouvi muito Nana Caymmi. Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee, eu ouvi muita música norte-americana. Gosto muito de literatura, gosto da obra do Saramago, que me ajudou a compor no início da carreira. E eu tenho pessoas que eu admiro, brasileiros que eu admiro e que que não são exatamente da arte, sabe. Por exemplo, Silvio Almeida (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil), o Silvio para mim é uma pessoa importantíssima para o Brasil. Para esse país que eu acredito, esse Brasil que eu aplaudo de pé. São muitos nomes, são muitas pessoas… Ariano Suassuna, Luiz Gonzaga, meu Deus é muita gente (risos).

O que você achou desse conteúdo?